domingo, 30 de dezembro de 2012

Por um 2013 com mais amor e menos carência

Custei a acreditar que o rapazote sofria desse mal.  Mas não foi muito difícil identificar porque os sinais são sempre os mesmos. Aparente paixonite no início para depois, puf, sumir.
Palavras doces depois do primeiro encontro e um silêncio sem gosto que nunca faz chegar o segundo.
A gente nunca quer admitir que foi vítima da carência alheia. Mexe com o ego, não faz bem pra saúde emocional. Mas acontece e certamente já fizemos os outros passarem por isso. Que atire a primeira pedra quem nunca levou um relacionamento, uma ficada, um qualquer coisa adiante por carência.
Não gosto de generalizações, mas eu observo, pelo menos com as minhas amigas e afins, que nós, mulheres, temos uma particular dificuldade em identificar e aceitar que sim, o rapazote cujo qual estava nos fazendo felizes, sofre de carência e nós somos alvo dessa carência.
Nós inventamos 2000 desculpas para nós mesmas para justificar os mios, as mancadas e o aparente descaso que se segue, quando a carência dele passa e a nossa continua.
A gente insiste, achando que é a personalidade do fulano que é assim, ele é mais quieto mesmo, esqueceu o celular no carro por isso não me respondeu, tá dormindo até mais tarde por isso não me atendeu.
Não. Não é isso, fia. Ele estava carente, saiu com você, a carência dele acabou e você acabou junto. Ok, pode até ser que ele tenha uma nova crise de carência, mas po, por que a gente vai insistir num fulano que sofre de carência?
Tem tanta gente legal nesse mundo, mais disposta a ir com você no cinema, te levar pra tomar alguma coisa, ou conversar em qualquer lugar pelo simples prazer e interesse em estar com você.
Existe ainda aquele problema que se sucede depois que somos "vítimas" da carência alheia. Ficamos carentes e vamos lá, procurar um outro cara que satisfaça nossa carência. Tudo que o filho da pulga fez com a gente, a gente vai lá e faz com outro. É um ciclo de carência vampirística. Ele me morde e eu viro carente, daí eu vou lá, mordo outro que vira carente e assim caminha a humanidade, num ciclo vicioso de pessoas carentes, sem propósito, amor próprio e amor pelos outros.
Aproveitando a data que se aproxima, data em que a gente traça um monte de metas para o ano que se aproxima, tracemos uma meta sólida, que vai nos fazer melhor e fazer o mundo melhor:  mais amor e menos carência.
Não quero ser mais uma vampira carente em busca do próximo babaca que vai suprir o vazio que alguém deixou.
Acho que nós, humanos, apesar de todas as infinitas cagadas que fazemos todos os dias, temos algo de melhor em nós.
Que 2013 nos inspire a despertar esse algo bom!
Por um novo ano com mais amor e menos carência!

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Retrospectiva 2012 - O novo sempre vem!

Precisava fazer uma retrospectiva de 2012! Nossa, 2012, que ano incrível!
Disse esses dias para minhas amigas que 2010, 2011 e 2012 foram os loopings da minha vida. Três loopings, mas se não fossem eles, não seria quem eu sou hoje. E sou feliz.
Esse ano muitas coisas boas aconteceram. 2012 não começou tão bem. Eu ainda estava meio infeliz com os rumos da minha vida. Mas ei, quem disse que o looping está no começo da montanha russa?
A partir de março minha vida deu uma mega guinada. Criei coragem e voltei a dançar. Sim, senhores, porque é preciso muita coragem pra dançar. Pra assumir que um dia estive errada, mas foi necessário errar para aprender. Coragem pra fechar a boca, voltar pro regime pra ficar linda nas roupas com a barriga de fora e me sentir bem, mais uma vez, comigo mesma. Coragem para reaprender, ensaiar, se dedicar e nossa, valeu a pena! Cada gota de suor, cada centavo, valeu tudo! Dança, eu te amo! É nóis, 4ever. hahahaha
Nesse ano aconteceu uma incrível coisa maravilhosa na minha vida, coisa essa que me fez mudar os rumos de tudo e seguir meu coração. Guardei os fragmentos da paixão pelo jornalismo numa caixinha e decidi: vou ser professora.
Por que? Porque o gato bebe leite, o rato come queijo e eu? Eu sou professora (assistam "O Palhaço" e vocês entenderão essa minha colocação!).
No tempo que tranquei o curso de Jornalismo até conseguir me matricular em Pedagogia, eu fiz um curso de maquiagem incrível que me deu base para me aprimorar mais nessa área que é uma paixão latente, com isso, comecei a trabalhar também com maquiagem.
Então, arranjei um emprego que me fez sair do casulo da vida mansa: professora de dança na Apae da minha cidade.
Renasci. E renasço toda vez que estou com meus alunos que amo tanto e me fazem ver quão maravilhosa a vida pode ser!
E nesses ganhos todos, conheci pessoas incríveis no curso de Pedagogia. Alunos, professores e pessoas que me ajudam a descobrir a cada dia que foi para isso que nasci.
A partir de agosto, voltei para meu tão querido Colégio Crescer, ensaiar a nossa super festa de fim de ano, que aliás, foi incrível mesmo! Seis meses de convivência, amor, cumplicidade, carinho e dedicação! Já estou com saudades!
Nossa, tanta coisa linda aconteceu nesse ano que nem sei dizer!
Nesse ano consegui ter mais tempo e me senti mais preparada para estudar e trabalhar no Espiritismo. Quantos amigos queridos encontrei nessa seara bendita do Cristo! Quantas alegrias infinitas ainda nos esperam pelas sendas de Luz do Evangelho! Senhor, bendito sejais por me permitir isso! Obrigada!
Nesse ano eu descobri mais um pedaço de mim. Pedaço esse que percebeu que não precisa de um amor eterno, uma paixão relâmpago ou duradoura, para ser feliz pra sempre.
Amar é lindo, mas esse ano não foi exatamente o "ano do amor". Tive pessoas importantes nesse ano ao meu lado, mas foi o ano que a Gabi precisou para se descobrir capaz de viver sem uma muleta, ou de alguém pra cuidar. Precisou descobrir que antes de cuidar só dele ou daquele, tinha que cuidar dela. Não adiantava sair por aí remendando os corações alheios enquanto o dela estava todo furado, cheio de retalhos para remendar.
Não foi absolutamente fácil descobrir isso, nem indolor, mas valeu a pena, foi necessário, preciso. Hoje nós somos uma só.
Precisei me afastar do que eu achava que era meu pra ver que ninguém é de ninguém, e que nada é nosso. E assim, me libertei dos velhos hábitos, dos discos riscados, das camisas de linho amareladas, abri espaço no guarda roupa e no coração. Que eu tenha amor, paz e sabedoria para saber o que colocar ali nesse novo ano que se aproxima!
Só tenho a agradecer a todos vocês que, de alguma forma, fizeram parte desse grande ano que foi 2012! Parece que vivi e cresci 5 anos em 1. Mas foi só 2012 que foi gentil, apesar de as vezes um pouco duro e ríspido, mas é de uma alegria imensa parar, fazer o saldo do ano e perceber tantos ganhos, acertos, alguns tropeços, mas sempre mãos entendidas e amorosas dispostas a nos ajudar a levantar!
Obrigada Senhor, Obrigada Jesus, Obrigada Espiritualidade Amiga! Quão grande é minha gratidão para convosco por tantas bençãos recebidas, não apenas as alegrias, mas também as dores, os sofrimentos que nos fazem evoluir! Obrigada!
E agradeço a vocês, queridos leitores que aqui me acompanham, riem, choram e se divertem comigo, obrigada pela companhia!
Que 2013 seja um ano de muita paz, amor, fé, realizações, esperança e novidades! Porque o novo sempre vem! Obrigada, Senhor, pela infinita benção do recomeço!

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Cadu

Cadu, por que você demora? Por que não chega logo?
Essas noites tão quentes, falta o ar pra respirar. São mosquitos, pernilongos, sapos no quintal e um barulho horrível desse ventilador velho, que só faz circular esse pouco ar que não sacia a minha sede, como a água que já esquentou nesse copo ao lado da minha cama.
Cadu, as coisas seriam mais fáceis se a gente se entendesse. Se você chegasse aqui numa sexta a noite, nem que fosse as uma e meia da manhã e dizesse: "eu estava morrendo de saudades de você". E depois você poderia tomar água gelada, guaraná ou até uma cerveja. E eu poria a rede no Sol, um dia antes de você chegar, pra ela não cheirar mofo nessa noite de sexta. Com esse calor, ficaríamos na rede, observando as estrelas no céu, alguns relâmpagos que anunciam uma chuva que parece que nunca vai cair.
Cadu, eu acordo de madrugada entediada e penso, não precisamos dormir abraçados, está calor mesmo. Mas se você estivesse aqui, talvez existisse alguma brisa mais suave, um vento da madrugada que refresca os corpos e acalenta os corações.
Por que você é tão difícil, Cadu?
Você podia ser objetivo, ao invés de me levar nesse banho-maria, eu já estou cansada da sua fala mole, do seu jeito frouxo e do seu descaso.
Olha, Cadu, é a última vez que escrevo pra você. É que eu li um livro que dizia que quando as chuvas chegarem o amor virá torrencial. Astrologia barata com meteorologia de quinta. Mas quando eu penso em você, Cadu, é só estiagem, seca e calor.
Mas olha, lá no céu, acho que eu vi um relâmpago...

domingo, 23 de dezembro de 2012

Adorável Cafajeste

Eles vivem em bandos mas também tem uma rotina solitária. O seu habitat natural depende do seu humor. Eles são definidos em tipos apesar de fazerem parte da mesma espécie. Se alimentam de carne branca, morena, loira, ruiva, sem distinções, mas presam pela estética da presa. Tem mais de uma parceira mas fazem você jurar que é a única.
Cafajestes. Onde vivem? O que comem? O que fazem? Como fugir ou fisgar um deles?
Hoje no Globo Repórter.

Isso aí minhazamiga! Há algum tempo atrás eu havia escrito um texto sobre "Os Cinco Tipos Básicos de Cafajeste". Ok, mas hoje vamos falar de um novo tipo, uma variação do Cafa Romântico com o Cafa Original.
Senhoras, apresento-lhes ele: o Adorável Cafajeste.

