segunda-feira, 27 de maio de 2013

Bom dia

Não tenho roupa pra amanhã, eu nem tirei a maquiagem. Eu disse que ia dormir em casa, eu dormi sem querer só pra ficar com você.
Eu não sei cozinhar direito, nem laranja eu sei descascar em menos de dez minutos.
Eu não falo inglês como gostaria e tomo chá industrializado.
Eu preciso trabalhar amanhã cedo, eu não quero interromper seu sono.
Eu só quero que você durma bem e sorria pra mim quando acordar;
Eu podia ter levantado, colocado despertador, eu podia ter dormido menos.
Mas eu dormi por querer só pra ficar com você.

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Semana

Eu tava caminhando na praia outro dia, fazia tanto tempo que eu não tinha tempo pra mim, sabe. Os amigos chamaram e eu fui. Sábado e domingo só, mas fez uma baita diferença. No domingo levantei cedo, fui caminhar na orla. Bem cedinho mesmo. Andei tanto que depois sentei pra ver os primeiros raios alaranjados do Sol, dançando como odaliscas encantadas e seus lenços, pintando com mãos habilidosas um dos quadros mais belos de composição da Mãe Natureza: o amanhecer.
Lembro-me exatamente do que pensei nesse dia. Pensei se um dia ia existir alguma coisa entre nós. E lembro-me de ter me espantado por pensar isso. Eu via você na multidão, você me sorria com os olhos e todas as vezes, depois desses encontros passava o dia pensando em você.
Caú, eu lembro de ter pensado em você como você tava naquele dia em que conversamos tanto. Você é uma menina linda, Caú e eu só queria entender porque o mundo fica mais colorido quando você está perto.
Esses dias de céu tão azul, pensei em passar na sua casa, pra gente dar uma volta no parque, comer alguma coisa em algum lugar. Qualquer coisa, Caú, porque eu queria te ver. Queria mesmo. Queria encontrar com você na rua, andando de fone de ouvido, cantarolando quase muda as suas canções preferidas, assim como eu te vi outro dia, mas não deu tempo, Caú. Eu tava correndo. Aliás, eu tô sempre correndo.
Mas você seria meu freio. Eu tenho vontade de viver a vida com mais calma quando eu penso em você. Tenho vontade de tomar meu café de manhã bem devagar, enquanto eu seguro sua mãozinha gelada pra aquecer. Eu sei que você tem as mãos geladas, outro dia você tava assoprando elas sem parar, sorriu e me disse brincando "Mão fria, coração quente".
Eu esquento suas mãos, Caú. Esquento teus pés, teu corpo, teu coração. Faço da tua vida um verão pra sempre, se você quiser. Mas se você gosta tanto de inverno assim, a gente pode viver esse inverno juntos e nada vai ser tão frio que eu não possa aquecer. No inverno, na primavera, outono, verão e nesse misto de estações que estamos vivendo.
Deixa eu entrar na sua vida, Caú. Deixa eu fazer parte dela. Deixa eu cuidar de você no domingo, te levar pra trabalhar na segunda, almoçar com você na terça, te mandar flores na quarta, levar você pra faculdade na quinta, dormir com você na sexta, cozinhar pra você no sábado e te amar todos os dias da semana, de segunda a segunda, até o fim de todos os meses e anos...

domingo, 12 de maio de 2013

Heresia

Surgiu a segunda-feira fria, eu tinha rezado um dia antes pra minha Santa Inês me proteger desse sentimento. Saí de casa respirando aquele ar frio. Tudo daria certo. Das colinas vastíssimas ao sol que surgia em tons alaranjados. Livra-me, Santa Inês, eu tenho medo desse coração que bate aqui. Então, entre as verdes folhagens eu o avistei. E meu coração se cortou em navalhas do frio e da incompreensão. Por que, Santa Inês? Por que, tu?
Fugi da minha heresia, passei rapidamente por ti, não me viste, nem me notaste e eu sumi entre os pomares do inverno.
Nunca pude olhar muito tempo nos olhos teus e não consigo conversar contigo fitando-te profundamente nos olhos. Eu tenho medo de gostar demais de olhar pra eles, de me perder na floresta verde que eles me sugerem e não querer nunca mais sai de lá.
Eu fugi de ti, tantas vezes eu fugi de ti.  Torturava-me ao furtar-me da tua companhia, porque tinha medo que olhos meus me denunciassem, de que tu percebeste, nos mínimos detalhes, no silêncio que as vezes se fazia entre nós, o bater descompassado do meu coração amedrontado.
É uma heresia, minha Santa Inês! Segura meu coração Contigo, não posso desejá-lo! Valei-me, Nosso Senhor! Eu não posso, Deus! Não é certo, eu pensava. E quando juntava as mãos em oração, via-te, sorrindo, aspirando em largos haustos o frio desses dias, no sorriso convidativo de esperança de dias porvindouros.
Eu procurava no teu olhar uma condenação, uma denuncia tua, um não qualquer. Mas nada. Então eu balançava a cabeça afastando estes pensamentos todos, valei-me Santa Inês! Que minha alma seja forte como eu tento ser!
Da última vez, me abraçaste de um jeito e eu tentei fugir dos teus braços. Porque eu queria ficar ali, queria voltar e pedir "abraça-me de novo", tantas vezes quanto necessárias. E afasta todos esses medos daqui. Mas eu não podia, eu não posso. E fugi dos teus braços como o diabo foge da cruz, porque lá no fundo, com essa fuga toda, ele só quer a redenção do amor do Cristo.
E todas essas suposições que me assolam ao dormir, quando rezo tanto, acordo pensando em ti. És a primeira face que pinta na minha mente quando mal abri os olhos. E te vi sorrindo mais uma vez pra mim.
Minha Santa Inês, apenas aguardo o Tribunal do Santo Ofício, trazendo minha condenação.
"Herege, herege!" eles me dirão. E eu fugiria mais uma vez se conseguisse, mas já não posso, reconheço meus pecados. Abro meu coração ao Nosso Senhor, que Ele me perdoe cem vezes por esses pensamentos. Herege, sim. Esta sou eu. Herege por ti, condenada pela Inquisição das circunstâncias, queimando na fogueira desse amor.