domingo, 30 de setembro de 2012

Refúgio Seguro

Fechou o livro. Despertou. A viagem havia sido intensa, muito embora não tivesse saído do lugar para viajar. O passaporte para tal viagem estava nos livros. Eram muitos passaportes em sua estante improvisada.
Cairo, Cafarnaum, Paris, até Pompeia se quisesse. Era bom viajar. Sobretudo sem sair do lugar. Viagem da alma, passeio do espírito, lugares da mente, descanso do coração.
Porque quando lia, desligava-se. Não se lembrava de si. Não se lembrava que estava no quarto, na sala ou deitada a sombra da goiabeira. Estava nas tendas de Jacó, numa vivenda cercada de lilases na Rússia, numa varanda enluarada em Pompeia, num canto qualquer lendo uma revista esperantista. E não era ela quem estava, eram as mulheres, heroínas ou vilãs, amadas ou amantes. Ela apenas se transportava e vivia na pele daquelas mulheres todas. Nascia e renascia em cada página.
Sentia o cheiro do almíscar, o gosto da romã, do carneiro, sentia o vento quente ou gélido. Ouvia os lobos, ou as crianças a cantarolando pela roda.
Tinha raiva, sentia ciúmes, sentia paixão mas sobretudo amor. Entristecia-se, chorava lágrimas tristes, caladas, por vezes choro de criança, outras, um choro de mulher que ela já conhecia: o da partida.
Mas não se importava consigo. Não era a história dela em questão que importava. Na verdade, não queria pensar em sua própria história.
Era um refúgio. Refúgio seguro da alma. Escondia-se do mundo, achava-se no universo. E por um instante, estava em paz. Desligava-se, conectava-se a outros mundos, outras esferas, pessoas e lugares.
Podia pisar no solo quente da Judeia, podia encontrar anjos que lhe davam sábios conselhos pelo caminho. Podia voar e caminhar em paz.
Os livros. A leitura. O refúgio seguro de si mesma.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Dezesseis outra vez

Talvez pudesse pensar menos em você. Talvez, é apenas uma hipótese.
Mas eu não quero. Não quero porque tenho minhas razões.
Você reacendeu em mim algo que eu achei que tivesse esquecido, que o tempo tivesse apagado, que jamais pudesse sentir de novo. De volta aos dezesseis. É assim que me sinto quando digo que você trouxe de volta a sensação de estar feliz porque se ama, de se apaixonar por alguém que talvez nem saiba que você exista, mas só o fato de estar apaixonada de novo, dessa mesma forma que me apaixonava quando tinha dezesseis anos é absolutamente maravilhoso.
Mesmo que você não volte, mesmo que você não fique, mesmo que jamais nos casemos nem tenhamos filhos, mesmo que tudo isso seja uma grande ilusão, sentir o que tenho sentido desde que você reapareceu é incrível, mágico e eu não quero abrir mão disso.
Mesmo que tenha que me iludir um pouco. Mesmo que tenha que escutar Nando, Cássia, Chico e La Valse d'Amelie todos os dias. Eu não me importo, é música boa, de gente boa que aprendi a gostar com você.
Você só me traz coisas boas, sempre. Até a raiva que eu tento sentir as vezes por pensar que você está longe, que demora pra vir ou que já me fez sentir quando nos desencontramos em alguma curva por aí. Não dá. Você é um incrível amontoado de coisas belas, felizes e musicais que quero ter comigo, enquanto me fizer bem.
Tenho acordado feliz. Um feliz surpreendente sem propósito. Veja, você está longe. Muito longe. E quando voltar não vai ter tempo pra mim, digo isso porque lhe conheço o suficiente pra saber que você vai estar muito ocupado, como sempre esteve. E toda a espera desses dias serão inversas aos dias que você vai passar aqui, porque você se vai depressa, mais uma vez.
E nem sei se você vai me procurar com um girassol nas mãos, pra dizer que sentiu saudades e que me quer ao seu lado, mesmo que seja por quinze dias. Tudo me diz 'não', tudo me diz pra ficar longe. Menos o amor. 
Menos o meu coração, menos a minha alma que vibra feliz e contente, de volta as doces sensações do amor aos dezesseis anos.
Senti tanta saudade desse sentimento maravilhoso e belo, simples e puro, que não precisa de formas nem apegos, que não precisa se consumar para existir, porque ele vive só pelo fato de você existir...
Esse sentimento que aquece meu coração nesses dias frios e distantes de você, que me faz rir sozinha enquanto caminho pela rua, como a adolescente apaixonada que eu era e que consigo ser, porque você me trouxe isso de volta.
"Isso que é amor, Gabi". É o que as pessoas me dizem.
E deve ser mesmo. Porque sinto esse amor imenso por você, mas não quero lhe prender. É claro que seria feliz em ver você repousando a cabeça no meu colo, como naqueles dias felizes de março, mas se não posso tê-lo fisicamente, tenho-o no coração e isso ninguém pode me tirar.
Cuido de você todas as noites e todos os dias. Canto, porque a voz do meu coração é bela que só. Combina com seu violão afinado e com o timbre do seu riso gostoso, com o cheiro do seu cabelo liso, com a pontinha do seu nariz de árabe, de pierrot.
Bendito seja o Carnaval que nos conhecemos, bendito seja Tom Jobim e "Gabriela", bendito sejam os girassóis, bendita seja a hora que nos vimos, que nos beijamos, que nos perdoamos tantas vezes depois por esses desencontros que nunca foram nossos.
Bendito seja o amor que bate vivo e firme, há mares de você, nesse coração que só lhe quer bem, feliz e em paz.
Que vibra intenso, mágico e adolescente. Dezesseis outra vez.

