Ela saiu daquele lugar sozinha, sem ao menos se importar se sua roupa chamaria atenção demais áquela hora na rua. Andava contra o vento, com a última garrafa de cerveja na mão. Não sabia onde estava indo, mas o destino sabia para onde levá-la.
Ele, em contrapartida, tinha saído de casa pra comprar alguma coisa pra comer. Tinha acabado de chegar do trabalho, estava exausto e não tinha nada na geladeira.
Quando seus olhos a viram ele imediatamente parou o carro.
- Lola!
Ela parou e com o olhar baixo, tentou identificar quem era.
- Lola, vem aqui.
Ela aproximou-se do carro.
- O que você tá fazendo a essa hora sozinha na rua?
- Não sei...
- Entra aí, eu te levo pra casa.
- Não quero ir pra casa. - e saiu andando.
- Lola! Vem cá!
Ela parou e olhou de novo.
- Vamos dar uma volta então.
Ela continuava olhando pra ele. Ele desceu do carro. Pegou uma blusa no porta-malas , chegou perto dela, cobriu suas costas e seus ombros, e levou-a até o carro. Ela apenas seguiu os movimentos dele.
Ele deu partida no carro sem questionar muito. O cheiro de cerveja já explicava muita coisa.
- Tá com fome?
- Acho que sim.
- Vamos comer alguma coisa?
- Mas eu não quero descer em lugar nenhum.
- Tudo bem.
Ele passou numa padaria, pediu pra ela esperar no carro. Quando ele voltou, ela dormia. Ele sorriu sem perceber. Ela era mesmo muito linda.
Levou-a para seu apartamento.
Acordou-a chegando lá.
- Vem, Lola.
- Onde eu tô?
- Na minha casa, vem.
- Tá.
Ela desceu abraçada nele. Apesar do cheiro de cerveja o perfume dela era estonteante.
Subiram e ele sorriu.
- Vem comer.
- Tá bom.
Sentaram. Estavam comendo quando ela disse.
- Tá passando...
- O que?
- Minha bebedeira.
- Ah é? - ele riu.
- É...
Pausa.
- Que bom que você me achou, nem sabia pra onde eu estava indo.
- Você é doida de sair sozinha na rua desse jeito.
- Você é lindo.
Ele corou.
- Não, não estou dizendo isso porque estou bêbada. Você é lindo mesmo.
- Você é linda. Até com essa cara de ressaca.
- Daqui a pouco vai amanhecer, preciso ir embora.
- Você disse que não queria ir pra casa.
Ele ficou quieta. Terminou de comer, levantou-se e encolheu-se no sofá dele. Ele foi atrás e sentou-se ao lado dela.
- Que foi?
Ela não disse, só se aconchegou do lado dele e chorou baixinho.
Ele não falou, apenas abraçou-a, aconchegando-a ainda mais, enquanto passava a mão pelos cabelos dela.
- Independente do que esteja acontecendo com você, vai ficar tudo bem, tá? Se você quiser conversar, pode se abrir comigo.
- Eu não sabia pra onde eu estava indo, mas agora, com você perto de mim desse jeito, eu tô começando a achar que foi um anjo que me guiou até você e você até mim.
Ele abraçou-a, beijou os cabelos dela.
- Acho que foi Deus mesmo. - ele disse.
Ela dormiu no colo dele. Mas ele não conseguia dormir. Uma estranha força não o deixava tirar os olhos dela. E mesmo com a maquiagem borrada e o cheiro de cerveja, a cada minuto ela parecia ficar mais bonita, e as cores nela pareciam estar mais vivas. Ela era mesmo muito linda.
Algo crescia dentro dele e foi tomado de uma profunda paz. Fechou os olhos e adormeceu. O sono mais tranquilo de sua vida. Nada poderia romper aquele instante. O instante onde o amor nascia. no sábado, às 5h38.
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