Não é legal a gente se engraçar ou se apaixonar por um cafajeste. É sofrimento e burrice na certa. Ok, mas e quando a gente não percebe ou não quer perceber que o bofe em questão é um cafajeste?
Ele demora um dia inteiro pra responder sua mensagem, mas quando responde, é um lindo. Daí você justifica o atraso (ou descaso) dele com aquelas frases do tipo "ele deve ter trabalhado muito e não teve tempo de me responder". Ok, girl, se iluda. beijos.

Eu dizia sempre que tinha queda por esse espécie detestável de homens. 2012 mudou um pouco essa minha teoria. Os poucos relacionamentos que tive não foram com cafajestes em peso. Talvez um ou outro tivesse uma tendência a cafajestagem, mas quem está livre néam?
Porém, a gente sabe, minhazamiga, bem lá no fundo, quando nosso GPS apita e diz "Cafajeste Detected". A questão é: vamos apertar o botão "Lembre-me mais tarde" ou vamos ficar atentas?
Se ficamos atentas, devemos parar e fazer um mapeamento minucioso do comportamento do indivíduo para perceber de qual tipo de cafa ele faz parte.
O pior de todos é ele, minhazamiga, letal, fatal e amável: o Adorável Cafajeste.
Esse espécime encontrado nos bares da Avenida Paulista ou mesmo nas redondezas das cidades interioranas, costumam ter pelagem morena, são esguios, de sorriso dócil e cheiro marcante. O Adorável Cafajeste é uma mistura do "Cafajeste Romântico" porque ele fala frases fofas, te manda torpedos lindos e depois, some. Assim como faria o "Cafa Original".
Você até se faz de forte. Procura se controlar frente as investidas dele, tenta demorar mais pra atender um telefonema, responder uma mensagem, mas não dá. O poder de hipnose desse desgraçado animal é de 200% sob as vítimas, mulheres metidas a bem resolvida e com o "não caio mais nessa" na ponta da língua.
Eles levam a gente no bico. E a gente sabe disso...Oh God, why?
Institutos de mulheres mais duronas estão investindo em pesquisas em busca do antídoto contra o efeito apaixonante que essa espécime tem.
Oremos e fiquemos atentas, eles estão em todos os lugares e nós podemos ser as próximas vítimas.
Mas já somos né minhazamiga?
Porque eles são meus, seus, nossos... Adoráveis Cafajestes. (suspiro)

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Três xícaras de café para Bel

Estava sentada, olhando o vento bater nas árvores enquanto os últimos raios de sol deixavam o céu alaranjado e rosa. Do jeito que ela gostava.
"Bel, vem tomar café". Uma voz grita de dentro.
" Já vou" responde sem empolgação.
Olhou para seus pés, precisava fazer as unhas. Depois olhou em volta de si. Um lugar verde e calmo, uma paisagem bonita, um coração tranquilo, mas um vazio sem eco, com nome e um suspiro.
Não fazia nem uma semana, mas o descaso dele doía.
"Ele não é ninguém". Dizia para si, convencendo-se de que de fato, o que significam essas pessoas que tem menos de uma semana de duração em nossas vidas? Nada.
Mas ele não. E por mais que soubesse que talvez ele pudesse vir a ser tão babaca quanto aquele amigo dele, porque ela sabia quem era, pensou que atrás daquele cara descolado, vivido, de camiseta preta desbotada e sorriso redondo, tinha alguém que ela gostava.
Gostava sim e não adianta esconder quanto a gente gosta, pensava. Tudo bem que ele estava na vida de Bel há uma semana, mas quem disse que sentimento pergunta se a gente quer, quanto tempo dura ou qualquer coisa do gênero. Quando a gente gosta, gosta na lata.
E Bel tinha gostado dele. Mas ele não apareceu mais. Era lacônico, distante, frio. Ele parecia uma tsunami quando se viram, mas depois, virou uma marola.
E o peito dela de oprimiu, porque ele era tão lindo e os finais de semana na fazenda seriam encantadores com ele ao seu lado.
Caminhar entre as macieiras, molhar os pés no riacho, fazer um pique nique a toa, numa sombra de uma árvore qualquer, ele combinava com isso e se lembrou do dia que conversaram tanto, nossa, podia passar a vida conversando com ele. Ela podia imaginá-lo sorrindo e num instante, sorriu.
E se pegou sorrindo. Estremeceu. Desiludiu-se e pensou que se levou uma semana pra gostar e ter saudade dele, talvez mais uma semana pra esquecê-lo seria o suficiente.
Levantou-se, sacudiu a cabeça como quem busca afastar os pensamentos e foi tomar café. Café, que abrasa os corações desiludidos. Três xícaras de café para a Bel, tia, por favor.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Relato de uma princesa que desceu da Torre

Desci da Torre. Cansei. E dispensei o dragão, senhores.
" Não necessito mais dos seus serviços, por ora. Vá para o Caribe, senhor dragão". Ele foi, mas cá entre nós, pense num dragão tapado. Porque no script tava que ele só ia deixar o príncipe entrar. Alok, né, dragão, cheirou cola e comeu a lata, porque príncipe, pff...
Até apareceram uns príncipes made in China, a gente se ilude tanto com esse tipo de produto, né, minhazamiga?
Achei que ia ser uma revolução. Mandei pombo correio pra todazamiga princesa falando: AGORA VAI!
Mas quem disse que o felizes para sempre vingou? Vingou bosta que vingou. E ainda bem que não. Fico pensando eu, essa linda criatura divina, tendo que passar as camisa daquele condenado, ponta de estoque, produto barato e propaganda enganosa. Ufa! Vaya com Dios, desgraça!
Mas ninguém disse que vida de princesa da torre era fácil, néam.
 Daí eu decidi que não entrava nem príncipe mais. Seria uma princesa solteirona, feminista, feliz e desencanada. E levei meu projeto firme e forte. 
Fechei meu coração e tava bem convicta de que ia demorar umas décadas pra eu abrir de novo os portões do castelo encantado que bate no meu peito. Ok, princesa, até que um dia acordei feliz, amável e senti que a vida abria meu coração por mim. E não é porque tinha um bofe no pedaço, na verdade não tinha, mas o coração da gente é assim. Não é quando a gente quer e nem como... Ele simplesmente desabrocha, como uma flor que sabe o tempo de abrir. 
Na hora fiquei tensa, mas depois fui me acostumando a ter as pétalas mais vivas e o sorriso quente.
Mas, pohan, ficar aqui na Torre again, esperando aparecer outro príncipe ou voltar um outro, começar tudo daquela velha maneira... Ah, já deu, né, princesa?
Daí decidi mesmo que ia descer da Torre...
Por que esperar pelo príncipe encantado se a gente pode trombar com ele num barzinho por aí, numa cafeteria qualquer ou marcar um encontro no sábado, no domingo, ou num dia que der vontade?
Por que seguir manuais de etiqueta de "como deve se portar uma princesa" ou "Princesas espertas fazem c* doce" sendo que a gente pode mandar sms quando der vontade, até ligar, ou dizer, no ímpeto que está com saudades?
Quem disse que essas fórmulas todas dão certo? E se eu seguir e mesmo assim, não der em nada? Freud explica? Explica mas não resolve, néam?
Eu desencanei desses manuais. Não conheci, até hoje, uma princesa que tenha sido feliz para sempre seguindo esse monte de regra vomitada por alguma mal amada que encontrou a fonte da ilusão.
Aliás, desci da Torre. E tô alugando... Favor entrar em contato direto com a imobiliária. Fica no reino mais próximo. Quanto a mim, digam que fui por aí...





segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Sobre o coração, Gabi e o nós, finalmente!

Daí eu pensei " temos um coração inteiro pela frente". Um coração, uma vida. Não adianta a gente se fechar a vida toda, fugir, se esconder. E também não adianta se forçar a gostar de alguém, engolir o amor goela abaixo. Se tem uma coisa entre as várias que a gente não pode controlar nessa vida, é o coração.
Não sou eu quem decide quando ele vai descansar, quando ele vai se apaixonar. Não sou eu quem escolhe por quem ele vai se apaixonar, quanto tempo vai durar, se vamos casar e ter filhos, ou se vou esquecer você daqui uma semana.
Bem que eu e a torcida do Curintia, do Flamengo, bem que o mundo gostaria que fosse assim. Tem gente que assim como eu, ainda teima um pouco nessa coisa de controle do coração. Mas não é assim. Também se fosse, não teria a menor graça.
Passei 2012 com o coração tranquilo. Não foi o ano do amor. Não foi mesmo. Paciência. Mas foi ótimo. Aprendi que não adianta forçar o coração, que não adianta a gente colocar uma foto da pessoa no nosso mural, olhar pra ela todos os dias e dizer " AME O FULANO, É UMA ORDEM!".
Não adianta a gente engatar um namoro, um romance se o coração da gente precisa de paz, de sossego, de coragem.
Sim, porque o que falta as vezes é coragem. Coragem pra se jogar num relacionamento que a gente nem sabe se vai virar um relacionamento. Coragem pra admitir que talvez eu tenha me apaixonado de primeira e que você caberia perfeitamente ao meu lado na sombra da goiabeira, sabe. Ou mesmo coragem pra dizer não, não quero mais. Pra mim chega, basta. Vou viver uma nova história, não a sua história.
E não adianta a gente romper barreiras, quebrar muros, construir pontes porque uma determinada pessoa chegou em nossa vida e a gente gosta dela e quer vir a gostar mais. Se não estivermos preparados, cedo ou tarde, depois da demolição, voltaremos a nos blindar de outras maneiras, sabe.
O coração precisa de tempo. Tempo pra respirar, pra se entender, pra perdoar o passado, pra se perdoar pelo passado, pra ter fé no presente e coragem, confiança e amor pra seguir pro futuro.
2012 foi um ano de descanso pra esse coração sonhador que trago no peito. Ele passou grande parte do tempo descrente, distante e quieto. Não deu muito espaço nem abertura pra quem quis cuidar dele. Uma pena talvez. Mas foi necessário.
Esses dias, do nada, sem que ninguém chegasse, sem mesmo existir um outro coração que incitasse o meu a bater mais forte, decidi sair do peito.
Estava Sol lá fora. Já era dezembro. Pássaros cantavam. A felicidade de um ano bom que já ia, porque apesar de tudo, 2012 foi um ano incrível e o cheiro, a energia boa desta época que anuncia promessas de um futuro bom acenderam uma luz em mim. Algo novo e meu...
Porque só de ser novo, é uma vitória.
Conseguimos, Gabi. E nós sabemos que não foi fácil...
Pela primeira vez em todos esses anos consigo sentir o coração livre novamente. Em paz, sem remorso ou rancores.  Essas dificuldades todas foram necessárias pra gente crescer e falar a mesma língua.
Eu e meu coração somos uma coisa só. No caminho certeiro da fé que Deus colocou em nós, olhando pro horizonte belo que se anuncia, mesmo sabendo que ainda virão tempestades, lágrimas e alguma dor, posso dizer que estou feliz porque sei que posso amar novamente. E ninguém me disse... Fui em quem descobri!
É, abram alas para o amor...
Que ela seja doce, amigo, intenso e eterno enquanto dure...