                                                          Aos dezesseis. E o girassol...

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Ladainha

Mariam chegou chutando tudo, jogando bolsas, cadernos e o coração. Que tinha feito para merecer tal sorte? Devia ter sido algo muito sério.
Com raiva, duas lágrimas saltaram de seus olhos, uma após a outra. Um protesto da alma fragilizada, dolorida há tantos anos, sem razão nem porque.
Chorou de raiva, de saudade, de angústia, de desespero. Tudo podia ter sido mais fácil, teve quase cinco anos para esquecê-lo, motivos mil e por que, Santa Mãe, ele parecia mais vivo que nunca naquele coração maltratado que Mariam carregava no peito?
"O tempo cura os amores mal amados", disseram-lhe. Mas que grande besteira! O tempo era o maior canastrão, mentiroso e ardiloso. Enganara-a, pensou. Porque acreditava-se imune aquele amor sonoro e bem-vindo como um musical de outros tempos. Estava curada, tinha certeza. Ele poderia aparecer-lhe com flores mil, girassóis ou tulipas, rosas ou estrelas nas mãos. Ela não o amava, dizia para si. Mas que grande e bela patacoada, pensou engolindo três lágrimas arrependidas. Ele sempre esteve ali. Foi o próprio coração de Mariam que, numa fuga insana de si mesmo o havia escondido muito bem.
Que sina, ela pensava consigo, enquanto retorcia os nós na garganta, buscando afogar o monte de sentimentos que lhe afloravam a todo instante, enquanto Oswaldo Montenegro cantava musicas do ex amor.
Por que trazê-lo a tona, são mais de seis bilhões de pessoas no mundo, pensava consigo, por que ele, por que Jorge?
Olhou para São Jorge na parede, pedindo um alento do bravo guerreiro dos cristãos.
Fechou os olhos e rezou. Era a única coisa que conseguia fazer naquele instante. Pediu pra Deus arrancar aquele amor do peito dela, que ele deixasse seus pensamentos, que ela pudesse respirar em paz.
Mas quanto mais ela pedia, mais vivo Miguel se fazia nos pensamentos dela. Via-o sorrir, enquanto pedia pra Santa Maria proteger-lhe o coração. Via-o cantando enquanto orava pra São Jorge resguardá-la da decepção. Encontrava-se no abraço dele enquanto murmurava a última prece que conhecia.
Miguel era um anjo. Que culpa tinha ela?
Não tinha como não amá-lo. Não tinha como não querê-lo. Era doce, amoroso, digno daquele amor que Mariam lhe confiara.
Podia condená-lo pelo descaso dos últimos dias, podia condená-lo por não amá-la, mas que culpa tem os corações?
Fechou os olhos, como quem busca desaparecer.
Abriu e viu um denso nevoeiro de lágrimas.
A mesma ladainha, depois de tantos anos, a mesma ladainha...


domingo, 23 de setembro de 2012

Insônia

Deitada, buscando o sono que não vinha, lembrou-se do diálogo sonolento que tiveram, há tanto tempo atrás, que quase não se recordava das falas.
"Acho que eu dormi", disse enquanto tentava disfarçar o sono aconchegante que o embalara sob o perfume dela.
" Não precisa ir embora agora..."
" Mas já tá tarde..."
Lembrou-se de terem adormecido no sofá, aquele sono pacífico e amoroso que nos invade quando o mundo de dentro parece estar na mais perfeita harmonia.
Nunca mais dormiram juntos. Nem no sofá, sem querer, nem na cama, por desejar, nem em nenhum outro lugar.
Ficou pensando se agora, mesmo com todos os fusos, mares e distância, se ele dormia em paz.
Como seria sua expressão, se dormia virado para direita, ou para esquerda. Se um dos braços tampava-lhe os olhos, se se esparramava na cama ou se dormia feito um bebê, encolhido em si mesmo.
Talvez ele estivesse sozinho, talvez algum abraço o enlaçasse. Ao pensar nisso sentiu o estômago contrair-se, o coração disparar, os olhos marejarem.
E se nunca mais pudesse vê-lo respirar na paz do sono? Se durante o sono dele, outra ocupava-lhe os sonhos? E se ele voltasse num dia qualquer e não mais lhe sorrisse o sorriso amoroso que ele tinha? E se lhe impusesse uma amizade, fugindo de toda aquela saudade que embargava os pensamentos dela mesmo depois de tantos anos?
E se pensar nele fosse uma grande mentira? Mais uma ilusão entre as tantas que ele já havia sido? Talvez estivesse confundindo as coisas.
Mas, Deus, ele havia sido absolutamente sincero...
Será que o coração dele sentia falta do dela?
Será que foram necessários todos esses anos para que finalmente o vulcão da vida entrasse em erupção e incendiasse os corações de ambos?
Em todas as suas perguntas sem respostas, Julia encolheu-se na cama como uma criança assustada, com medo daquele amor, com medo dele, de si, da vida.
Apertaram-lhe as lágrimas na garganta. Não pode mais sufocá-las por muito tempo.
Chorou baixinho sua insônia daquela noite, suas saudades, sua confusão, seu coração, ele, o sorriso, a dor e finalmente, adormeceu.

