quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Como a primeira vez...

Ele estava sentado com o copo cheio de vodka sem nada que desse sabor a ela. Era vodka pura, descia goela abaixo e nem queimava mais. Não que ele fosse alcoolatra, mas o que mais ardia era seu coração.
Ardia porque ele próprio havia se esfolado da maneira mais dolorosa que poderia existir. Estava tudo perfeito, tudo maravilhoso, mas ele foi tolo e não percebeu que a mulher que o amava chorava um dia sim, um dia não.
Chorava porque não sentia mais a dedicação dele, a paixão e a saudade. Chorava porque ele se distanciava dia após dia, e ela lutava sozinha por aquele amor que ele havia feito fracassar.
Num dia, julgando-se muito dono do próprio nariz e senhor de seus sentimentos, decidiu quebrar ainda mais o coração da pobre moça, terminando tudo o que haviam construído.
Falta de aviso não foi. Ela mesma disse que um dia ele teria o véu tirado de seus olhos e então poderia ver tudo com mais verdade.
E apesar da visão turva causada pela vodka, ele enxergava o seu erro mais fatídico se voltar contra ele. Estava loucamente apaixonado por ela. Ele a amava.
Mas agora de que adiantava?
Por que ele não a amou quando ela estava ao lado dele? Quando ela estava ali, dedicada, lutando por aquele amor, levando nas costas tudo que sentia, alimentando sozinha as suas esperanças tão desnutridas de qualquer palavra mais doce? Por que ele não soube enxergar o amor quando este estava tão certo em sua vida?
Ele estragou tudo não sabendo enxergar o que realmente importava.
Não! Agora ele não queria ninguém que pisasse nele, ninguém que o colocasse para baixo! Ele queria a reciprocidade que só ela soube lhe oferecer... Ah, a reciprocidade era algo tão perfeito. Mas agora era tarde...
Mas e se ela o quisesse?
Então levantou-se. Deixou 50 reais na mesa e foi tentar sair do bar. Inútil. Suas pernas não respondiam. Ele insistiu e caminhou até a casa dela.
Chegando lá, tocou a campainha, ela atendeu.
- Ah Meu Deus!
Ele tinha os olhos cheios de lágrimas e estava visivelmente embriagado.
- Entra vai...
- Eu só queria dizer que..
- Não fala nada, entra logo.
Ele entrou, ela ligou o chuveiro e com a expressão tensa disse a ele.
- Não precisa tirar a roupa toda.
Mas ele mal conseguia tirar a camiseta. Ela o despiu e ele tentou abraçá-la.
- Olha, Vitor. É melhor você para tá bom, entra logo nesse chuveiro antes que perca a paciência.
- Você parece minha mãe falando assim, para com isso, amor, venha aqui.
Ela segurou-o firmemente e colocou-o debaixo do chuveiro. Ele insistiu em agarrá-la.
- Para Vitor! - ela gritou - Para tá? Já me sinto uma idiota ajudando você, mas nesse estado você não chega em casa e eu não quero você dormindo na rua! Mas para! Chega!
Vitor começou a chorar. A água fria do chuveiro se misturava com as lágrimas quentes dele. Chorava copiosamente. A bondade e a preocupação dela o comoviam.
- Eu não mereço você! - ele dizia entre lágrimas.
Ela não respondeu. Ajudou-o a se enxugar, deu a ele uma bermuda folgada e colocou-o para deitar, mas ele ainda chorava.
- Vitor, para de chorar, tá bom? Já passou. Hoje você dorme aqui, amanhã você vai pra casa.
- Nádia, eu amo você.
- Tá bom, Vitor. Agora, dorme.
- Nádia, deita aqui comigo.
- Não Vitor.
- Por favor Nádia! Como quando nos conhecemos... Eu prometo que não vou fazer nada.
Aquelas palavras tocaram Nádia. Ele realmente estava arrependido.
Nádia deitou-se do lado dele. Ele chorava baixinho, como uma criança que precisa do colo da mãe.
- Vai ficar tudo bem Vitor.- disse ela alisando os cabelos dele.
Logo ele dormiu e ela também. E assim passaram a noite, não aconteceu nada, como da primeira vez....

