- Você deve ter demorado por causa da maquiagem.
Ela riu gostosamente e sentou-se.
- Você que pensa, eu sou expert já, não demoro mais que vinte minutos.
- Ah, demora sim, eu já fui prova disso.
Ela corou.
- Naquela época eu não era tão expert assim.
Ele sorriu.
- Você está bem disposto.
- Você também.
- É desespero.
- Eu também.
Riram.
- Você vai beber o que?
- Suco de maçã com limão.
- Isso fica bom?
- Fica sim. Deixo você experimentar o meu se quiser.
Então vieram dois sucos e longo papo.
- Você sabe, eu me sinto tão sem saída. Essa história de amor... não sei não...
- Como assim?
- Não sei se essa história de amor é pra mim, sabe. Eu cansei de tropeçar em falso, colocar expectativas, chorar até os olhos doerem, ter vontade de arrancar o coração do peito, só pra ver se passa...
Ele abaixou os olhos.
- Nunca vi você falando assim.
- Nem eu, mas não sei, é como tudo aquilo que eu te disse antes.
- E agora?
- Agora o que?
- O que você sente em relação a mim?
- Fiquei imaginando o que eu iria responder se você fizesse essa pergunta.- suspirou.
- Pode falar.
- Não é fácil, mas eu vou tentar. - ela olhou bem pra ele, esboçou uma tentativa de sorriso pra quebrar a expectativa e começou - Quando eu penso em você é como se eu estivesse perdida numa floresta escura, triste e não conseguisse mais achar a saída.
- Nossa. - disse ele espantado.
- Calma, não terminei. - ela sorriu rapidamente e retomou - Então, é como se eu estivesse lá há tanto tempo que já estivesse conformada. Não há saída pra mim, eu já perdi as esperanças de sair de lá. Mas quando eu penso em você, é como se lá no fundo de floresta, do nada, surgisse um pontinho de luz. Um pontinho bem pequeno, mas quer dizer que ali talvez haja uma saída e por alguns instantes eu sou tomada de uma esperança que não saberia dizer. Uma alegria muito sincera toma conta do meu coração. É como se essa luz pequenina acendesse dentro de mim, me mostrando o caminho. O que é aquele pontinho de luz no final da floresta? Eu não sei. Pode ser uma armadilha? Pode. Pode ser uma coisa ruim? Pode também. Mas é como se por instantes, nem tudo estivesse perdido...
Ele abaixou o olhar, procurando conter a emoção.
- Eu gosto de ouvir a maneira como você fala. Você vê coisas minhas que eu sempre achei que não existissem, mas se você vê, talvez elas existam mesmo.
- Elas existem sim. - e sorriu delicadamente.
Ele estendeu a mão para ela. Ela tinha as mãos muito macias. Ficaram ali, cultivando o silêncio, a serenidade, a cumplicidade de um sentimento mágico que os unia. Então, bem lá no fundo, parecia mesmo existir uma pequena luz.
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