sábado, 22 de setembro de 2012

Minha Clave de Sol

Lembra-se do dia em que você me ensinou a desenhar uma clave de sol? Pois é, nunca pude me esquecer desse dia.
Na verdade, nunca pude me esquecer de você. Mesmo quando eu quis. Mesmo quando achei que seu rosto era parte do meu passado enterrado. Não era, nunca foi. Você é meu presente. Presente de Deus pra iluminar meus dias, meu coração.
Tudo que vem de você é luz, tem Sol, calor. Lembra-se do meu aniversário de dezessete anos? Lembra-se dos girassóis? Lindos, amarelos, sorridentes. Que grata surpresa abrir aquele cartão e ler você. Que calor na alma, que paz no coração.
Acho intrigante esse mistério da vida que sempre nos reúne. Parece que é um sopro divino me pedindo pra nunca me esquecer de você. É um anjo que me diz para colocar novas flores no altar do amor, porque você está chegando. Mesmo quando acho que meu coração está desocupado, que não penso mais em ninguém, que estou vazia e sem amor, você aparece. Como o Sol que clareia a noite. A luz na escuridão.
Meu bem, você é meu Sol.
É meu Sol porque me aquece, me renova, me nutre. Mas assim como o Sol, não posso ter você numa redoma, dentro duma lâmpada, num apego egoísta de ser. Você foi feito para brilhar para o mundo, eu sou apenas uma privilegiada em poder compartilhar dessa luz que você irradia.
Como é bom sentir isso... Esse calorzinho que vem de você, mesmo que você não saiba e não faça absolutamente nada, apenas exista para que isso seja real. Apenas surja das cinzas para que eu possa voar novamente...
Você me faz tão bem. Mas não se preocupe, não precisa corresponder.
Não precisa se sentir cobrado, não precisa achar que vou exigir sua mão em casamento e sua liberdade em troca do meu amor. Não.
Amor não é isso. Amor não espera nada em troca, ele simplesmente existe pela beleza de ser o amor.
Que bom que você veio de novo, mesmo que não tenha vindo de fato, de alguma forma, pro meu coração, você veio.
Parece que eu estive esperando por isso tanto tempo e você sempre esteve aqui, no meu coração. Procurei tão longe, caminhei tanto, me desenganei tantas vezes e veja só, que bela ironia...
Eu não posso nem vou me apegar em sentimentos pouco dignos como posse, ciúmes, exigências ou qualquer coisa do gênero. E não vou dizer que estou esperando você o resto da minha vida, trancada pra sempre numa torre, esperando seu violão me despertar do sono da saudade.
Mas tenha certeza de que enquanto meu coração continuar batendo assim, quentinho, em paz e iluminado, você vai ser sempre minha Clave de Sol.
A luz que contagia meu sorriso, que mesmo que haja  um "não, talvez ou depois", vou seguir acreditando de que os nossos corações foram feitos pra bater no mesmo ritmo, longe ou perto. E quem sabe um dia a gente possa ouvir o som deles, deitados a sombra de uma goiabeira, sorrindo o amor que ganhamos de presente.
Você nunca foi embora, você sempre esteve aqui...
Minha Clave de Sol...

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Fênix

Adormecido. Como aquela princesa dos contos que eu tanto adoro. Assim estava esse sentimento que eu sentia por você, até você reaparecer.
Fênix. Trouxe de volta meus sonhos, trouxe sorriso, lágrima e dor. Saudade moída em mil pedaços, só pra dizer que você não está por aqui.
Não pude bater na sua porta. Não sei nadar tão fundo. Não pude gritar quando percebi, você já estava tão longe.
Pensei que talvez seja isso. Sou uma fruta. Precisei amadurecer esses quatro anos para entender que nasci da tua árvore e que é a seiva desse amor puro que me nutre.
Não é ele, o outro, nem aquele. Tudo isso era uma grande ilusão, que você iluminou com seu sorriso e ela se desfez como névoa.
Amor casto, não precisa se consumar pra ser real. Basta você existir. E olha, ele floresce todos os dias...
Senti dor na alma. Daquelas que a gente olha pra dentro, pra fora, pra Deus e não entende o porque de tudo isso.
Por que, Deus?
Chorei. Sorri. Será que é você mesmo?
Sorri de novo, porque se for, será uma maravilha, pensei.
Inventei mil histórias pra você dormir. Apaguei todas elas.
Pedi pra Deus velar seu sono, pra um anjo me levar até você.
Fui, te vi, conversamos, sorri, abracei, e finalmente, acordei.
Por um instante faz todo sentido. Agora dei um rosto pra minha tristeza, aquela que eu sempre senti e nunca soube porque. Talvez fosse minha alma perdida de você, buscando sua luz sem te buscar.
Adormeci tantas noites e já não quis te ver nunca mais.
Mas você volta, sem eu pedir, sem eu rezar, volta porque Deus quer.
Falo Deus mesmo, porque não sei que nome se dá pra isso. Destino, Deus. É tudo uma coisa só.
E eu penso antes de dormir de novo, talvez não seja nada, seja só mais um voo seu, acima da minha cabeça e quando eu esticar minhas mãos para alcançá-lo, você vai estar alto demais...
Não tem problema. Eu rezei muito, conservei meu coração no vinho e agora vou chorar um pouco menos se tudo for apenas passageiro, como das outras vezes.
No fim que não tem fim, eu sei que você vai renascer...
Fênix...
Você reapareceu pra reacender nesse coração o que pra sempre já era meu...