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Desamor

"Porque eu vi o que ninguém viu, porque eu dei valor ao que ninguém deu. Porque eu o quis, como ninguém jamais ousou... Por que as coisas caminham para o cinza?"
Eram esses os pensamentos que faziam Clarice caminhar com os olhos cheios de lágrimas em direção a floricultura.
Com um vestido de renda branco ultrapassando os joelhos, rodado e de mangas leves, Clarice parecia uma noiva. Tinha os cabelos lisos mas as pontas encaracolavam. Eram assim desde que ela era uma menina e nunca haviam mudado.
Os olhos bem redondos como os de uma boneca agora estavam tristes, imensamente tristes. Uma tristeza que lhe feria o peito como uma faca. Clarice havia se entregado ao rapaz que morava a duas quadras dela, ele que a cortejou como ninguém havia feito. Que a fez sentir especial, única e diferente. Ele que não se importava apenas no que havia debaixo das saias dela, que tinha sinceridade no olhar. Que a interrompia quando ela estava falando só pra dizer que ela era linda e que dizia que tinha saudades dela. Ele que disse sem de importar com o tempo que a amava. Ele que desconsiderou as convenções e foi tão intenso que não havia como não se apaixonar perdidamente por ele.
Agora, ele parecia uma outra pessoa. Não dizia mais palavras doces a ela, não sentia mais saudade, não dizia que ela era linda mesmo quando ela se arrumava. Estava cinza e apagado.
Mesmo assim Clarice ainda via nele todas as cores do mundo. Ele que parecia não se importar com o que pensavam os outros agora tentava recuar. Se afastava de uma maneira dolorida que feria muito a aquela jovem menina que havia entregado com todo o amor do mundo seu coração a ele.
Como poderia voltar a fita? Retroceder? Já haviam pulado juntos de um precipício, já haviam se lançado de mãos dadas no abismo. E agora ele queria tentar subir de volta e deixar Clarice sozinha lá?
Como ousava tratar assim a única que soubera amá-lo? Ele que não conhecia nada de reciprocidade, agora que se deparava com ela a desprezava.
Talvez se Clarice fosse mesquinha, pequenina de pensamento, fizesse joguinhos imbecis com ele, pisasse nele como se pisa num inseto e o fizesse de troxa, talvez assim ele amasse Clarice.
Mas, por Deus, ele parecia ser tão diferente de todos os outros, e agora era frio como uma pedra? Por que então ele havia dado sua mão para a menina? Por que havia dito que a amava? Por que, se diante de toda aquela frieza aquilo parecia uma grande mentira?
Por que ele não podia enxergar um palmo na frente de seus olhos? Que raio de amor era aquele?
Mas nem todos esses pensamentos impediram Clarice de lhe comprar um imenso bouquet de flores.
E no meio de tantos porques sem resposta, de lágrimas sem uma mão amada para enxugá-las, Clarice chegou a porta da casa dele.
Tocou a campainha e ele atendeu.
Eram oito horas da noite, não era hora de uma moça de família estar na rua sozinha.
Ele abriu e com o olhar repreendeu Clarice.
- Clarice, o que você faz aqui a essa hora e sozinha?
Ela estava calada. Não podia falar, não conseguia, seu peito se apertava e as lágrimas invadiam seu rosto.
Ele percebeu as flores e se aproximou.
- O que é isso Clarice?
Ela permaneceu quieta, com as flores na altura dos joelhos e os dois braços abaixados, chorando.
- Clarice!!!
E num súbito, como se tivesse juntado todas as forças que restava, ela lhe entendeu os braços, oferecendo-lhe o bouquet de rosas vermelhas, e com a voz que ainda havia para dizer alguma coisa ela gritou:
- ME AME!
De repente a visão de Clarice ficou turva, ela empalideceu. Ele apavorou-se. O bouquet caiu no chão e depois dele, foi a vez de Clarice.
Ele segurou Clarice nos braços.
- Clarice, pare com essa brincadeira. Por favor! Clarice, fale comigo!
E tentando sacudí-la e acordá-la como podia ele gritava por ajuda.
Então percebeu a maior dor diante dos seus olhos. Clarice não respirava mais, as batidas de seu coração haviam cessado. Clarice estava morta.
E gritando ele apertava Clarice contra seu peito.
- Clarice, não! Volte, por favor, me perdoe, eu a amo, eu a amo!
Dessa vez foi a vez dele chorar.
E chorou copiosamente vendo aquela única menina, aquela única mulher que o amara de verdade, que soubera dar valor ao que ninguém deu, que viu o que ninguém jamais viu.
Ninguém soube ao certo dizer o que aconteceu com Clarice naquela noite. O que dizem por aí é que ela morrou de tristeza, de desamor.
Ele chorou copiosamente o resto da vida e nunca mais conseguiu amar outra pessoa.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Escrevo, logo existo!

