sexta-feira, 19 de abril de 2013

Ou me engole ou me cospe. Mastigar não vale!

Meu rei perdeu a coroa. Deixou a princesa trancada na torre. " És minha mas te busco quando quero". A única coisa que ele não sabia é que o coração é a chave de todas as portas.
Amarrei os lençóis e desci. Presa aqui? Por ti? Não fico não!
Não se prende o amor nas gaiolas da indecisão. Amor é pássaro livre. E eu nasci com um belo par de asas.
Enquanto tu te preocupas com as finanças do teu reino, eu vou dar risada e dançar Congada com os índios e índias, mamelucos e todos os povos. O amor do mundo está dentro de nós, no bailar das saias que me dizem "não murches, minha flor, o mundo é vasto e mais vasto ainda é teu coração".
Não quero me contentar com o miserê do teu amor ralo. Mais ralo que o mingau que eu tentei fazer outro dia. Confiança é a maizena das relações. Doação é o açúcar e você quer ser amargo, mas não vai me amargar junto.
O amor do mundo é maior do que tua proposta, que me retém no teu egoísmo e na tua vontade. Não pensou nem um instantinho se eu já gostava de ti bastante mesmo. Não tem problema. O amor do mundo sai pelos poros de quem sorri tranquilo. Os teus poros estão entupidos de medo.
Medo tenho eu também. Quem é que não tem? Mas eu deixei o medo pra te seguir. Porque quando a gente tem medo a gente segura na mão do outro e vai junto, andando pelo escuro. Se eu caio, tu me segura. Eu te seguro também se tropeçares. No mundo nada é certo, só o amor.
"Se tu me quiseres tem que ser assim". Pois não te quero assim, as metades, aos pouquinhos. Ou vens inteiro, ou te vais de vez. Não me alimento de migalhas. Eu como inteiro, raspo o prato e lambo os beiços. De miserê já me basta a dieta da nutricionista. Tira-me o carboidrato, mas não tira-me a esperança do amor porvindouro. E tu me tiraste tudo que reguei. Plantamos juntos uma semente, quando virou flor eu fui colhê-la, tu me deixaste porque teve medo dos espinhos.
Eu mereço mais do que isto tudo. Isto tudo não. Isto pouco. Não te apressei, como se apressa um almoço. Tava esperando o teu ponto certo. Assim como a gente deixa a massa do pão descansar e crescer sozinha. Eu esperava teu tempo porque te respeitava. Porque não te pedi nada, mas tu me disse pra eu me fechar em balanço. Balançamos juntos num barco sem remo. A gente nada pra não se afogar. Mas morreste na praia. Enquanto eu boiava feliz, apreciando a beleza do céu.
Quis te salvar, chamei-te pra perto. Não me respondeste.
Deste miserê, não quero mais nada.
Dá-me tudo. Ou dá-me nada.
Não sou pão que tu esfarela assim.
Ou me engole ou me cospe. Mastigar não vale.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Lembranças da sala vazia