domingo, 9 de dezembro de 2012

Néctar

Eu cheguei meio zonza, sem saber como agir e pensando como a gente age depois, mas pensei mais um pouco e me joguei na cama.
Ah, Luiza, você e seus devaneios... Disse para mim mesma enquanto os detalhes tão sutis poetizavam algumas atitudes que poderiam passar despercebidas, mas não para mim.
Fiquei ainda procurando palavras pra descrever esse gesto, que eu não sei se é de propósito ou força do hábito, mas se for hábito, que sutil pensamento tem ele quando faz isso...
Sai a procura de um bar e de Giulia pra conversar. Talvez ela pudesse me entender. Mas ela não podia, estava num encontro com um tal Rico, que ela riu quando pronunciou o nome dele. Disse que era a sorte grande do Natal.
Eu fui para o bar de sempre sozinha, com um livro sobre Caravaggio, cheio de ilustrações pra povoar a minha mente. Era o que eu precisava. E um café descafeinado, pra dormir bem depois.
Mas a minha mente não deixava e enquanto eu via a fumaça do café bailar e desaparecer naquela atmosfera lânguida que me encontrava, me questionava: por que alguns poucos homens seguram em nossos faces quando nos beijam?
Não sei, esse lance de um homem segurar o rosto de uma mulher quando a beija, ou mesmo, tocar na sua face, como se naquele toque ele pudesse ler tudo sobre ela.
E pensei que os poucos homens que seguraram meu rosto dessa forma foram homens especiais que cruzaram meu caminho. E segurar o rosto dessa maneira me fazia pensar em algum mito grego, que talvez nem existisse, mas onde o rapaz bebia o néctar de uma flor aquática, mística, que ele segurava com as duas mãos num gesto de delicadeza e veneração, fechando os olhos.
Suspirei. E me perguntei porque esse gesto mexia tanto comigo.
"Luiza..."
Alguém quebrou meu silêncio e eu fingir estar lendo o Caravaggio.
" Oi, Luiza..."
Eu sorri. Ele se sentou. O rapaz do mito grego que segurava a flor com as duas mãos e sorvia o néctar dela.
Enquanto ele se aproximava, eu esperei e me perguntei, "será que ele vai fazer isso de novo?".
Então ele se aproximou, ficou olhando pra mim enquanto eu sorria. Tirou a franja dos meus olhos e levou suas mãos de dedos longos e unhas quadradas em direção ao meu rosto. Trouxe-me para perto de si, juntou seus lábios no meu e sorveu de mim o néctar.
Foi então que eu acordei...

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

O dia que você morreu pra mim...

Vai fazer um ano que coloquei um ponto final na nossa história. E hoje, nenhuma daquelas músicas me comove mais.
Você desfila por aí com uma versão falsa e mal feita de mim, de cabelo tingido e nariz grande. Ela é sensacional. E você não me comove mais.
É como se você tivesse morrido. Como se naquele fatídico dia que nos vimos pela última vez eu tivesse tido a notícia de que você estava doente e morreria.
Chorei muito. Não queria deixar você ir. Como uma droga que satisfaz o viciado, você era quem satisfazia os meus sonhos frustrados e esperanças despedaçadas pela vida. Eu tinha alguém pra culpar que não eu. 
Mas os dias iam passando, vez ou outra eu chorava. Sentia sua falta, ainda me comovia quando ouvia todas aquelas músicas, quase te liguei tantas vezes depois.
Pensei que você seria dessas histórias lindas que eu guardaria no meu peito e que iria morrer com a esperança de encontrar você no além.
Mas tamanha a minha surpresa o dia que você morreu pra mim. 
Foi horrível constatar que aquele homem que eu amei, que eu cuidei, que eu fiz um monte de besteira por causa dele, não existia mais. Tinha morrido no meio de uma tempestade de sentimentos violentos, remorso, mágoas e decepções.
Eu quis ser gentil. Eu quis preservar o mínimo. Mas você conseguiu ser mais estúpido do que todas as vezes que você foi estúpido na sua vida. E daí, você morreu pra mim.
Constatei tudo o que eu amava em você, não existia mais. Que você não existia mais. Você só era um homem com um monte de propósitos, mas sem propósito algum, que encontrou na minha réplica falsa e loira um consolo para os seus dias solitários, vazios de respostas, carentes de verdadeiros afetos e com um mar de arrependimentos que lhe arrastaram para o que você se tornou hoje. Frio, egoísta e vazio.
Eu não quero amar alguém assim. Eu não tenho amor pra amar o que você se tornou. 
Talvez você fosse uma grande mentira mesmo. Mas agora não é hora de pensar nisso.
O assombro da sua morte já passou. Hoje você só me dá repulsa, um pouco de desgosto e uma série de arrependimentos que não cabe aqui dizer.
E não adianta você jogar a culpa nos meus ombros. Cada qual tem seu Mea Culpa pra bater no peito. E eu sei a força do meu punho em mim mesma, não vou me ferir carregando seus remorsos, me cobrando por algo que você nunca pode e nunca soube me dar.
Penso, com remorso, que talvez tenhamos que acertar nossas contas e dívidas, que não são poucas, em outra vida.
Mas até lá, pra mim você já morreu.
Você mesmo se enterrou. Eu apenas o sepultei. E no momento em que joguei as rosas em memória de tudo que vivemos, senti que não volto mais pra pisar ali. Acabou. Estou livre de você. 


Carta ao Papai Noel versão 2012

Querido Papai Noel,

Eu sei que a carta tá chegando em cima da hora, mas você sabe que minha vida é assim, né? Dá um desconto e me leia até o fim, por favor...
Fala véio, qué dizê, fala gato de barbas brancas e óculos vintage, como vai essa beleza toda?
Espero que esteja bem. Descansou o ano inteiro pra dezembro se fuder de tanto trabalhar né? Tamo junto mano No!
Eu gostaria de ter tido mais tempo pra lhe escrever esse ano, lhe fazer uma chantagem básica como a do ano passado, porque cá entre nós, funcionou bem né?
Mas esse ano eu virei uma pessoa do bem, sabe...
Não que eu já não fosse, mas eu dei uma guinada na minha vida e tô procurando plantar sementinhas belas, rosadas e perfumadas. De tempestade já tá bom né, No, você me entende...
Por isso, vim aqui, reconsiderar minha afirmação do ano passado.
E ela era a seguinte:
"Tava aqui pensando que o senhor podia me arranjar um namoradão digno pra eu passar esse 2012 bem acompanhada né, já que vai ser o último ano memo, Um boy magya de verdade sabe? Podia ser alto, bonito, sexy, engraçado, inteligente, mas enquanto eu pensava nas qualidades eu me lembrei que todos os anos que eu pedi um item do gênero "Afetivo" pro senhor, o senhor só me mandou ponta de estoque."

Veja bem, No, talvez você tenha mudado a sua produção de boys magya, certo? Talvez você tenha procurado novos fornecedores? E talvez esse ano que eu fui uma santa, quem sabe, eu venha a merecer Um Boy Magya Delluxe Version 2013?! Han? Han? :D
Pois bem, No, pense bem no meu caso...
Sabe, esse ano de 2012 que eu desconsiderei presentes do gênero afetivo eu diria que foi um ano de bastante paz na minha vida. Consegui ter tempo pra mim, fazer um monte de coisas que eu queria, me conhecer melhor e tal....
Mas 2013, né... Que tal você caprichar e me trazer meu morenão de zóio verde, cheio de amor no coração, cheirando perfume de macho e com uma incrível capacidade de me fazer rir e mais, me amaaar S2 LOVE IS IN THE AIR S2
Fala sério, No, tô apaixonada por ele sem mesmo conhecê-lo, hein, por isso, capricha...
Tô sendo mais do que legal em te dar uma segunda chance, por isso, não me decepcione, hein?
Ou aquele SEU segredinho vai passar a ser NOSSO segredo de novo e nem Rudolph, aquela rena metida do caçamba, poderá lhe salvar! MUAHUAHUAHUHAUHAUHA (isso foi minha risada maligna)

besos muy gratos e amicos

Gabi linda


segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Falta dela...