Não desejo gastar minha retórica, tampouco dar atenção a fatos pequeninos e levianos.
Só não podia engolir a seco esse monte de lodo que se julgam dispostos a me fazer engolir.
Eu muito lutei pra ser o que sou, e só consegui superar situações tão infames das quais vivi porque escrevo.
Escrevo, logo existo.
Essa minha terapia intensiva, esse meu prazer, meu vício e minha salvação. Eis a minha cura para os males do mundo. Eis a cura dos meus males.
Deixei amores transtornados para trás, amores que jamais imaginei superá-los. Mas eu consegui porque eu os exorcizei com as minhas palavras. Tirei litros de raiva, litros de apego, litros de tristeza da minha alma e da minha vida escrevendo.
Enquanto eu viver, eu vou escrever.
E não tentem me intimidar. Morreria sufocada se me arrancassem o ato de escrever da minha vida. Morreria em menos de uma semana, não posso viver sem escrever. Eis minha sina e meu karma.
Através dos meus personagens e de suas histórias eu vivo coisas que jamais poderia vivê-las se não as escrevesse.
Meus personagens. Ah, esses são seres tão animados quanto eu. Elis, Cora, Henrique, Clarice, Lívia e tantos eles e elas que me arrancam do peito a sensação de aperto quando o peso das relações me assola.
Uma vez me perguntaram para quem eu escrevo. Ora, eu escrevo pra mim, só pra mim. Se eu escrevesse para alguém, certamente ele teria uma dedicatória no final. É na minha escrita que encontro a chave para o meu mundo e lá eu faço o que bem entendo.
Escrevo para mim, e aqueles que leem, leem porque querem.
Porque procuram pelas minhas palavras, seja para o que for.
E não ache que meus personagens representam absolutamente alguma pessoa que eu conheci, que Fulano corresponde a Beltrano. É bem verdade que as pessoas nos inspiram, e sem elas não existiria a literatura, a poesia e tantas outras artes.
Mas não se julguem suficientemente importantes para terem suas histórias postadas no meu espaço. Suas vidas não me são tão interessantes e é justamente por estar cansada de gente monótona que eu crio personagens e crio suas histórias.
E para aqueles que se debatem quando leem os meus textos, que urram e sentem-se atingidos, sinto muito. Não há no meu espaço o nome de ninguém que eu conheça, há apenas meus personagens. O fato de algumas pessoas se incomodarem é porque entram aqui desejosas para achar qualquer palavra que as corte, que as deixe feridas. Masoquistas. Não se procurem aqui, como eu já disse vocês não são tão interessantes a ponto de me inspirar a escrever sobre suas vidas no meu espaço. Meus personagens tem histórias muito mais saborosas do que as histórias das vidas de vocês, porque eu as crio. Atenham-se a sua insignificância. Se algum dia eu quiser escrever sobre suas histórias, eu lhes procurarei, previamente, com um gravador e lhes farei entrevistas, consultarei documentos e coisas que falem sobre vocês, como se fazem nas biografias e lhes darei os devidos créditos. Agora, vocês já viram seus nomes aqui? Ah, sim, como imaginei.
Como dizia a vovó "Quem procura, acha". Então, se não querem se aborrecer, parem de ficar fuçando e revirando minhas palavras a procura de vestígios que lhes ataque os nervos. Não lhes convidei, vocês viram de intrometidos, então não se julguem no direito de meter o bedelho o meu espaço!
Busquem um livro, mas não vão se irritar com o autor se acaso se identificarem com os personagens dele também.
E como diria Clarice:
"Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa.
Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas.
A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro..."
Aqui é o meu espaço, meus contos, minhas histórias, minhas memórias, meu o que eu quiser. Mas é meu! Se você quiser compartilhar, acrescentar, conviver, contar, sinta-se em casa. Caso contrário, não ouse mais pisar aqui.
Ninguém vai mudar o que nasceu em mim como extensão da minha alma.
Minha escrita é meu amor, minha paixão e minha sina.
Mas é "minha, só minha e não de quem quiser".

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Os anjos dizem amém

Ela olhou pro rosto dele, aquele rosto tão lindo angelical e... Meu Deus! Estava perdidamente apaixonada!
Mas do que isso.. Ela o amava!
O amava tanto que jamais havia imaginado que pudesse amar tanto assim depois de ter levado tantos tombos em matéria de amor. Mas aquele amor que havia nascido por ele não era um amor qualquer.
Ela encontrava nos olhos dele todas as respostas do mundo e toda a serenidade que precisava. E ao mesmo tempo ali, naqueles mesmos olhos haviam um vulcão flamejante.
Aquele amor era algo que ela jamais havia experimentado, diferente de tudo que ela achava que era amor. Ela era feliz por amar daquela maneira, posto que achava que havia sido condenada a amores mornos e complacentes.
E a cada olhar, cada sorriso, cada gesto, ela nutria mais e mais seu amor por ele. E sentia-se feliz quando ele sentia que era amado. Ele merecia todo o amor do mundo. Ele era um anjo, um anjo lindo que merecia todo cuidado para não ser machucado. Ela se entristecia ao pensar que um dia alguém o fez derramar lágrimas de tristeza daqueles olhos tão lindos, como alguém poderia ser capaz disso?
Prometeu a si mesma que faria de tudo para que ele nunca derramasse lágrimas de tristeza por ela. Queria fazê-lo feliz. Queria vê-lo sorrir. Aquele sorriso mais gostoso que ele tinha. Queria ver seus olhos tão belos brilhando de felicidade o tempo todo se possível.
Ele merecia tanto ser feliz. E da parte dela, já fazia tudo que podia para que risadas e sorrisos fossem absolutos.
No abraço dele ela se encaixava perfeitamente, e ali adormecia no seu sono mais delicado e perfeito.
Todas as palavras que ele dizia, toda paciência que ele tinha em explicar a ela que ela era a única agora, que não havia mais ninguém, tudo que ele fazia a encantava.
O jeito como ele a queria perto de si, como trazia o corpo dela, junto ao seu, de maneira tão sutil e delicada, o jeito como os lábios se tocavam, era quase um ato sagrado, onde todas as palavras do mundo eram desnecessárias.
A forma com que os dedos se entrelaçavam, fazendo um sinal cálido e simples, que traduzia tudo aquilo que sentiam. Estavam juntos. Era assim que se sentiam. E não precisavam de rótulos, nomenclaturas, alianças ou qualquer coisa que comprovasse que estavam juntos. Eles sabiam da profundidade daquilo tudo e era o que bastava.
Não precisavam de juízes, nem de leis. Eram eles por eles mesmo, e o amor pelos dois.
Juntos. Era assim que estavam.
O amor crescia a cada dia. E os anjos dizem amém!