Passou os olhos pela sala. Nada de móveis, nada de televisão, nada de nada. A sala, antes o refúgio preferido, era agora apenas um cômodo vazio, cheio de caixas e lembranças inapagadas.
Era melhor sair de lá mesmo, o psicanalista tinha razão. "Conviver com o luto de uma pessoa viva só está prejudicando você". O psicanalista era a salvação da lavoura, apesar de muitas vezes detestá-lo, tinha um apego imenso aquela criatura nada simpática e que repetia sempre "você não pode depender de mim pra tudo".
Fazia oito meses que estava fazendo psicanalise. A ideia veio de um amigo que não suportava mais vê-lo destruído sentimentalmente pelos cantos. Dois meses de chororô e ele decidiu seguir o conselho do amigo. Estava surtindo efeito.
Com o olhar de quem enxerga lembranças, recordou-se de tudo o que viveram naquele apartamento simpático nas proximidades do Klabin. Parecia que o riso dela ecoava ainda mais alto com tudo aquilo vazio. Lembrou dela de camisola de ursinho, cabelo preso num coque alto e os óculos de lentes grande na mão. Andando sempre procurando algo. Ela perdia tudo em todos os lugares. Revirava o mundo, depois achava do nada. Era um hábito. Todo dia ela perdia alguma coisa. 
Ela gostava de cozinhar as receitas da avó, que era natureba porque tinha feito parte do movimento hippie. Ir a feira era a diversão dela, mas as feiras de São Paulo não são tão calorosas quanto a da minha cidade, ela sempre dizia.
Toda sexta era dia de alguma coisa ao funghi, ou panquecas integrais sem leite, apesar dela não dispensar um chocolate quente. Lembrou-se de como ela se jogava no sofá, com os pés pra cima, dizendo que não tinha nascido pra andar de salto, sempre que voltavam de uma festa.
Lembrou-se do choro e de quando ele ganhou espaço na rotina. Das vezes que ela saia do banho e ele sabia que ela tinha chorado. Ele fazia de conta que não via, sabia que estava errado. Trabalhava demais sem muito resultado. Fazia escalas que pareciam infinitas. Fim de mês era um perrengue.  E a frase que ela mais dizia era, " Você prometeu que a gente ia ficar um ano aqui só, e que depois a gente ia se mudar pro interior, lembra? Eu não vou sobreviver muito tempo aqui, esse lugar não é pra mim".
E não sobreviveu mesmo. Flores raras como ela murcham com o excesso de fumaça e a ausência de carinho, de calor humano, de amor. Ela reclamava da falta de atenção dele e ele levantava o tom de voz dizendo que ela não dava espaço pra ele, que ele se sentia pressionado.
Até que um dia ele chegou, ela estava sentada na mesa da cozinha, uma mesa improvisada, com uma caneca de chá de canela. Os olhos vermelhíssimos e a voz dura. "Senta aqui".
E aquela foi a última conversa que tiveram. Ela disse que ia embora, que ia morar na casa da avó de novo, que São Paulo ia envenená-la de decepção e a frieza dele ia terminar de matá-la. Queria uma vida melhor, mais amor, mais carinho, presença, queria se sentir importante de fato, se sentia uma intrusa na vida dele de ganhar dinheiro a qualquer custo. Queria trabalhar no que gostava, o pequeno museu da cidade e as aulas de História iam ajudar. Aquele colégio no Ipiranga não era sua praia. Queria a tranquilidade de um amor companheiro, os desafios da lida diária, não brigas e gelos consecutivos sob o mesmo teto.
Quando percebeu, estava chorando. Lágrimas abundantes e doloridas. Nada doía mais que a ausência dela. Nada doía mais saber que ela o amara, que lutara com todas as forças pra trazê-lo pra perto, pra lhe mostrar o valor das coisas simples da vida. Ele a teve em seus braços, tinha o coração dela nas mãos. Mas hoje, tinha só um eco no peito, um vazio no apartamento e as lembranças por toda parte. Chamou o elevador, enfiou as caixas nele. Apertou o "T" e desceu chorando. A vida ia ser muito mais difícil sem ela. 



segunda-feira, 8 de abril de 2013

Ninho

Lembrei do aconchego dos teus braços e senti frio. Frio daqueles que a gente sente quando tem saudade. Me encaixo perfeitamente nesses grandes braços que você tem. Eu caibo no seu peito como ninguém.
Queria olhar pra você e poder dizer tudo. Queria olhar pra você e poder entender tudo. 
Foi naquele dia que eu vi o colar de diamantes que existe no céu da noite. Vi estrelas brilhando como se nunca as tivesse visto antes. Eram cada vez mais luminosas e grandes. Pareciam mesmo um belo colar de pedras preciosas, envolvendo o pescoço dessa dama serena e secreta que é a noite. Imaginei que elas fossem descer do céu, pequenas pedras reluzentes e você as entregaria a mim. 
Fez-se um brilho imenso, um farol despontando no céu, uma lanterna, um holofote para nos dois. Uma lua clara esplêndida iluminava nossas cabeças e banhava-nos de raios cor de prata, suaves como o vento.
Disse pra você que estava com frio, mas era só mais uma desculpa pra você me abraçar de novo. Porque quando você me abraça mesmo, eu consigo entender. Não preciso falar, não preciso ouvir. Parece que entendo tudo o que há entre nós nesse abraço, nos seus braços, nesse embaraço que desembaraçamos toda vez que a gente se olha e sorri junto.
Tenho saudade desses finais de semana. Eles são escassos pra minha tamanha vontade de me aninhar em você, feito pássaro manso que busca refúgio em um ninho.
Você me agita, me derrota, me vence quando eu pego em armas, porque estou na defensiva. Não há ataque quando se quer paz, calma e coração. 
Eu sou seu ninho também. Você só precisava entender isso e repousar seu coração em mim. Porque quando você se aninha no meu colo, o mundo inteiro dorme em paz.