domingo, 16 de setembro de 2012

O vestido de verão

A primavera estava chegando. Pensou que talvez devesse dar uma repaginada no seu guarda-roupa. Juntou um pouco de coragem e foi.
Ia tirando blusas, camisas, saias, vestidos até que se deparou com um. Sabe aquele vestido que foi tão especial um dia que a gente esconde ele no fundo do guarda roupa pra não ter que ficar olhando pra ele, todo dia depois que acorda? Pois é, Lívia havia achado esse vestido.
Tirou-o com cuidado, como de fosse um modelito raro e exclusivo de algum estilista famoso, quando na verdade era apenas um daqueles seus famosos vestidos de verão. Levinho, soltinho e de cor clara.
Sentou-se na cama, segurando-o com todo amor que sentia quando usava aquele vestido. 
Era março e ele fazia aniversário.
Presenteá-lo parecia muito difícil, pois quando se ama, o mundo não basta. Lívia amava-o, um amor-presente, desses que a gente não pede, não escolhe, ele simplesmente vem como um presente da vida, de Deus, de alguma coisa boa que você fez para merecê-lo. 
Pensou em mil coisas, ideias, mas ele, ele era tão diferente de tudo que já havia visto...
Lembrou-se das noites de março, quando apenas observava-o, atenta a uma composição e outra. Não ousava romper o silêncio. Aquelas partituras todas pareciam muito complicadas por si só.
Apenas uma vez, enquanto ele escrevia, ela lhe disse:
- Não é Libertango?
- É.
- Mas você escreveu Libertago. Faltou o N.
- Nossa, eu nem vi.
Ele sorriu atentamente, rasurou a partitura e explicou a ela o que era um Libertango.
Interrompeu seus próprios pensamentos, como alguém que vive sonhando e precisa despertar para a razão.
Tanto tempo, Meu Deus...
Os olhos de Lívia marejaram de imediato, como se aquele vestido, aquela simples peça de roupa fosse capaz de lhe trazer a tona um sentimento guardado, ocultado por ela, assim como ficou o pobre vestido de verão, escondido dela mesma, no fundo do armário.
Engoliu a emoção, como quem busca digerir o que se passa no coração. Levantou-se antes que a segunda lágrima caísse. Não se deu nem o trabalho de enxugá-las. Já já elas secariam.
Guardou todas as roupas e guardou o vestido, no fundo do armário, mais uma vez.
Questão de estratégia, preservação emocional, disse a si mesma. O vestido uma vez guardado, os sentimentos também ficariam no armário.
Fechou a porta com mais força do que costumava, na tentativa de esvanecer seus pensamentos, trancafiar qualquer lembrança dele que pudesse lhe abalar.
Mas, ah, Lívia... Que bom seria se pudéssemos guardar nossos sentimentos no fundo de um armário, que bom, que maravilhoso seria se bater a porta dele desse algum resultado dentro do coração confuso da gente não é mesmo?
Mas não é bem assim, Lívia...
Não é bem assim...