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Histórias do amor

Cora chegou em casa cansada. Jogou as coisas em cima da mesa e deitou no sofá. Os últimos dias haviam sido mais cansativos do que ela imaginava e o fator Lívia era uma das causas do cansaço de Cora.
Todos os dias que Cora saia do trabalho, lá estava Lívia, sentada no café, como quem diz " Oi, eu estou aqui, sabia?".
E Cora sabia. Sabia que ela estava lá e o fato dela estar presente todos os dias, no mesmo lugar, na mesma hora era uma tentativa de intimidá-la. Mas diga-se de passagem, uma tentativa frustrada.
Cora até entendia o lado de Lívia. Entendia porque Henrique era um tipo raro, um exemplar da espécie em extinção, talvez um dos últimos exemplares de homem que presta existente na face da Terra.
Henrique era diferente, preocupado, paciente, amável, amante, carinhoso, cuidadoso e tantos outros predicados que faziam Cora entender a ira de Lívia.
Mas não foi Cora quem tirou Henrique da vida de Lívia. Foi a própria Lívia que o mandou para longe, que não deu valor para ele nem para o que ele fazia. Que não soube ver o partidão que ela tinha nas mãos.
Se havia alguma vilã na história de Lívia era ela mesma.
Cora era carta fora do baralho quando se tratava da história que envolvia Lívia e Henrique.
Ela era uma nova história. Um começo. Um princípio na vida de Henrique. Uma história distinta daquela cheia de nós, tropeços e quedas.
Cora entendia Lívia. Não que ela simpatizasse com a mesma. Isso não! Ainda mais depois da investidas violentas e sem noção de Lívia, tentando resgatar o tempo perdido, mesmo sabendo que Cora existia.
Mas Lívia na sua prepotência achava mesmo que Henrique tornaria a ser seu.
O que Lívia não entendia é que não era Cora a culpada. Poderia ser qualquer outra.
O que fez Henrique virar as costas e ir embora foi o fato do amor ter se esgotado entre tantas idas e vindas. Entre tantos encontros e desencontros, entre tanto desinteresse e despreocupação dela em ver Henrique feliz. Henrique cansou de vê-la pensar só em si, na sua vontade, no seu prazer, na sua felicidade e isolá-lo como se o que ele sentisse não tivesse valor.
Henrique não havia esquecido Lívia de uma hora pra outra. Mas com a situação proposta por ambos, em cima do muro como estavam, o desgaste emocional daquela situação fazia com que a cada dia o rosto dela perdesse um pouco de brilho. Com que os olhos dela perdessem a luz. E dia após dia a imagem dela ia ficando mais difícil de recordar na cabeça dele, ao passo que outras mulheres pareciam interessantes, outras histórias pareciam ter mais vida do que aquela que já encontrava-se moribunda.
Não foi do dia pra noite. Lívia foi matando em Henrique o amor que ele sentia por ela, com todo o desinteresse dela nos sentimentos dele.
E quando, numa obra do destino Cora apareceu na vida dele e ele na dela, interessaram-se um pelo outro, e ali era hora de viver uma nova história.
Não haviam culpados, nem vilões, nem vítimas. Apenas histórias. Enquanto uma se findava, a outra começava.