Olhava as gotas de suor do copo, descendo vagarosamente pelo vidro e me lembrei das lágrimas dela.
Vou sentir falta dela. É, eu sei que vou sentir falta dela...
Daquele riso farto, daqueles olhos verdes e imensos, com cílios longos que faziam cócegas nas minhas bochechas e que levantavam-se enquanto ela falava, ou abaixavam-se enquanto ela respirava fundo.
Vou sentir falta da sinceridade dela. Daquele jeito escrachado e único de dizer " eu gosto de você, mas não vou fazer nada pra segurar você aqui..." Aquela sinceridade em tudo, no sorrir, no andar, no silenciar o mundo para dizer, é amor.
Vou sentir falta do cheiro dela, da boca macia que ela tem. Da língua quente, do beijo molhado. Beijo esse que me invade, me devora por dentro e eu quero devorá-la.
Vou sentir falta dos cabelos dela no meu ombro, macios, cheirando a shampoo de flores, brilhantes, me cobrindo como uma colcha de ouro em linho, suaves e amantes.
Vou sentir falta da pele branca dela, clara como porcelana. Envolta em lençóis de seda pura, tão claro como ela, macia como algodão. Clarinho e branquinho. Igual a ela...
Vou sentir falta da voz dela, macia e sinuosa, me falando da beleza do mundo, de Deus, do invisível, de amor. Quanta beleza há naquele jeito de ver o mundo, a vida, o destino, nós dois.
Vou sentir falta do jeito dela abraçar e mais que isso, do jeito que ela me abraça, com verdade, com amor e com paz. Porque ela me traz paz e me traz um vulcão consigo, mas sei que abre mão de própria paz só para me ver em paz.
E daquele amor, que emana pelos poros dela, aquele amor que a cobre como um manto sagrado, uma santa aureolada pela beleza de seus sentimentos, pela sua capacidade de me amar. Quanta devoção naquele sorriso, Meu Deus!
Que fiz eu, nessa minha vida de andante, para receber esse amor iluminado?
Amor esse que me guia, que me aquece, e que quando nada faz sentido, de longe, me conforta.
Porque ela me ama. E por incrível que pareça, por mais que eu não acorde envolto desse amor como gostaria, sinto que ele me desperta. Abre meus olhos, beija meus cabelos, acende as velas para meus santos, reza e vela por mim.
De longe, o amor dela me alcança, como chuva boa. Vem nutrir meu coração seco de saudade. Traz o verde dos olhos dela para meu deserto e se lança contente as chamas de nós dois, para se salvar e me amar.
Vou sentir falta do sorriso dela. Do silêncio dela. Que cala frente a dor, porque a dor é muda no silêncio do choro. Segurei as mãos dela, quis reter seu corpo no meu, junto assim, porque nada podia nos desenlaçar, laço mágico do destino que nos uniu um dia.
E porque eu andasse pensativo nela, vendo as lágrimas do copo, percebendo as que se formavam em mim, uma cigana se aproximou. Deslizou o dedo fino sob as gotas de suor e lágrimas dele. Viu as lágrimas na minha garganta e disse.
- Sagrados desígnios do coração, que une para sempre aqueles que mesmo longe, jamais poderão se separar.
E eu pensei aflito e desolado, em meio a essa minha vida corrida de sons e felicidade, Deus, ah meu Deus, como sinto a falta dela!

domingo, 25 de novembro de 2012

Sonho

Foi como num sonho. Foi tudo um sonho. E como acontece depois dos sonhos, acordamos.
Acordei.
Depois desses dias longe, away, a sensação que fica pra mim é que você foi um sonho. Daqueles sonhos lindos que a gente guarda no coração, fica lembrando e relembrando só pra sentir a sensação boa que ele traz, mas como todo sonho tem seu fim quando desperto para realidade.
E seu cheiro vai se dissipando com o vento, seu rosto vai ficando cada vez mais distante com o tempo. Esse tempo que sempre leva e traz você de volta.
As lágrimas secaram. Nem há mais lágrimas para serem choradas, penso. Chorei todas elas há alguns dias atrás.
O coração encontra-se sereno, taciturno, sem esperar muito de nada. Há tanto para se fazer e daqui um mês é Natal. Talvez nem dê tempo de cultivar você no sagrado templo da saudade, penso mais uma vez. Talvez não me lembre de você todos os dias, digo para mim mesma, numa tentativa de me enganar.
Mas é impossível, porque você está no rosto daquele menino, na maneira com que ele me faz lembrar você. Você está nos olhos claros dela, na voz "vintage" daquela cantora, naquela blusinha que eu usei, de estampa que lembra louça portuguesa, tem um ar barroco que contrasta com esse meu jeito romântico de ser e que volta e meia busca você na velha canção.
Você está em mim. Tatuado nos dias que virão. E talvez aconteça como a sua tatuagem, talvez a tinta saia, fique mais fraca, mas vai estar para sempre ali. Mas é o tempo, só o tempo...
Já é domingo, meu bem. A vida corre depressa, ávida de horas, sonhos... E por falar em sonho, acho que sonhei com você...

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

" If you love somebody, set them free"

" As vezes eu acho que você não existe..."
" Como assim?"
" Não sei. Eu não esperava nada, não coloquei expectativa, mas depois desses dias, foi tudo tão... ah, sei lá..."
(...)

" Eu achei que ia ficar muito triste hoje... Mas eu tô tão feliz..."
" Que bom que você tá feliz..."
" Talvez amanhã eu não acorde tão feliz assim, tá..."
(...)

Eu mordi a língua, segurei o choro, mas não deu. Desculpe, eu não queria ter chorado, nem ter me mostrado triste. Queria ser madura o suficiente e dizer que vou ficar bem sem você...
Sim, eu vou ficar bem. Quase bem. Porque é difícil ignorar essa sensação de que toda vez que você vai embora, leva um pedaço de mim mas deixa um pedaço seu.
Parece aquele clichê de sempre, mas é assim. E dessa vez, foi sublime.
Parece que você não existe. Não é possível que exista alguém como você e não é possível eu me sentir assim, absolutamente feliz perto de você. Completa, viva e mesmo sabendo que seu avião já vai sair, eu me sinto feliz porque pude estar com você alguns segundos antes de você partir.
Tem namoros que duram anos e as pessoas parecem tão entediadas. E em pouco dias com você eu pude ser feliz por uma vida. Já valeu a pena.
Mesmo que amanhã não seja nada disso, que eu não te veja por seis meses ou um ano. Ninguém tira da gente esses momentos, sabe.
Outro dia uma alma amiga me disse " Gabi, sua vida daria uma série!"
Daria mesmo sabe. E hoje é aquele capítulo triste, que todo mundo chora, mas se sente feliz ao mesmo tempo, só pelo fato do amor existir. E ele existe. E isso é amor.
"If you love somebody, set them free".
E você me disse que isso é tão difícil, mas somos assim, meu bem.
Foi como no filme de ontem, no fim, ninguém morreu e deu tudo certo.
E eu penso se um dia nosso filme vai ter um final assim.
É claro que vou sentir sua falta. Talvez eu chore, talvez tenha chorado enquanto escrevia isso. Mas não dá tempo de chorar tanto, o show continua, você sabe disso.
Mas tudo que pudemos fazer, fizemos. É melhor partir assim, com saudades, deixando um pedaço aqui, levando um pedaço com você, do que arrancar tudo do coração como uma erva daninha. Esse é o mais belo jardim de rosas que eu já vi. Rosas são difíceis de cultivar. Talvez o tempo seja carinhoso, talvez a vida seja amena e exista uma sombra na goiabeira pra nós...
Obrigada por ter me pego em casa, por segurar minha mão durante todo o caminho. Por abrir seu coração pra mim de novo, por não me soltar durante nenhum instante. Por ter esquecido o cartão do estacionamento e o documento do carro no cinema. Por ter me levado ao cinema. Por ter segurado forte a minha mão nos momentos de tensão. Por me compreender, entender o que eu falo e até mesmo, o meu silêncio.
Eu vou ficar aqui com as lembranças que tenho de você, sempre lindas e amáveis, especialmente aquela, o  primeiro esboço do que está nas tuas costas hoje e dorme comigo todos os dias.

Obrigada por ter me dado dias incríveis e absolutamente felizes. Eu fui muito feliz. E vou continuar sendo, porque mesmo que você vá, isso não é motivo de tristeza. A saudade existe, a ausência é um fato. Mas o amor é sublime, o amor supera todas essas coisas. O amor liberta.
Obrigada por me libertar!
Vai com Deus! Esse Deus bom que um dia, permitiu que nos encontrássemos e fossemos felizes, ainda que por breves momentos...
Aqui ficam corações batendo com saudades... Sempre!





quinta-feira, 15 de novembro de 2012

A certeza do instante

Pensamos, nos olhamos e concluímos juntos que é melhor mesmo abraçar forte, mesmo que amanhã já não haja abraço.
Que é melhor sentir o cheiro doce, mesmo que amanhã o perfume se dissipe.
Que é melhor molhar os lábios juntos mesmo que amanhã eles estejam secos.
Que é melhor sorrirmos juntos mesmo que amanhã possamos sentir um pouco de dor.
Que é melhor dormir abraçado mesmo que amanhã a cama se faça vazia.
Que é melhor você me contar da sua vida e eu da minha, mesmo que amanhã tenhamos histórias para contar mas não tenhamos um ao outro.
Que é melhor estarmos juntos por instantes e guardarmos conosco as lembranças desses mágicos instantes, do que colecionarmos velhos momentos que só acumulam pó e saudades sem resolução.
Porque não podemos ignorar um ao outro, nem a onda de sorrisos, cumplicidade, sintonia e porque não dizer amor, que nos afeta todas as vezes que estamos juntos.
Mergulhemos! Deixemos a onda nos arrebatar, ainda que seja por instantes. Eu ainda ouso contrariar Oswaldo Montenegro, porque ele diz que "um instante é muito pouco pra sonhar". Não! Um instante é todo o tempo que temos para sonharmos, para voarmos por onde quisermos, para sermos felizes, ainda que seja por um instante. Pequeno e precioso instante.
O tempo nunca nos foi favorável e sempre o lamentamos. Mas hoje, com um pouco mais de vida, de tempo de vida, percebemos que não podemos desperdiçar instantes caros, pensando no sofrimento, no que pode vir depois.
Dissemos " temos hora para partir". Mas quem é que não tem?
Desses amores Doriana pelo mundão, qual deles tem a certeza de durar para sempre?
Não são todos, assim como nós, presos aos seus próprios instantes? Será que eles sabem quanto tempo mais terão juntos? Quem sabe do amanhã que a vida tem pra si? Num instante tudo pode mudar, então que certezas são essas?
Não seria a vida uma coleção de bons e maus instantes? Não seria a felicidade um amontoado de instantes queridos, calorosos e saborosos?
É claro que nós temos um futuro mais certo, dizemos. Será?
Não sei se acredito que tudo pode mudar, mas porque nos condenarmos por um crime que nunca cometemos? O que fizemos de errado?
Gostar, amar, querer. Esse é nosso crime.
Então, passemos juntos as noites na prisão do instante, entre risos e abraços apertados, observando as sombras da parede, deixando que o tempo passe lá fora, que as certezas flutuem no espaço longe de nós, porque nossa certeza é a certeza do instante.
E que por um breve momento, ela dure para sempre.