sábado, 15 de setembro de 2012

O corsário

Para um coração apaixonado, sempre há uma esperança. 
Mas dessa vez ela mesma sentia-se numa encruzilhada. Como confiar no que o destino lhe traria, na boa vontade do mar em trazê-lo de volta?
Já contava quatro anos desde a partida de Inácio e nunca mais pudera vê-lo sorrir novamente, a não ser todas as noites, quando deitava-se sozinha, com o coração triste, buscando no recôndito da memória a doce figura de seu amado corsário. E diziam-lhe os parentes aos brados quando recusava algum novo pedido de matrimônio: " Você não pode passar o resto de sua vida esperando esse maldito corsário, Thereza! Encare os fatos, ele lhe abandonou e nunca mais vai voltar!".
Chorava as escondidas quando pensava que Deus podia ao menos ter lhe dado um fruto desse amor. A essa altura, o meninote estaria com quatro anos. Mas até isso lhe fora negado. Das noites que viveram juntos, nada restara além de lembranças ternas e por vezes, desesperadoras. 
O amor sem resposta é como o desespero. Não há o que pensar, o que fazer e não se pode pensar, porque não se consegue tomar posse da razão. 
No torvelinho de suas emoções guardadas, escondidas, mentidas até para si mesma, Thereza, a menina nobre, de sentimentos puros, nascida em berço de ouro, sentira que seu coração havia morrido afogado no mar com seu amado Inácio.
Por certo, ele estaria morto ou havia esquecido sua doce "princesa Thereza", como ele mesmo costumava dizer, para sempre.
Thereza não sabia o que doía mais, se era a morte de seu corsário ou ser esquecida por ele.
Olhava para a linha que existia entre o mar e o céu. Sentia-se assim. Ela era o céu e Inácio, o mar. Por um instante poderiam parecer muito próximos. Mas era apenas uma ilusão de ótica.
O vento soprava forte e os poucos homens que se atreviam a passear na praia naquela tarde tinham seus chapéus roubados pelo vento.
Thereza desceu e foi caminhar na praia. Buscava no horizonte qualquer sinal de seu amado, um barco, uma vela ou ao menos uma má notícia. Nada. Apenas o silêncio a acompanhava. E como era dolorosa a voz do silêncio nesses momentos.
Cansada, exausta e com suas últimas esperanças ruindo, Thereza caminhou em direção ao mar. Tirou os sapatos e sentiu a água fria das ondas lamber-lhe os pés.
O corpo todo arrepiou-se. Abriu a boca como quem tenta dizer algo para si mesma, mas só sentia o gosto salgado da brisa e em seguida, o sabor de suas próprias lágrimas.
Chorou sua dor de quatro anos de espera. Chorou a falta de notícias, o desencontro, o tempo, o espaço, a distância, as condições, chorou tanto que caiu de joelhos na água, pois não tinha mais forças dentro de si para levantar-se. O vestido de veludo molhou todo, enquando ela afogava-se em sua tristeza.
E quando parecia que ia sucumbir, que a tristeza iria engoli-la por inteiro, escutou uma voz de longe.
- Thereza!
Olhou para o lado de onde vinha a voz e viu um homem que corria gritando.
- Thereza! Thereza!
Estava sonhando. Não podia ser. Era uma ilusão da solidão.
Mas a medida que ele chegava mais perto o coração de Thereza acelerava como nunca. Inácio, ele tinha voltado!
Recuperou suas forças o mais rápido que pode e saiu correndo ao encontro dele.
Depois de alguns passos, pararam, frente a frente, como duas estátuas.
- Thereza... - disse-lhe o corsário, com a voz entrecortada pela emoção, pela saudade e pelos quatro anos de espera, ansiedade, mas acima de tudo, de amor.
- Inácio...
E como uma onda que arrebenta na praia depois da calmaria, abraçaram-se, chocando-se em amor, espera e vida. O abraço do reencontro, da vitória, da confiança.
Depois de tudo que tinham vivido separados, ver-se nos olhos do outro fazia todo o sentido de tudo. O amor valia a pena. Era só saber esperar.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Do fundo do mar e do coração

Levantou-se da cadeira com raiva. Como ele podia ser tão falso?
Olívia mordeu os lábios quando lembrou que ele lhe dissera muitas vezes que não queria mais nada com aquele "problema", porque elas eram sinônimo de problema. A última era o maior deles e ele havia jogado-a para escanteio.
Teve vontade de usar as redes sociais para machucá-lo. Teve vontade de escrever-lhe dizendo que se ele tinha qualquer esperança de que ela voltasse, podia jogá-las no esgoto porque todas as atitudes dele nesse tempo pós-fim só davam mais certeza a ela de que tinha feito a coisa certa. Lauro não era homem pra ela.
Mas acalmou-se. Felizmente, depois de muito ferir-se e ferir os outros, Olívia havia aprendido a acalmar-se antes de sair por aí dizendo cobras e lagartos.
Pensou que talvez fosse uma defesa, talvez até mesmo uma defesa masculina: depois de se sentir jogado pra escanteio, correu atrás daquelas que ele havia jogado pra escanteio. Um clássico.
Estava sendo hipócrita por pensar isso dele, ela também tinha teto de vidro.E não fazia sentido algum cobrá-lo por sua aparente "falsidade". Por que ela deveria cobrá-lo? Amava-o? Certamente não. Era apenas um instinto barato de posse que como bem previu Maysa uma vez: "eu não quero, mas não quero que ninguém queira".
Olívia não podia falar de Lauro, porque muito embora negasse pra si mesma o tsunami de emoções que estava vivendo, o mar, em toda sua agitação, trazia de volta uma pedra rara de seu coração. Pedra esta que se encontrava há mares de distância, quilômetros, dias, horas, mas que, enigmaticamente havia brilhado lá do fundo do oceano de seu coração, sabe lá Deus porque. 
Pedro. Ele havia voltado como o som das ondas, música do destino, pensava ela, enquanto organizava-se mentalmente na própria desordem.
Não podia crucificar Lauro. Decidiu deixá-lo de vez. Ela não poderia cobrá-lo de duas atitudes, porque não tinha nada a oferecer. Apenas o ego ferido de ter sido esquecida depressa. Mas tudo bem, ele também não sobreviveria as grandes ondas que estavam por vir, a não ser como amigo distante que era um bocado interessante, mas não se encaixava aos sonhos dela.
Respirou fundo por conseguir compreender a si mesma.
Suspirou um alívio pela metade.
A imagem de Pedro não permitia que ela se sentisse totalmente aliviada.
Por que ele? De novo? Por que as ondas? Por que o mar?
"Onde já se viu o mar apaixonado por uma menina? Quem já conseguiu dominar o amor? Por que que o mar não se apaixona por uma lagoa? Por que a gente nunca sabe de quem vai gostar?".
Cantarolou Teatro Mágico enquanto andava de um lado para o outro, sem perceber que movimentava-se com ansiedade.
Parou. Era melhor acalmar-se.
Acalmou-se, suspirando em tempos de três segundos, enquanto uma ou duas lágrimas desciam pela face, cantarolando uma música que o trouxesse de volta, como uma menina que anda na praia a procura da mais bela conchinha. Onde estaria Pedro agora?



terça-feira, 11 de setembro de 2012

Para o maior amor de todos os amores: minha mãe!