domingo, 9 de janeiro de 2011

O amor transborda

Ele queria saber porque ela havia derramado aquelas lágrimas. Talvez a situação a tivesse chateado de novo, talvez ela não aguentasse mais, talvez estivesse insegura, talvez não queria que nada atrapalhasse o que eles sentiam.
Mas para ela, por um instante nenhuma daquelas chateações nem daquelas pessoas chatas e infames existiam mais.
Naquele instante eterno, onde o céu e as poucas estrelas que haviam aquela hora foram testemunha do que eu chamaria de um verbo. Transbordar. Transbordar de amor.
O amor se revela de inúmeras formas, de tantos jeitos que confunde as pessoas. Mas quando amor se mostra da sua maneira mais pura e simples, numa lágrima gratuita, por exemplo, então o mundo fica em paz.
Não era uma lágrima de medo, não era uma lágrima de arrependimento, de tristeza, nem de revolta. Era a lágrima do amor, que vem o mais profundo do que é o amor. Do âmago e da essência.
Quando ela viu a sombra deles, unida, num encaixe tão perfeito, foi como se ela tivesse, por um instante, completamente em paz. Como se tudo estivesse na mais perfeita harmonia, como se tudo fosse tão maravilhoso quanto aquele sentimento que crescia dentro dela.
Ele, com todos os defeitos e com tudo que havia acontecido, era tão lindo, tão amoroso, tão carinhoso e tão digno de ser amado. Ela queria dar a ele todo o amor do mundo, porque ele merecia o amor. Merecia ser visto, compreendido, escutado, mas acima de tudo, merecia ser amado!
Ela sentia o amor crescendo, crescendo e crescendo. E naquele abraço de quem diz "até logo", a saudade prévia já estava maior do que ela havia previsto. Não queria deixá-lo, não queria soltar dele. Ele num instante era tudo! Tudo! E nada mais existia naquele instante. Então ela fechou os olhos, e apenas sentiu aquele sentimento tomar conta de todos os seus sentidos. Num segundo mágico de amor sem dimensão ela agradeceu a Deus por ele existir e estar ali, abraçado a ela, num abraço perfeito, encaixado como uma chave numa fechadura. Uma única chave para uma única fechadura. Um coração que se completa no outro.
E não conseguiu conter a emoção... O amor era tanto, imenso, imensurável e transbordou.
Transbordou pelos olhos dela, encheu o coração dela de alegria e de sentimentos que vão além das palavras.
Ele achou por um instante que aquelas lágrimas eram de tristeza ou coisa parecida. Mas naquele momento, não havia espaço para tristeza. Só havia espaço para três, ela, ele e o amor.
Talvez ele não tenha entendido ao certo o que aconteceu e por mais que ela queira explicar não vai conseguir. O amor não é passível de explicações, tampouco de compreensão.
Ele chega mesmo quando tentamos negá-lo, quando fazemos de conta que ele não existe.
Ele chega com tudo e muda nossas vidas. Nos faz pessoas melhores, mais felizes e amáveis.
O amor é soberano. O amor transborda.

Já passou da hora de partir

O que mais doeu em Lívia quando ela desligou o telefone foi perceber que ele esteve o tempo todo ao seu lado, aguentando e levando aquela situação tão desconfortável com a candura de um anjo, que só ele tinha. O que mais doeu foi perceber que ele sempre esteve tão perto e agora não era apenas a voz dele que estava tão distante. Era seu coração. Estava a mil milhas dela.
Mas Lívia não aceitava e com a teimosia de uma mula tentava com todas as suas armas trazê-lo de volta pra si. Queria que ele fosse seu mais uma vez.
Mas o que Lívia jamais entendera era que ele nunca havia sido seu. Porque as pessoas não são nossas. Elas podem dar-nos o seu amor, mas não assinam contrato de posse quando dizem que nos amam.
Lívia ignorava todos os indícios, apesar da decepção de si própria doer mais que qualquer coisa. Esqueceu-se do amor próprio, jogou-o no lixo, decidiu que o traria de volta, custe o que custasse.
Então ela infernizou a vida dele durante dias. Mandava-lhe cartas, bombons, flores, ligava como uma doida. E ele, sempre calado, sem esboçar uma reação mais palpável, afinal ele não queria ferir o coração de Lívia.
Quanto a ela, não queria nem saber se aquilo era desconfortável pra ele. Mais uma vez ele só pensava em si mesma, sem contemplar ao menos o que ele sentia. Foi numa tarde ensolarada que Lívia decidiu aparecer na casa dele de surpresa.
- Henrique! - gritou enquanto buzinava na frente do portão.
Ele saiu, estava arrumado e perfumado. Por um instante ela achou que aquilo era obra do destino.
- Podemos conversar?
- Entra, mas não posso demorar muito.
A sala da casa dele parecia mais bonita, tinha flores pelos cantos, havia sido pintada de uma tonalidade mais clara que permitia que toda a luz refletisse pelo cômodo, trazendo uma sensação de paz.
- Sua casa está bonita. Não estava assim da última vez que entrei aqui.
Ele sorriu e sentou-se, esperando, pacientemente que ela vomitasse as palavras nele.
- Henrique, olha, eu sei que é difícil pra você, mas eu amo você ainda. Eu sempre amei. Não posso mais ficar longe de você, por favor, me perdoe, vamos recomeçar! Não seja tolo como eu fui, olhe pra mim, estou aqui, diante de você, nunca mais te deixarei.
Ele permancia calado.
- Você não vai dizer nada? Por favor, Henrique, vamos recomeçar. Eu sei que errei com você, mas você sabe, trabalho muito, sou uma mulher de negócios, tenho que tocar minha vida. Mas agora eu quero você do meu lado!
- Agora? Agora você me quer ao seu lado? Interessante.
- Por favor, Henrique não faça essa cara!
- Cara nenhuma. Só acho que você continua egocêntrica. Acha que é assim, que eu sou como um brinquedo, que você usa, depois guarda no fundo do armário e brinca quando quiser?
- Não, Henrique, não é assim! Só não quero que você seja tolo como fui tola com você... Hoje eu percebo.
- Acontece que hoje eu percebo outras coisas. Você demorou pra perceber que eu estive o tempo todo ao seu lado. Você não cuidou do meu coração como deveria, você mal quis saber como eu estive me sentindo esse tempo todo. Mas o mundo da voltas, muitas voltas. Olha, Lívia, eu não quero ferir você com minhas palavras e nem tenho coragem para tanto, odeio ver mulher chorando, é horrível. Então, se me permite, eu tenho um compromisso, não posso me atrasar. Você deveria levar sua vida, sair com suas amigas. Eu ainda tenho carinho por você, então por favor...
Lívia levou um balde de água fria e com ele, vieram as lágrimas.
- Você não pode fazer isso, você me ama, eu sei que sim!
- Poderia amar, como amiga agora, mas você só tem me surpreendido com suas ações violentas e que não pensam um instante sequer no meu bem estar, no que eu estou sentindo com tudo isso! Você não quer saber o que isso tem me causado, então, não darei muita importância ao que você tem se causado.
- Não é possível, deve ser culpa daquela maldita Cora! Só pode ter sido ela, ela botou um feitiço em você!
- Não, Lívia. O que você não entendeu ainda é que você é a única e maior responsável pelas coisas que acontecem na sua vida, incluindo esta que está acontecendo agora. E a Cora, a Cora só soube olhar pro que você não viu, e pelo que parece, continua não vendo. Agora vamos parar por aqui, essa conversa não vai nos levar a lugar nenhum.
Lívia chorava, e num lapso tentoi jogar-se nos braços de Henrique.
- Não, Lívia! Não torne as coisas mais difíceis... Já passou da hora de partir!
Henrique abriu a porta para ela e saiu atrás.
- Tchau, Lívia. Cuide-se.
Ela não respondeu. Entrou no carro com uma bola de chumbo na garganta. E teve a mesma infeliz sensação que teve quando desligou o telefone. O pior era pensar que ele esteve ao seu lado o tempo todo, e ela não soube dar valor para ele.
Lívia ligou o carro e foi dirigindo sem direção. Quando se deu conta já estava na estrada. Ficou pensando que talvez fosse a hora de aceitar seus erros, perdoar a si mesma e seguir a estrada de sua vida. E com certeza, seria a melhor coisa que ela faria!

