Ardia porque ele próprio havia se esfolado da maneira mais dolorosa que poderia existir. Estava tudo perfeito, tudo maravilhoso, mas ele foi tolo e não percebeu que a mulher que o amava chorava um dia sim, um dia não.
Chorava porque não sentia mais a dedicação dele, a paixão e a saudade. Chorava porque ele se distanciava dia após dia, e ela lutava sozinha por aquele amor que ele havia feito fracassar.
Num dia, julgando-se muito dono do próprio nariz e senhor de seus sentimentos, decidiu quebrar ainda mais o coração da pobre moça, terminando tudo o que haviam construído.
Falta de aviso não foi. Ela mesma disse que um dia ele teria o véu tirado de seus olhos e então poderia ver tudo com mais verdade.
E apesar da visão turva causada pela vodka, ele enxergava o seu erro mais fatídico se voltar contra ele. Estava loucamente apaixonado por ela. Ele a amava.
Mas agora de que adiantava?
Por que ele não a amou quando ela estava ao lado dele? Quando ela estava ali, dedicada, lutando por aquele amor, levando nas costas tudo que sentia, alimentando sozinha as suas esperanças tão desnutridas de qualquer palavra mais doce? Por que ele não soube enxergar o amor quando este estava tão certo em sua vida?
Ele estragou tudo não sabendo enxergar o que realmente importava.
Não! Agora ele não queria ninguém que pisasse nele, ninguém que o colocasse para baixo! Ele queria a reciprocidade que só ela soube lhe oferecer... Ah, a reciprocidade era algo tão perfeito. Mas agora era tarde...
Mas e se ela o quisesse?
Então levantou-se. Deixou 50 reais na mesa e foi tentar sair do bar. Inútil. Suas pernas não respondiam. Ele insistiu e caminhou até a casa dela.
Chegando lá, tocou a campainha, ela atendeu.
- Ah Meu Deus!
Ele tinha os olhos cheios de lágrimas e estava visivelmente embriagado.
- Entra vai...
- Eu só queria dizer que..
- Não fala nada, entra logo.
Ele entrou, ela ligou o chuveiro e com a expressão tensa disse a ele.
- Não precisa tirar a roupa toda.
Mas ele mal conseguia tirar a camiseta. Ela o despiu e ele tentou abraçá-la.
- Olha, Vitor. É melhor você para tá bom, entra logo nesse chuveiro antes que perca a paciência.
- Você parece minha mãe falando assim, para com isso, amor, venha aqui.
Ela segurou-o firmemente e colocou-o debaixo do chuveiro. Ele insistiu em agarrá-la.
- Para Vitor! - ela gritou - Para tá? Já me sinto uma idiota ajudando você, mas nesse estado você não chega em casa e eu não quero você dormindo na rua! Mas para! Chega!
Vitor começou a chorar. A água fria do chuveiro se misturava com as lágrimas quentes dele. Chorava copiosamente. A bondade e a preocupação dela o comoviam.
- Eu não mereço você! - ele dizia entre lágrimas.
Ela não respondeu. Ajudou-o a se enxugar, deu a ele uma bermuda folgada e colocou-o para deitar, mas ele ainda chorava.
- Vitor, para de chorar, tá bom? Já passou. Hoje você dorme aqui, amanhã você vai pra casa.
- Nádia, eu amo você.
- Tá bom, Vitor. Agora, dorme.
- Nádia, deita aqui comigo.
- Não Vitor.
- Por favor Nádia! Como quando nos conhecemos... Eu prometo que não vou fazer nada.
Aquelas palavras tocaram Nádia. Ele realmente estava arrependido.
Nádia deitou-se do lado dele. Ele chorava baixinho, como uma criança que precisa do colo da mãe.
- Vai ficar tudo bem Vitor.- disse ela alisando os cabelos dele.
Logo ele dormiu e ela também. E assim passaram a noite, não aconteceu nada, como da primeira vez....