"Você tem uma nova mensagem"

" Malu,
Não sei o que pensar direito quando penso em você. E se não sei o que pensar, imagine o que escrever. Mas eu queria te contar, porque tudo aqui me lembra você e cada lugar que eu vou fico pensando o que você diria, que história me contaria, como você seguraria minhas mãos de luvas nesse frio horrível e que fica ainda mais gelado sem você por perto. 
Um mês passa rápido, eu penso. E passa mesmo, já são três meses com você, né? Passou rápido mesmo. Não somos bons de datas, mas eu sei que já fazemos três meses juntos. Então, um mês vai passar rápido. Otimismo, lembra? Eu só tenho mais quinze dias aqui e desde que cheguei tenho pensado em você todos os dias. Não que eu já não pensasse antes, mas parece que penso mais em você a cada dia. E parece que você ganha cores novas sob as minhas perspectivas. Dá pra entender?
Foi como aquele dia que você saiu de batom vermelho e eu disse que não gostava muito. Mas depois eu via como qualquer cor de batom ficaria linda na sua pele que mais parece um lençol de seda, cetim, qualquer um desses tecidos finos e macios, que se parecem com a sua pele.
Eu fui visitar um lugar, me falaram daquele cara que você me contou outro dia, Raspuntin. E eu fui perguntar pro guia sobre esse cara e disse "Rumpelstiltskin" e o guia caiu na risada. E eu imagino você lendo isso agora, você deve estar rindo, colocando a mão direita na testa, balançando a cabeça em sinal negativo, pensando que eu sou um idiota e sorrindo esse sorriso mais lindo que eu nunca vi um tão lindo na vida.
Fico pensando como está a sua correria entre aulas de História no colégio novo e suas pesquisas sobre a revoluções burguesas, organicismo e tantas outras coisas que eu penso como alguém pode ter tanta memória pra lembrar de tudo isso.
Eu sentei na varanda do hotel, ela é de vidro e climatizada pra proteger a gente do frio. Lá fora a neve caía silenciosa e eu via como não fazia parte de nada disso. Pensava a cada instante nessa imensidão branca e civilizada que o que eu mais queria mesmo era ter você perto de mim. De como você me acalma, mesmo longe, de como qualquer sms seu parece vir como um chá de camomila, acalmar e adoçar meus dias. Sinto falta da sensação de que posso pegar o carro e a qualquer momento chegar na sua cidade. Esses quilômetros e mares que nos separam nesse mês estão retorcendo minhas entranhas e virando meu coração no avesso de saudade de você.
É, Malu, saudade dessas que dói. Como deve ter doído em você o dia que eu disse que você vivia demais na teoria, que precisava ser mais prática. Você me confunde, Malu, porque eu nunca conheci alguém como você. Das mulheres que passaram pela minha vida ou elas eram excessivamente workaholics, como eu, ou eram mimadas e acomodadas. Nunca conheci ninguém que prezasse tanto minha massa cinzenta e não meu porte atlético e minha condição de empresário.
Nunca conheci alguém como você, que consegue ultrapassar as barreiras das letras escritas nos livros, me transporta no tempo, me leva pra conhecer Roma, Pompeia, França, sem me tirar do sofá da sala. Você me apresentou um mundo que eu não conhecia. Sempre foi e ainda é difícil pra mim entender como que alguém que "dá aulas e só estuda" poderia realizar coisas práticas.
Mas hoje, refletindo um pouco mais sobre você, o mundo e seu papel nele, Malu, nossa, eu fui um imbecil. As mudanças que você faz são muito significativas porque são mudanças profundas, sabe...
Você deve estar espantada lendo isso, mas acho que hoje eu entendo melhor você, porque hoje eu entendo o que eu sinto em relação a você. Dessa coisarada toda que eu escrevi, só queria te dizer quando eu chegar, quero você mais perto de mim, quero levar você pra almoçar na casa da minha avó, quero ir na sua casa, comer amoras do pé como você diz que faz aos domingos, quero brincar com seus cachorros e dormir no sofá da sua sala. Malu, eu só quero você mais perto de mim, como você diz "Mente, alma e coração, juntos". Pode ser assim? Diz que sim? Eu só quero você mais perto de mim, Malu... 
Tô com saudades... Muita...
Um beijo, Túlio..."