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Arrastados

Sentimento de posse é algo perigoso. Ele mexe no mais profundo de nosso ego, nos tornando egocentricos e egoístas.
É muito difícil entender e aceitar que as pessoas não são propriedades nossas. Passamos uma vida sem compreender isso.
É que quando aquilo que nos era certeza deixa de ser tão certo como imaginávamos, nos transtornamos e queremos achar algozes para nossa fúria e decepção. E quando chegamos a essa altura do caminho, qualquer pessoa que aparece, serve.
Algumas pessoas são suficientemente egoístas para deixar outras pessoas amarradas a si, e tem o pensamento de que elas podem não estar felizes assim, mas elas tem que ficar!
De certa forma poderia soar como inocência, mas de pensamento inocente não tem nada.
Em seus relacionamentos amorosos essas pessoas, que possuem sentimento de posse profundo, não se importam tanto com aqueles que elas decidiram amarrar a si. Principalmente se aquele que foi amarrado demonstra amor e paixão. E por serem profundamente egoístas pensando assim, o amor do outro lhes é certo. Uma certeza infindável e tão absoluta, que a criatura acha que mesmo colocando o dito amarrado numa situação de desconforto, ele vai continuar amando-a e se apaixonando por ela todos os dias, seguindo-a cegamente. O ego é soberano e lhe dá ainda mais certeza disso.
Sendo assim, a criatura vai arrastando seu companheiro "amado" num mar de desconforto e angústia, porque, afinal das contas, sendo dela, ele tem que ficar com ela de qualquer jeito, não importa se está sendo arrastado ou se está indo de livre e espontânea vontade.
O pior dessas situações é que na maioria das vezes o amarrado se deixa amarrar porque também possui sentimento de posse e assim se deixa arrastar por entre as pedras do caminho.
E assim os relacionamentos se arrastam, infelizes, incompletos, difíceis de lidar, descontentes de tudo e de todos. Só ferindo a ambos.
Nessa hora surge a comodidade. As feridas já machucaram tanto que agora não doem mais, então ambos fingem não ver o sangue e o pus que lhes infecta e vão levando. Se arrastando com seu relaciomento infeccioso.
Mas sempre tem um que acorda antes que o outro. Que percebe que suas feridas ainda doem e que não quer mais viver assim. E na maioria dos casos, é o amarrado que percebe.
Olhando pra trás ele percebe a trilha por onde passou e se arrastou. Olha pra si e vê toda a infelicidade que há em seu coração. E não porque aquele relacionamento tinha tudo pra dar errado, mas porque os dois, agindo dessa forma, arrastaram o que lhes restou pra um lugar errado.
E quando acorda, o amor se foi. Já tinha ido na metade da estrada arrastada, mas nenhum dos dois teve coragem de ver. Sendo assim, o amarrado solta as cordas que o prendem, limpa suas feridas e vai caminhar sozinho.
Mas o egocentrismo da criatura que o arrastava não compreende isso e busca culpados para o desfecho de sua história infeliz. Não entende que aquele que a amava, que era tão certo em sua vida, pode lhe deixar. Mas a verdade é que os dois se deixaram quando arrastaram suas próprias vidas, sem ter cuidado nenhum com seus corações.
Porque quando aquilo que era certo e nos era cômodo foge de nossas mãos, nos transtornamos e mostramos uma face que as pessoas não conheciam antes.
Caros leitores, não sou terapeuta, muito menos psicanalista ou guru do amor. O que escrevo aqui são retratos e relatos das minhas experiências e vivências, muitas vezes, transformados em contos, outras vezes trazidos desta forma. E aqueles que se sentirem ofendidos, leram porque quiseram, acharam-se porque se procuraram nas linhas e entrelinhas. Para demais reclamações, procurem meu advogado!
E aqueles que quiserem compartilhar suas histórias, sou toda ouvidos.
Sejam felizes e não arrastem, nem sejam arrastados!