"Ainda é cedo, amor..." (Cartola)

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Jasmim...


Num instante, repousou os olhos nela. E leu. Leu como se fosse um romance. E que belo romance ela seria.
De olhos muito verdes, porém escuros na fumaça do sereno, lábios avermelhados naturalmente, cabelos contrastantes de um claro renascentista, uma poesia barroca, quem sabe um romance burlesco?
E queria romancear mais. Mas deteve-se e voltou para a realidade.
Mulheres como ela eram perigosas, concluiu, enquanto piscava duro, tentando sair daquele universo convidativo que tinha aquele olhar.
Essas mulheres assim, que você olha e num instante parece que ela já mudou de rosto, de jeito, de sorriso. E você vai achando que não é nada, que ela só é bonita, mas não percebe que as ramas que saem dela já estão se enroscando nos seus sapatos, subindo pelas suas pernas e quando você perceber, está enforcado até o pescoço, pensando como ela dorme, o que ela gosta de comer, se suspira fundo enquanto pensa no nada, se o cílios longos fazem cócegas nas bochechas quando ela beija e se pergunta como uma pessoa poderia tornar as coisas tão mais sensíveis, perceptíveis e alucinantes.
Mas você se contém de novo, porque sabe que se mergulhar, nunca mais vai voltar.
É o canto da sereia que lhe arrasta até o fundo do oceano, numa morte lenta e suave, enquanto a água salgada do mar se funde com uma eventual lágrima de raiva que você derrama, porque não entende o fascínio que aqueles olhos de esmeralda tem sob você.
E pensa que absurdo é criar fantasias com essa imagem de mulher. Você está quase se convencendo de que ela era apenas bonita e gentil, até que ela fala, macio e alto. Ri e joga os cabelos para trás. Um riso farto, quente, gostoso, molhado.
Você se permite, se transporta novamente. Conforme ela anda, todas as saias giram, é uma cigana andaluz, de pés descalços, mãos finas. E como seriam essas mãos, você se questiona...
Mas você se detém novamente. Ela é perigosa, ardilosa, você afirma para si mesmo. Nem disse nada e você já estava aí, devaneando com aquele cabelo perfumado, cheirando a jasmim, com a pele de brilho âmbar e o hálito de hortelã. Era um jardim paradisíaco, afrodisíaco.
E você caminha descalço por entre a grama e ela está sentada numa liteira, sem olhar pra você.
Mas num choque, ela te olha de verdade e você sente o soco violento e a luz amorosa que emana daquele olhar.
E ela aperta os dedos nas pálpebras, como se quisesse acordar, sorri pra você, um sorriso sensível, sereno e você tem a sensação de que por um instante, ela estava no mesmo lugar que você. Ela se vira, tal qual cortesã indiana, dama francesa, senhora do romance e se vai, pairando o cheiro de lilás que emana dela.
Mas você se detém, para, se controla, se puxa de volta para a realidade e pensa que é melhor se afastar do jasmim e do âmbar, ela pode ser muito perigosa. O amor pode ser muito perigoso.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Eu não te amo mais...

"Eu não te amo mais. Então pode pegar suas coisas e ir embora no primeiro táxi que passar por essa rua. Pode alterar o status de relacionamento nas redes sociais e pode jogar a aliança fora... Pode me esquecer..."

Seria incrivelmente maravilhoso simplesmente pegar nossos pertences que ficaram ali, no canto do outro, alterar o status e jogar o anel no bueiro...
Esquecer...
Seria tão mais fácil... Mas e o resto?
Me diz o que eu faço com o resto?
O que eu faço com a sua lembrança? Com você sorrindo pra mim dentro da minha cabeça? Com seus olhos   lúcidos me indagando sobre o mundo, me respondendo sobre tudo?
O que eu faço com seu jeito, aquele jeito que eu me apaixonei... Jogo ele fora também? Mas como? Me diz como que eu juro que eu jogo!
O que eu faço com o cheiro da sua boca, com o sabor do beijo da manhã, com o meu coração batendo forte toda vez que eu lembro do beijo da noite, dos braços enlaçados na cintura... O que eu faço com meu coração? Seguro ele com as mãos, apertando até ele parar de bater? Jogo ele fora, junto com a aliança, com seu cheiro, com sua risada que era minha? Com seu abraço quente?
Era tudo meu e o que você fez?
Ainda ontem você me amava, você dizia. Mais do que dizia, você demonstrava...
Eu lembro que via nos seus olhos, brilhantes e claros, aquele amor que era meu. Era tão certo, tão real, tão vivo e morreu.
Mudei o mundo pra ser do seu jeito. E fiz tudo errado. Porque o amor acabou assim...
Um dia o dia acordou cinza. O seu coração bateu silencioso, sua palavra falou sem vibração, sua mão tocou frio e eu despertei em lágrimas. Amargas como o seu sorriso falso, como a sua mentira, como tudo que era errado e estava ali, diante de nós.
Foi tudo uma grande mentira. Nunca foi amor, Melissa. Mas não, não pode ser.
Porque dizem que a gente sabe quando é amor. Eu sabia, era amor.
Mas acabou, morreu, enjoou. Como um doce muito doce que você se cansa do sabor e diz "não quero mais".
E o que eu faço com a sua voz me dizendo que não? Me dizendo que nunca, corroendo as esperanças, devastando o que eu tinha, numa enxurrada violenta de desamor, desafeto, falta de consideração e egoísmo.
Daí eu paro, me olho e penso. E eu acho incrível essa capacidade. Hoje eu te amo mas amanhã eu não te amo mais.
Como se amor fosse assim, uma roupa que a gente guarda no armário. Hoje eu quero vestir, amanhã eu não gosto mais dela...
Como se amor fosse copinho plástico que a gente joga fora e tá tudo certo. Mas olha, coração não se recicla.
Como se amor fosse qualquer coisa.
Dai eu paro e escuto as pessoas dizendo: Melissa, Melissa, ele não merece você.
Mas será que amor é merecimento? Eu ainda acho que merecia seu amor, mas olhe, hoje você não me ama mais... E foi assim, do nada, puff, acabou o amor.
Como se fosse fácil trocar de coração como se troca de roupa...
Eu fico aqui, tentando entender esse descaso com o amor, nesse armário de desilusões, tentando achar um jeito de jogar tudo isso fora...
Parecia tão fácil pra você, quem sabe eu consiga....

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

O vento levou...

Fiquei pensando até que ponto seria leal ao que eu disse. Fiquei pensando se o meu egoísmo tem mais importância que o valor da minha palavra...
É simplesmente tentador não poder colocar em palavras aquele espetáculo de sentimentos, de sinceridade, de olho no olho que eu vivi outro dia. Dariam textos riquíssimos, belíssimos e seriam muito acessados.
Mas eu segurei os dedos no teclado, eu prendi o choro na garganta, eu engoli a saliva do beijo tantas vezes que não vai fazer muita diferença. Eu escrevi em folhas de papel que viraram cinzas, porque eu as queimei.
Eu conheço bem a mulher que eu sou. E sem modéstia alguma, diria que conseguiria me apaixonar por mim todos os dias.
Mas amor não é arroz com feijão, não é matemática, não é sábado a noite, nem uma desculpa esfarrapada.
Amor é o prato ousado da vida, é aquele fillet mignon ao molho de lichia, com um risoto de passas, daqueles pratos que tem gente que olha, torce o nariz e pensa " não é pra mim".
Amor é física quântica, astronomia aplicada, sem saber ao certo se amanhã dois mais dois é quatro.
Amor é uma quinta feira ensolarada, sem esperar que nada aconteça e de repente uma tsunami de sentimentos bons nos invade, sem saber porque nem de onde...
Amor é conseguir chegar na hora mesmo estando atrasado, é se sentir feliz mesmo tendo dois mil motivos pra chorar, é saber o valor que se tem e saber valorizar o outro lado do espelho.
Mas não tem cotação, exatidão, quilômetros, mililitros, não tem medida certa, nem a melhor receita, nem o jeito adequado.
Respirei fundo por conseguir falar.
As palavras voaram, como borboletas novas, numa chuva de prata, com olhos rasos d'água, asas leves e gentis, voltaram e me disseram que foi o vento que as levou...

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

A pecinha debaixo do sofá....

Lembro-me daquelas tardes chuvosas na fazenda, quando madame Lion permitia-me a tarde livre para montar quebra-cabeças. Depois das intermináveis aulas de francês e correções gramaticais em alemão, eu, criança travessa nas minhas oito primaveras, buscava o deleite da diversão naquelas pecinhas.
Papai trazia muitos quebra-cabeças de presente. E eu, que vivia toda disciplinada me deleitava ao saber que podia espalhar todas aquelas peças pela mesa e pelos tapetes, sem me incomodar com mau humor de madame Lion por causa da minha bagunça. Papai dizia para ela não se preocupar, que era meu momento de ser criança e ser feliz.
E eu me perdia, horas e horas, até a hora do jantar, buscando os pedaços que faltavam. E quando estava ali, quase pronta a imagem composta por quase mil pedacinhos, um buraquinho se mostrava. Faltava ainda uma. Eu eu procurava, forçando minha visão a encontrar a bendita pecinha, a única que me faltava. E buscava tanto, transpirava de desespero por tê-la perdido, queria encontrá-la. E logo uma tristeza sem medida apoderava-se do meu coração infantil. Não via mais sentido e ia jantar.
Até que no dia seguinte, sem querer, embaixo do sofá, encontrava a bendita pecinha. Ficava tão feliz e me sentia absolutamente completa, como aquela grande imagem composta pelo quebra-cabeça, que agora sim, estava de fato completa.
Hoje, distante da fazenda, distante da infância, de madame Lion e dos quebra cabeças, penso que meu amor por você é como essa última pecinha que fica perdida embaixo do sofá.
Olho para meu coração e vejo-o incompleto. Um pedaço que falta e a tristeza me acomete. Não vejo mais sentido. Procuro-te em todos os lugares e tudo parece em vão. Olho dentro, olho fora, e busco tão longe, mas nada adianta.
Até que um dia, debaixo do sofá, debaixo do meu nariz, lá está você. E acho-te, aquilo que me faltava, uma razão. Tão simples, tão aqui, tão perto.
Penso. Esse amor que sinto por você é mesmo a pecinha que faltava no meu quebra-cabeças. Aquela que se esconde debaixo do meu sofá. Aquela que eu sempre acho que se perdeu para sempre. Aquela que eu quis tanto achar. Aquela que completa tudo. E veja só, parece-me que achei...