Escrever para ela e sobre ela, muito embora pareça fácil, é uma das missões mais difíceis que minhas pobres letras já cumpriram.
É nesse momento que meu vocabulário se esgota, que as palavras somem, que nada do que eu escreva parece chegar perto da dimensão desse amor.
Minha mãe é a mulher mais incrível da face da Terra e digo isso, muito embora eu seja suspeita para falar sobre ela, tendo certeza de que não sou a única a pensar que minha mãe é sim, uma mulher incrível.
Como toda mulher incrível, não teve uma trajetória fácil. Ficou órfã de sua mãe muito menina e depois de alguns anos, ainda muito nova descobriu que eu estava a caminho.
Ela podia ter me dito não, ela podia ter pensado nela e só nela. Mas não. Ela disse sim.
Disse sim porque desde o começo ela sentia a emanação desse amor que nos une, nos ligando e religando mais uma vez na estrada infinita da evolução.
Ela sentia quem era eu, que eu estava vindo e que ela tinha que cuidar de mim, porque havíamos nos escolhido, muito embora talvez não tivesse tanta consciência disso, no fundo ela sentia que algo além do que chamamos de amor, estava nos unindo.
Esse "algo" era Deus.
Deus nos uniu desde sempre.
Eu nasci pouco tempo depois que ela completou dezesseis anos.
Recentemente pude ver vídeos da época que eu era apenas um bebê e ela, mesmo tão nova, já era minha mãe. 
Pra mim ela não mudou nada nesses quase vinte e um anos, continua a mesma menina sorridente, com um brilho no olhar inconfundível, brilho de amor, de quem tem estrelas na alma, um jeito engraçado de cantar e chacoalhar a gente, sempre nos fazendo rir.
Cresci e continuo crescendo embalada pelos sons de Balão Mágico, Trem da Alegria e uma ópera ou outra por aí, tudo cantado pela voz magnífica de minha mamãe.
Tive meus mais doces sonhos nos braços dela. Braços estes que mandaram embora os mais temíveis pesadelos.
Ainda hoje, mesmo uma "marmanja", corro pro colo dela, como a eterna criança que sou, pedindo carinho e atenção. 
Ela nunca me negou seu amor. Mesmo quando eu fui totalmente indigna deste amor, ela me amparou e me defendeu das feras, como uma leoa faz com seus filhos.
Como se não bastasse ser a razão do meu existir, me deu mais duas razões pra isso.
A primeira me deixou com ciúmes, porque eu queria uma menina e veio o Daniel. Mas tudo bem, hoje a gente se ama do mesmo jeito. (risos).
Depois de quase vinte anos, veio a cerejinha do bolo, uma personalidade forte e amável que me dá todos os motivos pra ser feliz: Alice. Fui eu quem escolhi o nome.
Um dos mais belos momentos que pude presenciar foi o nascimento da Alice. Mas não só porque foi o nascimento dela, mas porque imaginei minha mãe no dia 8 de outubro, quando eu fui nascer. Entrou sozinha naquela sala de cirurgia, com aquela monte de gente ao redor dela, num misto de medo e de alegria.
Quando entrei naquela sala de cirurgia pra ver a pequenina vir ao mundo, pensei comigo que dessa vez ela teria alguém ali para ampará-la, que não estaria sozinha e que eu poderia rezar com ela, segurar em sua mão pra esperar a pequena chegar. Foi um momento mágico, indescritível e divino.
E por falar em divino, agradeço todos os dias por ela ter me ensinado a amar a Deus, a amar Jesus e por ter me apresentado ao Espiritismo. Graças a bondade e ao amor deste coração que Deus permitiu que fosse minha mãe, posso ver o mundo com mais serenidade, mais paz, mais clareza, até nos momentos difíceis.
Aprendo todos os dias com ela. Se existe alma gêmea, sei que ela é a minha. Crescemos, choramos, rimos e vivemos juntas muitas vezes.
Se existe alguém neste mundo que merece tudo de mais lindo nessa e em todas as vidas, esse alguém é minha mãe. Lucia Helena. Nome este que significa Luz por duas vezes. Ela é a luz da minha vida,
Tenho mais do que certeza de que esse amor que nos une é a ponte que nos ligou, nos liga e nos ligará por toda a Eternidade.
Minha avó, mesmo não estando por perto fisicamente, sempre se faz presente para nos amparar e cuidar de nós. Que no dia de hoje, ela esteja ao seu lado, mãe, lhe mandando todo o amor e toda luz que você merece.
Não me canso de agradecer a Deus pela oportunidade de ser sua filha, de ter você ao meu lado sempre.
Como eu já disse uma vez: você me deu a vida, você me ensinou a falar, me ensinou a andar e principalmente, me ensinou e me ensina a viver.
Se hoje esse meu coração descompassado consegue bater um pouco mais no ritmo, é porque aprendi com você a ouvir o som das coisas que não falam somente aos ouvidos. É preciso escutar com o coração, com a alma.
Obrigada por me apoiar em minhas escolhas, por me ouvir e por puxar minha orelha, meu dedinho do pé e ser esse anjo de Deus na minha vida.
Sabe, eu não consigo imaginar direito como deve ser Maria, mãe de Jesus. Mas acredito eu, aqui neste meu coraçãozinho de criança, que ela deve um olhar assim como o seu, de quem tem estrelas na alma e o Universo no coração.
Que lá do alto do seu amor, o nosso amado Mestre Jesus possa abençoar seus passos e sua jornada, lhe dando sempre paz, serenidade, paciência, fé e muito amor.
Que todos os nossos queridos amados da Espiritualidade possam lhe enviar dos planos de luz muitas bençãos e que Deus continue a nos unir por muitos séculos e por toda a eternidade.
Desejo a você mais do que amor, mais do que felicidade, mais do que as palavras podem dizer.
Na pobreza deste vocabulário que disponho, eu diria: Dizer que te amo não basta, mas eu te amo mais do que tudo!
Parabéns pelo seu ano novo! Vamos fazer dele o mais belo possível, tenha certeza disso porque sempre estaremos juntas! Nós, esses corações que o amor uniu e que Deus abençoa sempre. Eu, você, Dan e Alice. Os filhos de Lulu, para o alto e avante! Sempre e para sempre!
Obrigada!
Eu te amo muito!