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

O maior excesso de Elis

Não adiantava Elis querer apagá-lo de sua memória. Na verdade nem motivos ela tinha para isso. É que sendo excessivamente dramática, Elis transformava gotas de chuva num dilúvio interminável, onde ela se afogava e depois ressurgia como a Vênus de Botticelli.
O maior problema de Elis era amar demais. Amava demais, queria demais, chorava demais, falava demais. Excessos que ela cometia por querer ser feliz demais. E as vezes esquecia de ver que a felicidade estava bem diante de seus olhos, na simplicidade de um sorriso que tenta ser o mais verdadeiro possível com ela quando diz que a ama e que a queria bem.
Mas Elis era demasiado impulsiva e metia os pés pelas mãos quase sempre. Ciumenta, se fosse uma rainha teria mandado cortar a cabeça daquelas que se meteram em seu caminho.
Mas Elis não era só adjetivos negativos. Ela era uma menina doce e meiga, que só queria viver um grande amor e não media esforços quando achava que encontrava um. Dedicava-se ao máximo, doava-se como nunca, vivia com toda intensidade de seu ser. Mas a intempestividade dela não deixava que ninguém ousasse lhe tirar a paz, e se ousasse, sofreria as consequências. Mas na verdades quem mais sofria as consequências de sua intempestividade era ela mesma, que desfalecia de tanto chorar no sofá, com medo que o mundo lhe negue o amor.
No fundo, Elis não é má pessoa. É meio louca, com certeza, mas ela só quer viver, só quer amar e ser amada. Um amor imenso, maior que o mundo, amor em excesso. O maior excesso de Elis.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Sem controle

Você chegou sem avisar. Na verdade, me avisaram que você viria, mas eu estava tão desencanada e desiludida da vida que eu não dei atenção.
Estava mal arrumada, com o cabelo suj, preso num rabo de cavalo e cara de quem acabou de enfrentar o metrô cheio.
Se eu soubesse que seria tão especial, teria pelo menos lavado o cabelo.
E quando eu vi que você era tão lindo e engraçadinho, eu fui ao banheiro umas três vezes pra ver se aquele meu maldito desleixo tinha jeito.
Mas você me surpreendeu, quando você fez como faria um Príncipe Árabe com sua Princesa na noite de seu casamento. Tirou meu All Star, mesmo eu pedindo diversas vezes, alegando meu chulé da hora do rush. Você não deu importância, e depois de alguns copos de Big Apple lá estávamos nós, no sofá, de pés descalços, falando sobre todas as coisas do mundo.
Acho que desde a primeira vez que eu te vi, você viu algo em mim que ninguém viu antes.
E desde que você chegou meu mundo virou de ponta cabeça, saiu de órbita e foi pra uma galáxia desconhecida.
Você tirou meus pés do chão, me desestabilizou, me deixou doida, louca, maluca e inconsequente. E eu que achei que nunca mais ou nunca fosse me sentir assim. Na verdade eu tinha até me acostumado a ter um amor mais sereno e tranquilo, tinha me acostumado com a ideia de que paixões arrebatadoras não existissem mais pra mim, que elas faziam mal e que era melhor ter alguém que gostasse de mim.
Mas você me fez perder as rédeas, a compostura, a disciplina e trouxe de volta o brilho nos meus olhos e uma vontade de viver tudo que eu tiver que viver.
Você trouxe de volta o calor, o fogo, a paixão e o amor. Trouxe de volta a chama do beijo, o carinho do olhar e a vontade do encontro.
E eu adoro essa sensação, adoro perder o controle de mim e ao mesmo tempo saber onde estou indo.
Insensata e ao mesmo tempo dona de mim e de todas as minhas vontades.
Como é bom estar viva e poder viver!