terça-feira, 16 de outubro de 2012

15h53

Fico besta com essa minha bipolaridade amorosa. Se ontem eu estava morrendo de amores/saudades de alguém, hoje eu estou na boa, pensando em qualquer assunto que não diga respeito ao coração. Mas talvez amanhã eu esteja nostálgica, sofrendo, me lamuriando da triste sorte do amor em minha vida. Mas na próxima semana, não estarei nem aí de novo.
É claro que quando o sentimento é verdadeiro, ele fica ali quietinho e as vezes aparece. Quase sempre vai embora, mas nunca vai de verdade. Mas sabe que até disso tenho duvidado...
Mas ando com tanta coisa nessa minha cabeça maluca, que ficar sofrendo semanas não dá mais tempo. O amor serve pra me inspirar. Os textos vem como exteriorização de sentimentos, que uma vez na tela, ou no papel, parecem diminuir de intensidade.
Cada vez que eu escrevo sobre alguém no sentido afetivo, esse alguém, em algumas situações, parece ficar mais no papel do que na minha vida. É como se eu depositasse tudo o que eu sinto num universo paralelo. As coisas passam a existir mais verdadeiramente do lado de lá. Aqui elas vão ficando mais serenas, tendo menos espaço nos meus pensamentos cotidianos, e assim eu me acalmo.
Então, se ontem eu estava com raiva quando escrevi sobre você, hoje a raiva vive no universo paralelo para onde vão meus sentimentos, através das minhas palavras.
Fique descansado, não quero mais falar sobre isso, nem sobre você. E nem foi meu objetivo magoar você. Já tem quem faça isso por mim. Eu só precisava desabafar. Entenda, se ponha no meu lugar, demorei mais de ano para conseguir exteriorizar tudo aquilo que aconteceu. Nunca mais tinha escrito nada tão profundo em relação a você e ao que fomos nós. Eu precisava vomitar. Agora passou. Vou voltar pro carro e continuar dirigindo.
Se você quiser se zangar, se doer, ter raiva, tudo bem. Sinta-se no seu direito, muito embora eu ache que o que eu escrevo, perto do que fazem com você, não é nada. Se quiser sentir raiva, sinta. Mas a raiva vai ser só sua, a minha já passou.
Eu posso parecer inconsequente quando falo certas coisas. Mas eu preciso. Tem gente que se alivia compondo música. Nem violão eu sei tocar. Eu escrevo, só escrevo, porque é isso que me resta.


segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Sentindo na pele...

Eu não fiz nada para me vingar de você, muito embora, na minha concepção, você merecesse uma vingança digna de uma Paola Bracho. Eu não fiz nada, muito embora tivesse meu coração estropiado pela sua falta de consideração e pelo seu egoísmo. Muito embora tivesse tido uma vontade imensa de fazer qualquer coisa, eu não fiz nada. Porque a vida se encarrega de nos devolver aquilo que demos a ela. A vida se encarrega de dar a cada um de nós o que merecemos. Foi e é assim comigo. Paguei e pago pelos meus erros, pela minha má conduta. Com você não seria diferente.
Olhei pra você e pensei que éramos dois estranhos novamente. Como naquele fatídico dia em que me deixei encantar pelo seu jeito de menino, pela sua fala doce e pela pureza que havia no seu coração. 
Foi tão esquisito olhar pra você e te ver assim: estranho. Pensar que já tivemos planos, que já conversamos tanto, que repousei minha cabeça cansada no seu colo amigo, que encontrava paz quando encostava minha testa perto da sua, sentia sua respiração perto da minha boca, encostava meus lábios nos teus...
Pensar que já o vi chorar, que já ouvi sua voz ressoar no quarto vazio, dizendo da imensa felicidade que sentia porque achava que podia amar de novo, que achava que me amava.
Quantas vezes eu vi o brilho nos teus olhos porque comigo você era amado e sabia disso. O grande problema é que não é porque a gente é amado que consegue amar na mesma intensidade. 
Quantas vezes eu te pedi sinceridade, quantas vezes eu te perguntei se era aquilo mesmo, se seu calcanhar não estava acorrentado ao passado, se o seu olhar era feliz longe do meu, se seu coração batia por outro nome que não era o meu. Chorei e pedi a verdade. Mas você mentiu. Mentiu pra mim, mentiu pra você. E olha só o que a vida devolveu... Uma mentira!
Não é que eu me sinta vingada. Num impulso egoísta, eu quis me sentir vingada. Mas na verdade, me sinto ressarcida pela vida. É, isso mesmo. Não fui vingada, não me vinguei, não fiz nada pra isso acontecer. Pelo contrário, rezava todos os dias pra conseguir perdoar você, pra que você fosse infinitamente feliz, mas a vida é justa, a vida nos ensina. Espero que dessa vez você tenha aprendido.
Sabe aquela velha história de o mundo dá voltas?
Pois é, ele deu. E não, não estou esperando por você. Hoje eu consigo ver que uma das muitas razões de não termos dado certo é que somos absolutamente diferentes. Eu sou China, você é Estados Unidos. Eu sou comunista, você é capitalista. Não rola.
Talvez você me leia, se zangue e pense que esperei muito pra isso acontecer... Talvez, há um ano atrás, eu estivesse esperando mesmo você dar com seus burros n'água.
Mas hoje é diferente. Da última vez que lhe vi, não consegui lhe desejar mal, nem torcer pra vida fazer você chorar todas as lágrimas que derramei de você. Depois de me fazer passar por durona, de fazer pose de "vingada", lá no fundo, quando olhei pra você, eu vi aquele menino. Aquele menino que eu conheci, mas que ninguém entende. Um menino com uma luz enorme, mas que insiste em se ofuscar atrás de uma sombra. Um menino feliz, puro, com o coração machucado e as mãos doloridas, de tanto dar murro em ponta de faca. 
Talvez você volte pra sua faca, como já vez tantas vezes, talvez encontre abrigo naquele coração vazio de afeto e de consideração por você. Talvez você corra de novo pro seu poço e fique lá, matando a sede do nada que te nutre, no escuro, sem querer olhar pra luz.
Não, eu não sou, nem quero ser sua luz, ok? Não mais.
Eu esperava que no dia que eu fosse escrever esse texto iria sentir uma grande alegria por você ter morrido na praia. Mas não. Eu estou aqui, no pier, olhando você de longe, esperando que de alguma forma, você possa aprender a nadar sozinho, sem ninguém pra te puxar pra baixo. E que você aprenda que se um dia a gente fere um coração, no outro, o nosso será ferido. Causa e efeito. Mas é melhor eu parar de falar isso, acho que você deve estar sentindo na pele...




quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Castelos de areia

Você disse que precisava ir embora, eu te acompanhei até o carro. Num sorriso gentil você se despediu de mim. Fiquei com seu cheiro cítrico no meu nariz e voltei pro bar, só pra entender o porque de tudo isso.
Sentei e o garçom viu que voltei sozinho, desmotivado, sorriu e me disse.
- Não foi dessa vez, amigão!
E eu, como se não tivesse nem ânimo pra responder, cerrei os lábios e levantei as sobrancelhas, numa tentativa tosca de comunicação. Ele logo entendeu e me trouxe uma cerveja. Depois, duas, três.
Pensava enquanto conversávamos que você não ia aceitar meu convite, mas você veio mesmo. E enquanto você me contava da sua vida pensei que um dia você me amou, Clarice.
E quando pensei nisso, o bar todo ficou cinza, seu sorriso ficou mais claro e senti um gelo imenso que nasce do estômago, sobe pelo peito e chega a sufocar na garganta.
Você me amava, Clarice. Amava sim, porque eu a vi chorar tantas vezes por minha causa e eu vi seus olhos me pediram sinceridade tantas vezes e eu, eu fui o mais completo de todos os idiotas.
E quanto mais você me contava da sua nova vida, eu tinha mais noção do quanto de tempo eu perdi, do quanto de você eu perdi. Você mudou de profissão, de emprego, de roupa, de tudo. Mas esse seu jeito de olhar pra cima procurando uma resposta pra tudo, esse seu jeito de suspirar fundo e sorrir devagar depois, essa sua maldita gentileza comigo, depois de tudo que aprontei com você, isso me aniquila aos poucos e eu sinto uma vergonha imensa de mim, de você, do mundo.
Será que você já era essa mulher estupidamente fascinante quando nos conhecemos? Por que eu não via isso?
Você se levantou, foi ao banheiro e no fundo do meu coração mesquinho eu tinha esperança de que você trouxesse alguma esperança de lá.
Mas nada. Você brinca, ri e faz piada do que fomos um dia, como se fossemos bons amigos, como se tudo o que vivemos tivesse sido uma história adolescente. Seu sorriso altivo é uma prova clara que você me superou, que você me venceu. Você ganhou, Clarice e sabia o tempo todo que ia ganhar.
Quando olho essa luz que emana do seu jeito alegre de me contar as coisas, de me perguntar de tudo, fico pensando o grande bosta que eu sou por já ter feito uma mulher como você chorar e sofrer.
Fico pensando se eu tivesse sido mais sensato, se eu tivesse entendido o seu amor, a sua devoção por mim, estaríamos nesse mesmo bar, mas a sua cadeira estaria ao lado da minha, minha mão encostada na sua, e o seu cheiro cítrico impregnado na minha camiseta. Você ia rir pra mim, como você costumava rir sempre, ia perguntar se podia dirigir meu carro, depois ia me amar como se eu fosse o último e o mais lindo homem do mundo, depois íamos ouvir música, falar do mundo, das constelações e nas influências planetárias que me trouxeram até você.
Eu seria capaz disso hoje, Clarice. Eu seria capaz de amar você, de entrar na sua dança dos sete véus, de me perder na sua cama apertada, de apertar seu rosto contra o meu, de enxugar qualquer lágrima sua dizendo que eu te amo e te amarei, se você permitir.
Mas não há permissão pra pessoas como eu. Não há volta, segunda chance, porque eu perdi tudo. Perdi a ilusão, perdi quem eu era, quem eu poderia ser e nessa minha vida tosca, sem graça e dolorida, perdi você. Dos meus maiores enganos, da minha cegueira ilusória mais profunda, não ver que você estava ao meu lado, tentando construir nossa história enquanto eu desmoronava seus castelos de areia, sonhos e amor com a minha frieza, com aquela coisa que eu achava tanto que ia dar certo, mas Clarice, você sempre esteve certa.
Bebi demais e confesso que queria ter me enterrado com todos os castelos teus que eu destruí quando te liguei bêbado naquela noite, pedindo pra você me buscar.
Numa risada sem graça, você me respondeu.
- Se você quiser, Ulisses, eu e o Bernardo podemos ir buscar você...
Clarice, maldita hora que te perdi, maldita hora que destruí teus castelos de areia...