terça-feira, 2 de abril de 2013

É, menina...

Ela babou no meu braço e me acordou no meio da noite com um cutucão, resmungou que eu tava roncando, me abraçou e dormiu de novo.
Meteu os pés gelados no meio dos meus. "Me esquenta?". E como é que eu vou negar um pedido vindo dos teus olhos, menina?
Assim como eu fiquei pensativo quando você me olhou com aqueles olhos tristes, que seguram as lágrimas mordendo a ponta da língua e me disse " você entende?".
Não sei se eu entendo, não sei se eu entendo você e toda essa coisa mágica que veio junto com o balançar dos teus cabelos claros.
Não sei se eu entendo esse seu jeito místico de ver as coisas, mas de repente eu me pego flutuando na sua fala macia, me vejo batalhando na sua guerrilha, não sei nem que horas eu decidi que queria pegar em armas.
Mas depois eu hesito um pouco, tenho medo de que um dia tudo dê errado e eu me afogue no pólen das flores do seu jardim, morra de rinite, ou que corte meu pé nas conchas do teu mar, antes meu porto seguro.
A verdade é que tenho medo do que já acontece. Revogo e prorrogo os prazos do meu coração que já foi entregue pra você numa bandeja o dia que te conheci.
"Não deixa ela escapar". Essa frase ecoa todos os momentos em que penso que por um segundo, dei uma brecha pra você fugir de mim. Seja com meu jeito metódico de ser, com minhas expressões duras, com minhas cobranças que vem fora de hora e eu sei, te ferem um bocado.
Mas contrariando tudo que eu imaginava, você fica.
Você resiste as intempéries do meu comportamento austero, das minhas rogativas incessantes, porque no fundo eu só queria me certificar que é você mesmo.
E você surge de novo, no meio das chamas das minhas dúvidas, vencendo a fumaça do meu medo, resistindo heroica e lindamente todas essas coisas que afastaram tantos sorrisos de mim. Então eu paro e penso se talvez não foi pra encontrar você que vivi a vida toda. Se num instante do seu olhar, não fazem valer a pena os meses em que me arrastei sem entender direito o que eu procurava numa mulher.
Me sinto envergonhado quando vejo você me enfrentar por alguma babaquice que cometi. Porque a última coisa que eu queria ser era babaca com você. E o dia que você apontou o dedo na minha cara e disse com todas as letras que não era as filhinhas de papai com as quais eu estava acostumado, aquilo foi um golpe duro demais pra mim. E por mais que eu soubesse desde o início que não, você não era uma menininha mimada, eu fui rude em não ver os mergulhos silenciosos e profundos da sua própria história na calada da noite, sem agitação ou testemunha. Enquanto você chorava baixinho naquele dia, eu senti o medo maior tomar conta de mim.
Não quero perder você, minha menina.
Nem tua doçura, antídoto pros meus males diários que me cura aos finais de semana, com seu jeito macio de ver a vida, leve como uma borboleta, num campo de rosas. Vivendo pra ser feliz.
Fica, fica mesmo. Fica porque eu preciso do seus olhos mansos, das tuas mãos calmas, dos teus dedos firmes passeando no meu pescoço dizendo que vai tirar toda tensão num passe de mágica.
Mágica? Não tem nada de mágico nisso.
Porque quando eu olhei pra você eu pensei em amor. E foi isso que você me respondeu quando me olhou.
É, menina. É amor...