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Chá na geladeira

Sentou-se no banquinho de madeira tosca enquanto aguardava a água borbulhar. Pensou consigo mesma que talvez estivesse calor demais para beber chá, mas poderia colocá-lo na geladeira, caso a aparência do vapor saindo da xícara trouxesse desconforto.
Olhando para um ponto fixo, mas aquele olhar que nada vê, refletia sobre os últimos acontecimentos de sua vida.
Havia lido em algum site de astrologia barata que esse confronto entre os tempos era algo comum nesse momento em que estava vivendo e que algum planeta na direção de Júpiter podia ser a causa da merda toda.
Suspirou profundamente. Daqueles suspiros que buscam dentro de si a resposta para nenhuma pergunta concreta, mas que insistia em lhe trazer reflexões o tempo todo.
Lembrou-se de Maurício e de como haviam conseguido viver a moda antiga naquele carnaval numa época onde os olhares são dispensados pelos amantes e os beijos vem fáceis como confetes e serpentinas.
Lembrou-se de quando tudo parecia escuro, ela o viu, de óculos escuros e arrependeu-se por ter saído de casa tão desarrumada. Buscou-o entre a multidão e quisessem os astros ou não ele também a buscava com o olhar. Acharam-se e perderam-se inúmeras vezes.
E assim passaram, até a quarta feira de cinzas. Apenas nos olhares e sorrisos. Ah, quantos sorrisos! E depois veio o bilhete, a conversa, a voz. Tudo foi tão como antigamente que pareciam ter voltado anos no passado, onde cortejar era comum e o simples tocar nas mãos significava muito. Ela era uma fada e ele um pirata. Quase como Peter Pan.
Lembrou-se da mãe dele, dos irmãos, da família, do suco de laranja aos litros, do bolinho de bacalhau, da Páscoa e por fim, do fim.
Sentiu calor, olhou para o fogo, a água já fervia.
Levantou-se e fez o chá. Hortelã para acalmar os nervos, já dizia Leonel, o primo solteirão, entendedor de ervas, plantas e propriedades medicinais até da grama do jardim.
Riu-se de Leonel. Riu de si mesma. O chá estava mesmo muito quente. Foi para geladeira.
E num paradoxo da vida, ficou pensando que os sentimentos poderiam ser como o chá, que quando queimam demais, a gente poderia por na geladeira e então, tudo ficaria mais fácil.
Mas não era assim, ela bem o sabia. Sacudiu a cabeça como quem tenta afastar os pensamentos, tentando manter longe o carnaval, Maurício, o passado, o futuro, os cães, o vento, o tempo, o se e o seria.
Já passava das onze e amanhã tinha que trabalhar. O mais importante, disse o site de astrologia barata, era pensar no presente. E na falta de orientação melhor, era isso o que ela faria.



sábado, 8 de setembro de 2012

"Fale agora ou cale-se para sempre!"

