segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

A atriz

Eles eram todos bajuladores. Mas que importava todos eles? Diziam sempre as mesmas coisas, com o mesmo afeto forjado, sempre com o olhar, pedindo-me alguma coisa que só o que é material pode comprar.
No começo eu me irritava, mas logo pensei " Amélia, são todos bajuladores, você vai querer matá-los e vai matar seu orgulho."
Pois é, eu precisava deles. Precisava deles, meu orgulho precisava deles. E sei que sem eles os fins de meus espetáculos seriam infinitamente sozinhos. Porque nós, meu caro, nós somos todos sozinhos. Esse mundo boêmio da arte, dos teatros, da música, dos amigos, isso é tudo uma grande balela. Quando você está enfermo apenas a sua mãe vai lhe visitar. Os poucos que se atrevem a cruzar sua soleira lhe oferecem um cigarro.
Eu olho para a Elise, ela é tão centrada. Queria ser como ela. Mas a minha família ama infinitamente mais aquela que lhes dá orgulho juvenil e tolo, que lhes traz champagnes caros e ri escancaradamente. Aquela que faz as vizinhas da minha mãe e de minhas tias se trincarem de inveja, porque é rica e famosa. Mas mesmo assim é uma meretriz, eles dizem aos cantos. Mas quando chego, é só festa.
Bajuladores, Amélia. Eu digo pra mim mesma todas as vezes.
É porque eles acham mesmo que atrás da fama há muita felicidade. Pois eu vos digo meus bons vivants, não somos felizes fora do palco. Os personagens, estes sim são felizes. Julieta, Isolda, Capitu, Luísa. Sim, no corpo deles, com suas falas, trajando suas almas, sou feliz. Mas quando os aplausos cessam, a luz apaga, a felicidade pára. E compreende que o lugar dela não é em meu coração.
Eu vos direi mais uma vez, bajuladores, a atriz não era feliz.

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