No divã de Clarice

Clarice chegara desanimada. Mais uma vez deparavasse com o estranho fantasma do desânimo. Tirou os sapatos e deitou-se no divã que havia na sua casa. Seu próprio divã, mas sem direito a um psicanalista que a ouvisse. Os devaneios de Clarice sobravam para ela mesma. Não havia ninguém capaz de ouví-la e compreendê-la. Nem mesmo aquele que Clarice havia dado seu coração numa bandeja.
Respirou fundo e conclui mais uma vez o que o fantasma do desânimo sempre a fazia concluir. Que não adiantava ser linda, educada, polida, amável, compreensiva, amante, interessante, interessada, disposta e ter tantos outros atributos quando o cidadão na sua frente é incapaz de lhe dar uma única rosa.
Não adiantava tentar ouvir a versão dele e como se não bastasse, tentar entender aquela situação estapafúrdia que sempre colocava Clarice em segundo plano. Ele, com a sua delicadeza e seu sorriso angelical cobravam de Clarice uma auto-confiança e uma lucidez que ela não tinha, mas matava um leão por dia pra alcançar esse Nirvana cobrado por ele.
Ele não pedia nada as claras, mas exigia dela a concentração de uma mulher bem resolvida, a certeza de uma Duquesa independente de um Duque, a firmeza e o sangue de barata que não existiam em Clarice.
Quantas e quantas vezes Clarice fez suas malas disposta a ir embora de uma vez por todas. Mas ao olhar aqueles olhos tão ternos, ela agia como uma criança desprotegida. Não, não podia deixá-lo. Uma força maior prendia Clarice aquele relacionamento mais enrolado que novelo de lã nas patas de um gato.
Clarice não tinha forças para carregar as malas para fora da casa. O pior é que ele parecia ser sincero, ele parecia gostar de Clarice, parecia gostar de verdade. Dizia palavras doces, tratava Clarice como se trata uma Princesa. Mas a incerteza era certa pra ela e todos aqueles fantasmas que assolavam a ele não davam a ela tanta segurança.
Por que era tão difícil desvencilhar-se do passado? Ele tinha uma decência com seu passado assustadora, mas o passado não fora nada decente com ele e não pensou duas vezes antes de lhe trazer lágrimas nos olhos. Fora egoísta e inconsequente.
E Clarice, amável e compreensiva como uma boa moça deve ser, tentava lhe mostrar um outro lado mais seguro, tentava lhe mostrar os jardins que existiam além daqueles lugares abandonados, mal cuidados, feios e cheios de flores murchas que ele estava acostumado a andar.
E Clarice pedia a ele dois minutos de seu tempo para que ele invertesse os papéis. E ele apenas dizia, " Eu sei". Mas não sabia, não sabia de nada. Não sabia como era estar numa corda-bamba, não sabia como era andar em cacos de vidro, não sabia como era andar na brasa e ainda sorrir todos os dias. Ele não aguentaria um dia na pele de Clarice. E também não enxergava o esforço que ela fazia para manter-se sóbria e não lhe dar seis tapas na cara, virar as costas e ir embora. Clarice lutava por aquele amor, ela sabia que um dia ele se libertaria de si mesmo. Mas quando o fantasma do desânimo a assombrava, ela questionava-se: quando?
Nos seus devaneios e indagações, Clarice adormeceu. Suas pálpebras, consumidas pelo desânimo, renderam-se ao anestésico da vida, o mais eficiente calmante que já inventaram: o sono.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Nosso mundo

Eu não me importo de dormir no chão e de acordar dolorida por isso. Eu só quero que você esteja ao meu lado, pra eu poder te abraçar e ouvir sua respiração, pra gente comentar de como foi pegar no sono no chão, porque a cama estava muito quente e de como estamos quebrados por isso.
Eu só quero dividir e compartilhar com você, eu só quero ter você perto de mim... Cada vez mais perto.
Eu posso até me importar um pouco com coisas que deveriam não ter importância mas isso é só mais um sinal que me mostra o quanto você é importante.
Eu não quero mais ficar sozinha. Eu não quero mais ficar longe de você.
Quero ficar no nosso mundo utópico e feliz, onde o que mais importa é a hora que vamos ao cinema, ou o que vamos comer, ou se vamos dormir na sua casa, na minha ou em qualquer outro lugar. Onde nossos problemas somem, onde a nossa lei é o que vale. Onde somos livres e não há nada nem ninguém que nos atrapalhe.
No nosso mundo onde as calorias não tem importância e o relógio é um mero capricho, porque o tempo não existe.
Onde fazemos o que queremos, vamos onde temos vontade ou quase isso.
No nosso mundo, onde voamos sem tirar os pés do chão, onde nosso riso é soberano e onde o amor é a nossa máxima.