Sabe quando você se sente um ET? Pois é, tava me sentindo assim ultimamente.
Estou beirando os vinte e um, a flor da idade, dizem-me. 
Pode ser, mas ao ingressar no novo curso, a grande e esmagadora maioria das meninas da minha idade se já não estão casadas, estão noivas e se não estão noivas estão namorando há 2 anos no mínimo, visando uma união estável futuramente. Nada contra elas, cada um sabe o que é melhor pra si.
Mas nessa eu me olhei e pensei: " Será que já tá na hora de eu começar a me preocupar com casamento?".
Entrei em crise. Não porque eu não tenha com quem casar, isso a gente arranja (risos), o noivo é só um detalhe. O que me pegou foi o fato de eu me sentir culpada e desajustada socialmente porque não sinto a menor vontade e preocupação em relação a casamento. Não acho que eu tenha maturidade o suficiente pra casar. Casamento, na minha humilde opinião, é uma coisa séria, que envolve vidas sabe, muitas vidas e eu não me sinto madura pra pegar uma responsabilidade dessas pra mim.
Cuidar e administrar uma casa, uma vida a dois, aaaaaaaah, para o mundo que eu não quero casar! Não agora!
Muitos de vocês vão dizer que eu tô certa, que é mesmo muito cedo. Ok, mas o que me assusta é que eu sempre fui dessas moçoilas casamenteiras. Não podia arranjar um namorado que já começava a viajar na maionese, pesquisando vestido de noiva, pensando como seria casar. Nossa, eu sempre quis muito casar.
E não é que eu não queira mais casar. Mas agora, é algo muuuuito distante das minhas prioridades.
Daí as nega vão dizer que é porque eu não me apaixonei de verdade, que quando eu encontrar o cara certo, aaah, me poupem desse discursinho apaixonado e cheia de caramelo que não cola.
Pra mim, quando duas pessoas decidem se casar, não basta o amor. Não basta mesmo, porque com um pouco de racionalidade a gente descobre que amor não paga contas, não compra apartamento, nem terreno, nem faz supermercado.
O amor será o alicerce de tudo isso, mas é preciso mais do que isso.
E tem gente que se escandaliza com a minha opinião. Babe, se você quer casar, vá em frente, não tô te criticando por isso, seja feliz, faça um festão e me convide.
Mas porra, eu não preciso querer casar porque vocês estão casando, certo?
Eu não preciso querer namorar agora porque todo mundo está namorando, certo?
Daí vem e dizem que eu sou chata, que eu acho que ninguém serve pra mim. Não, não acho isso. Eu só tenho outras prioridades agora. Eu posso querer ficar sozinha e MAIS, posso me sentir feliz assim?
" Fundamental é mesmo o amor é impossível ser feliz sozinho", ok, Tom, super concordo. Mesmo porque eu não sou sozinha e eu amo muito. Amo minha família, meus amigos, meus alunos, minha profissão, meu curso... Agora, vocês vem dizer que eu tô escolhendo demais? E se eu estiver mesmo? Não quero me casar pra me separar em dois anos.
Qual o medo de vocês, que eu fique pra titia?
E se eu ficar? Aliás, e se eu quiser ficar?
Será que eu preciso, será que eu tenho tanta necessidade de ter um homem ao meu lado pra ser feliz? Será que eu dependo só disso?
Eu tava em crise com tudo isso, por isso mesmo decidi escrever.
Mas agora, numa visão mais Gabriélistica de ser eu direi a vocês, minhazamiga, eu estou muito feliz assim.
Se eu penso em me casar um dia? Penso sim. Mas não é a primeira coisa que eu penso no dia e nem a mais importante. Já pensei muito nisso e hoje, com um pouco mais de serenidade eu entendo que tem coisas que vão muito além da nossa vontade e da nossa vã explicação.
Até tenho alguma esperança que em algum lugar do deserto está o pai dos meus filhos, talvez na mesma crise existencial que eu, ou num relacionamento frustrado ou dormindo numa rede debaixo duma goiabeira. Mas quer saber? Ele tá lá no fundo do plano das ideias, distante e descolorido porque não tem tanta importância agora.
Eu preciso aprender a cuidar de mim. Agora que eu tô conseguindo estabilizar minha vida do jeitinho que eu quero, pensar em mudar radicalmente porque a sociedade exige isso, não faz o menor sentido pra mim.
Deixei as pressões diretas e indiretas de lado, porque no fim das contas quem mais convive comigo sou eu mesma. Namorar porque eu me sinto pressionada a isso, casar porque existe uma cobrança social, ah, eu já me sinto um pouco mais madura pra dizer: não, obrigada.
Se o amor pintar, bom. Mas eu não vou sair pintando ninguém por aí, nem tentando adequar alguém do jeito que eu quero.
Depois de muito me lascar, tô aprendendo com o segredo da natureza: paciência.
Tem um Cara lá em cima que sabe e sempre soube o que é melhor pra mim, Ele me guia e é por isso que eu sempre estou no caminho que eu deveria estar, muito embora já tenha me desviado dele algumas vezes.
Os questionamentos e as crises sempre vão existir, a gente não pode mudar isso. Mas pode mudar a nossa maneira de encarar o que acontece com a gente.
Então, namorado, sogra, véu, grinalda, noivo, casa nova e afins, vocês podem esperar, ok? Joguei o buquê e saí fugida de motinha. Agora não é a hora, ok?
Eu vou seguindo minha vida feliz. Sozinha? Não, porque eu tenho um monte de gente linda que me ama e sempre está ao meu lado.
Eu só tô batendo as minhas asas por aí, tranquilamente, e se um dia eu achar um lugar propício, eu pouso.






sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Minha flor de laranjeira...

Os entendedores de árvores vão olhar esse novo layout e vão perceber que entre o tronco de uma goiabeira e uma azaleia, não aparece nenhuma laranjeira. Explico-me, amigos.
Um cheiro doce invadiu minhas narinas, procurei debalde saber de onde vinha. Impregnou-se e tomou conta de todo o meu ser.
Queria saber o que era. Cheiro este que havia sentido em minha infância, me trazia doces recordações e agora, trazia a paz, sensação buscada e almejada constantemente. 
Então a Naná disse um dia " que delícia esse cheiro de flor de laranjeira".
E bingo! Era a flor de laranjeira que havia me enfeitiçado. 
Numa reflexão mais romântica, sinto-me como a própria flor de laranjeira. Estamos onde deveríamos estar, muito embora não tenhamos dado conta disso antes. Muito embora frágil e sensível, desmancha-se num toque sem cuidado, deixa seu aroma, sua marca pelas narinas e corações.
Sinto-me qual flor de laranjeira e neste meu jardim secreto não tão secreto agora, só cultivarei belas flores de esperanças cotidianas.
Se o mal da dor me assolar, respirarei fundo e a flor de laranjeira irá me acalmar. Tem sido assim. E que assim seja.