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Pobre menino bobo

Pobre menino bobo. Do teu coração cheio de crateras do descaso, buracos feitos pela indiferença do teu sentimento puro. Não te compreendem, não te enxergam, maltratam-no nas fibras amorosas desse músculo com ritmo, que já bate descompassado, combalido por mais uma vez se encontrar triste e choroso.
E sozinho você pensa, " de novo não", enquanto as mesmas lágrimas tornam a escorrer pelo mesmo rosto, pelo mesmo motivo. Essas lágrimas que já molharam seu travesseiro, que se fundiram com a água do chuveiro, que caíram outro dia sem querer, as mesmas malditas lágrimas.
Pobre menino bobo, que não vê uma saída, que não vê uma mentira, que não quer ver a verdade. Continua a se aninhar naquele colo vazio de amor, vazio de carinho, vazio de compaixão. Um colo que não lhe quer tanto, quanto você o quer. E você retorna, como uma criança indefesa, suplicando calma, coração, mas que coração é esse que não quer bater no mesmo ritmo do seu? Que coração é esse que só vê a própria dor? Mas que dor é essa que não é a sua? E você se põe triste novamente.
Pobre menino bobo, tantas vezes eu quis alertá-lo. Eu vi um dia a pureza do seu olhar, mas nesse mundo, menino bobo, é difícil a gente ser puro. Quando a gente se mostra de alma e coração, é logo incompreendido, ultrajado, tem os sentimentos levados como um brinquedo, leva logo um soco na boca do estômago, fica com nó na garganta e andando num zig-zag sem fim, sem encontrar o caminho de casa.
Pobre menino bobo, que ainda mendiga os farelos dessa tragédia anunciada. Que ainda busca água no deserto, que ainda busca amor no egoísmo.
E vais andar mil milhas, podes até reencontrar carinho, mas esse carinho limitado que te faz sangrar por dentro e querer sumir da vida e do mundo. E vire e mexe, será sempre a mesma história. Você aí, com o coração maltratado sem ninguém para lhe fazer um cafuné...
Já tive muita pena de ti,  pobre menino bobo, mas o que eu posso fazer?
Eu já quis lhe mostrar você pode ser apenas um menino se quiser, mas você insiste em ser um pobre menino bobo...
Ah, pobre menino bobo...

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Caio

Difícil não me lembrar de você. Impossível não me lembrar de você nesse dia que se foi.
Foi o dia que você se foi.
Se foi do corpo, se foi pra lá, pra perto de Deus, longe do nosso olhar, mas pro mais profundo que há no meu coração.
Todos esses últimos aniversários, desde que você se foi, chega uma hora do dia que uma névoa de lágrimas surge sobre meus olhos por um instante. Impossível não chorar. A saudade de você é algo muito real. Talvez o meu remorso por ter brigado tanto com você, por ter sido tão incompreensiva. Mas penso que hoje, num lugar melhor, mais esclarecido, com mais amor e mais paz, você deve ter me perdoado.
Caio, fico pensando se você já pode vir me visitar...
Se durante esse meu dia você esteve por perto, com algum anjo de luz que lhe trouxe pra me ver, pra ver os seus...
Fico pensando onde você está, como deve estar sua vida aí e tantas coisas lindas que você deve ter visto...
Enquanto escrevo esse texto, olho ao redor do meu quarto, procurando, num lâmpejo, você e os anjos, um brilho especial, só pra saber que você está bem...
Muita coisa mudou desde então. Eu mudei muito. E fico pensando se você ia ficar feliz em me ver professora, se ia sorrir se me visse com as crianças. Talvez, aí onde você está, deva  ter um monte de crianças...
Todas as quintas, nos desenhos que vejo no Centro, procuro seu rosto. Quem sabe você não apareceu por ali? Nunca te vi, mas as vezes tenho a sensação de que você esteve ali, quem sabe...
Sinto sua falta. Mas não se prenda as minhas lágrimas, não se prenda ao meu egoísmo, ao meu remorso.
Segue livre junto de Deus, busca sempre o amor, a paz, busca Jesus dentro de você e eu sei que, um dia, vou poder abraçar você e agradecer pela sua proteção enquanto estive na Terra.
Caio, sinto sua falta, mas quero que você saiba que tenho imenso amor por você. Que Deus e Jesus lhe guiem na Espiritualidade, que os bons espíritos estejam sempre com você.
Apareça em sonho qualquer dia, só pra me dizer que você está bem mesmo...
Vou ficar esperando...
Saudades....

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Coisas que você deveria saber sobre mim - Rumo aos 21!

Os vinte e um se aproximam. E eu poderia escrever um texto "vivendo a crise dos 21", porque aquele do "Vivendo a crise dos 20 anos"é um dos textos mais visualizados do meu blog até hoje.
Mas esse ano vou fazer diferente. Porque conforme o tempo vai passando a gente vai ficando mais chata, crítico e exigente. A gente muda também. Muda muito. Vish, eu mudei tanto...
Mas sabe, algumas pessoas que me conheceram com quinze anos, acham que eu sou exatamente a mesma pessoa que eu era...
Por esses motivos acima, decidi fazer um texto de coisas que você, minha amiga, meu amigo, ou pessoa interessada na convivência pacífica e harmoniosa com esse ser que vos fala, fique sabendo sobre mim. Porque sou incompreendida #momentodrama.
Especialmente nesse blog, mas vamos lá. Se você quer ter uma convivência agradável comigo é bom que leia tudo isso. Caso contrário, desligue essa merda de computador e vá ler um livro.
De otária eu só tenho cara. Digo muito essa frase. É, assim mesmo, curta e grossa. Muito embora você, camarada ou farsa amiga que esteja me lendo, já possa me ter feito de otária um dia nessa vida, eu não sou idiota. Eu simplesmente deixo passar. Porque tem coisas que a gente vê que é melhor fazer de conta que não viu. E isso só o tempo ensina...
Quando disse que era incompreendida nesse blog, tava brincando, mas ao mesmo tempo, tem uma certa verdade nisso. Porque a pessoa que "me lê", muitas vezes acha que me conhece, que sabe tudo da minha vida. Tá, talvez você até saiba alguma coisa, mas eu não me limito a uma tela, sabe. Você leu um conto romântico aqui e tem certeza que eu estou com saudade de um ex. Ok, pode até ser. Mas você já parou pra pensar na possibilidade de tudo ser apenas imaginação? Figura de linguagem? Apenas uma história que serve pra extravasar e depois passa? Já parou pra pensar que nem tudo que eu escrevo é pra você, pra sua amiga ou pro seu ex ou atual namorado? Já? Não? Faça isso. Porque algumas pessoas tem uma mania cretina de se acharem alvo/centro do universo de todos os meus posts. Babe, eu não conheço só você, nem só ele e eu tenho uma imaginação absolutamente fértil, sabe. Então, talvez você não seja a personagem do meu texto, desculpe.
Eu me apaixono fácil. Mas descobri, também com o tempo e com as experiências, que me desapaixono com a mesma facilidade. Ainda mais se eu tiver que me convencer de que você pode ser o amor da minha vida. Vamos durar um mês, querido. E só. No segundo mês já estarei broxada porque vou ver que minha vida de 'forever-alonismo' tava sendo mais sossegada. Pois é, triste pra você. Não deve ser legal ter uma ex como eu. Ainda mais com essa minha auto-estima, hahaha. (brinks)
E por falar em relacionamento, descobri que eu amo meu status de relacionamento. Gabriela Sikorski está solteira. E feliz. Não imaginei que pudesse ser feliz assim. Eu até tenho uns dias de carência, de saudade, mas fico pensando se aquilo que eu idealizo vem pro plano concreto, será que eu ia querer mesmo? Abrir mão dessa vida que eu tenho levado, buscando meu equilíbrio, amando tudo, mesmo que o amor não me seja absolutamente favorável? É uma baita duma encruzilhada. De um lado tá aquele amor romântico, que eu sempre quis, do outro está uma certa paz que eu acho que nunca tive antes. Uma sensação de liberdade. Talvez eu queira deitar na grama do meu quintal com você do meu lado. Mas talvez eu queira deitar sozinha...
Eu choro fácil. Mas aprendi a engolir o choro. Mas engolir até a hora do banho. Uma vez sozinha, é só água. Literalmente. Mas não é sempre, as vezes o eco do banheiro me ilude e eu acho que canto bem.
Eu sempre sou aquela que os outros fazem piadinha. "A Gabi é doida", dizem. Ok. Pode até ser, mas não ache que porque você fez uma ou outra piadinha comigo e eu dei risada, que você sabe tudo da minha vida. Eu sou transparente. Mas mesmo assim tem coisas que você não vê, não percebe e nem vai entender. Então não ache que só porque eu sou sincera, falo o que eu penso e você me zoa por isso, que você me conhece. Pra você me conhecer mesmo, precisa parar de ficar tirando uma com a minha cara só porque eu sou legalzona e engraçada e olhar pra mim. Nem sempre meus olhos estão da mesma cor. Se eles estão mais verdes, provavelmente eu chorei ou tô me sentindo muito feliz. Mas vocês, muito entretidos em tirar uma da minha cara porque "a Gabi é gente boa" não percebem isso e nem mais um milhão de sinais que nem todo mundo capta. E as vezes, eu acho mesmo que ninguém percebe...
Eu falo muito mesmo e não tenho botãozinho de "MUTE", então, se você não gosta disso, fique longe de mim.
Se eu gostei de você aos quinze, não significa que continue gostando aos vinte, vinte e um, ok, colega? Encare os fatos. Não sou aquela eterna adolescente otária que eu era, tá? Nem a menina de 18 anos que você ajudou a apresentar o mundo. Eu cresci um pouco mais do que você, ele ou aquele outro podem imaginar...
Sou apaixonada pelos meus irmãos, pela minha família, pelos meus alunos e pela dança. Não mexa com nenhum desses itens (especialmente com a minha mãe e meus irmãos) e você me verá louca da vida!
Eu só tenho cara de metida. Converse comigo e você vai ver quão preconceituoso pode ser. Mas se eu for escrota com você, pode ter certeza, você fez algo pra isso. Não tenho raiva gratuita, pelo contrário. Eu tento me aproximar das pessoas, tento ser legal. Mas eu sou seu espelho, lembre-se disso.
Agente é o 007 e você pode estar feliz DEMAIS, nunca DE MAIS. Detesto esses erros gramaticais gritantes. Me broxam.
Se você vai exigir algo de mim, é bom que você tenha esse algo também. Num exemplo idiota: não exija meu inglês fluente se você não fala inglês fluente. Não me critique por algo que você também não faz.
E mais: não ache que eu te amo porque eu curti sua foto, que eu sou sua best friend porque comentei seu status, que eu quero casar com você porque você acha que é personagem do meu texto.
E não venha me falar de amor, se você nunca amou na sua vida. Não me veja falar de perdão, se você não sabe perdoar, não venha me falar de religião, se você não acredita em Deus.
É, o tempo passa e a gente fica chata mesmo. Cheia de crises, de coisinhas, mas eu tô aprendendo muito com tudo isso. Quem sabe no ano que vem, o texto seja menor, quem sabe eu esteja mais fácil de lidar, né...
Ah! E não ache que porque você leu esse texto, que você sabe tudo sobre mim agora, ok? (:



domingo, 30 de setembro de 2012

Refúgio Seguro

Fechou o livro. Despertou. A viagem havia sido intensa, muito embora não tivesse saído do lugar para viajar. O passaporte para tal viagem estava nos livros. Eram muitos passaportes em sua estante improvisada.
Cairo, Cafarnaum, Paris, até Pompeia se quisesse. Era bom viajar. Sobretudo sem sair do lugar. Viagem da alma, passeio do espírito, lugares da mente, descanso do coração.
Porque quando lia, desligava-se. Não se lembrava de si. Não se lembrava que estava no quarto, na sala ou deitada a sombra da goiabeira. Estava nas tendas de Jacó, numa vivenda cercada de lilases na Rússia, numa varanda enluarada em Pompeia, num canto qualquer lendo uma revista esperantista. E não era ela quem estava, eram as mulheres, heroínas ou vilãs, amadas ou amantes. Ela apenas se transportava e vivia na pele daquelas mulheres todas. Nascia e renascia em cada página.
Sentia o cheiro do almíscar, o gosto da romã, do carneiro, sentia o vento quente ou gélido. Ouvia os lobos, ou as crianças a cantarolando pela roda.
Tinha raiva, sentia ciúmes, sentia paixão mas sobretudo amor. Entristecia-se, chorava lágrimas tristes, caladas, por vezes choro de criança, outras, um choro de mulher que ela já conhecia: o da partida.
Mas não se importava consigo. Não era a história dela em questão que importava. Na verdade, não queria pensar em sua própria história.
Era um refúgio. Refúgio seguro da alma. Escondia-se do mundo, achava-se no universo. E por um instante, estava em paz. Desligava-se, conectava-se a outros mundos, outras esferas, pessoas e lugares.
Podia pisar no solo quente da Judeia, podia encontrar anjos que lhe davam sábios conselhos pelo caminho. Podia voar e caminhar em paz.
Os livros. A leitura. O refúgio seguro de si mesma.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Dezesseis outra vez

Talvez pudesse pensar menos em você. Talvez, é apenas uma hipótese.
Mas eu não quero. Não quero porque tenho minhas razões.
Você reacendeu em mim algo que eu achei que tivesse esquecido, que o tempo tivesse apagado, que jamais pudesse sentir de novo. De volta aos dezesseis. É assim que me sinto quando digo que você trouxe de volta a sensação de estar feliz porque se ama, de se apaixonar por alguém que talvez nem saiba que você exista, mas só o fato de estar apaixonada de novo, dessa mesma forma que me apaixonava quando tinha dezesseis anos é absolutamente maravilhoso.
Mesmo que você não volte, mesmo que você não fique, mesmo que jamais nos casemos nem tenhamos filhos, mesmo que tudo isso seja uma grande ilusão, sentir o que tenho sentido desde que você reapareceu é incrível, mágico e eu não quero abrir mão disso.
Mesmo que tenha que me iludir um pouco. Mesmo que tenha que escutar Nando, Cássia, Chico e La Valse d'Amelie todos os dias. Eu não me importo, é música boa, de gente boa que aprendi a gostar com você.
Você só me traz coisas boas, sempre. Até a raiva que eu tento sentir as vezes por pensar que você está longe, que demora pra vir ou que já me fez sentir quando nos desencontramos em alguma curva por aí. Não dá. Você é um incrível amontoado de coisas belas, felizes e musicais que quero ter comigo, enquanto me fizer bem.
Tenho acordado feliz. Um feliz surpreendente sem propósito. Veja, você está longe. Muito longe. E quando voltar não vai ter tempo pra mim, digo isso porque lhe conheço o suficiente pra saber que você vai estar muito ocupado, como sempre esteve. E toda a espera desses dias serão inversas aos dias que você vai passar aqui, porque você se vai depressa, mais uma vez.
E nem sei se você vai me procurar com um girassol nas mãos, pra dizer que sentiu saudades e que me quer ao seu lado, mesmo que seja por quinze dias. Tudo me diz 'não', tudo me diz pra ficar longe. Menos o amor. 
Menos o meu coração, menos a minha alma que vibra feliz e contente, de volta as doces sensações do amor aos dezesseis anos.
Senti tanta saudade desse sentimento maravilhoso e belo, simples e puro, que não precisa de formas nem apegos, que não precisa se consumar para existir, porque ele vive só pelo fato de você existir...
Esse sentimento que aquece meu coração nesses dias frios e distantes de você, que me faz rir sozinha enquanto caminho pela rua, como a adolescente apaixonada que eu era e que consigo ser, porque você me trouxe isso de volta.
"Isso que é amor, Gabi". É o que as pessoas me dizem.
E deve ser mesmo. Porque sinto esse amor imenso por você, mas não quero lhe prender. É claro que seria feliz em ver você repousando a cabeça no meu colo, como naqueles dias felizes de março, mas se não posso tê-lo fisicamente, tenho-o no coração e isso ninguém pode me tirar.
Cuido de você todas as noites e todos os dias. Canto, porque a voz do meu coração é bela que só. Combina com seu violão afinado e com o timbre do seu riso gostoso, com o cheiro do seu cabelo liso, com a pontinha do seu nariz de árabe, de pierrot.
Bendito seja o Carnaval que nos conhecemos, bendito seja Tom Jobim e "Gabriela", bendito sejam os girassóis, bendita seja a hora que nos vimos, que nos beijamos, que nos perdoamos tantas vezes depois por esses desencontros que nunca foram nossos.
Bendito seja o amor que bate vivo e firme, há mares de você, nesse coração que só lhe quer bem, feliz e em paz.
Que vibra intenso, mágico e adolescente. Dezesseis outra vez.

                                                          Aos dezesseis. E o girassol...

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Ladainha

Mariam chegou chutando tudo, jogando bolsas, cadernos e o coração. Que tinha feito para merecer tal sorte? Devia ter sido algo muito sério.
Com raiva, duas lágrimas saltaram de seus olhos, uma após a outra. Um protesto da alma fragilizada, dolorida há tantos anos, sem razão nem porque.
Chorou de raiva, de saudade, de angústia, de desespero. Tudo podia ter sido mais fácil, teve quase cinco anos para esquecê-lo, motivos mil e por que, Santa Mãe, ele parecia mais vivo que nunca naquele coração maltratado que Mariam carregava no peito?
"O tempo cura os amores mal amados", disseram-lhe. Mas que grande besteira! O tempo era o maior canastrão, mentiroso e ardiloso. Enganara-a, pensou. Porque acreditava-se imune aquele amor sonoro e bem-vindo como um musical de outros tempos. Estava curada, tinha certeza. Ele poderia aparecer-lhe com flores mil, girassóis ou tulipas, rosas ou estrelas nas mãos. Ela não o amava, dizia para si. Mas que grande e bela patacoada, pensou engolindo três lágrimas arrependidas. Ele sempre esteve ali. Foi o próprio coração de Mariam que, numa fuga insana de si mesmo o havia escondido muito bem.
Que sina, ela pensava consigo, enquanto retorcia os nós na garganta, buscando afogar o monte de sentimentos que lhe afloravam a todo instante, enquanto Oswaldo Montenegro cantava musicas do ex amor.
Por que trazê-lo a tona, são mais de seis bilhões de pessoas no mundo, pensava consigo, por que ele, por que Jorge?
Olhou para São Jorge na parede, pedindo um alento do bravo guerreiro dos cristãos.
Fechou os olhos e rezou. Era a única coisa que conseguia fazer naquele instante. Pediu pra Deus arrancar aquele amor do peito dela, que ele deixasse seus pensamentos, que ela pudesse respirar em paz.
Mas quanto mais ela pedia, mais vivo Miguel se fazia nos pensamentos dela. Via-o sorrir, enquanto pedia pra Santa Maria proteger-lhe o coração. Via-o cantando enquanto orava pra São Jorge resguardá-la da decepção. Encontrava-se no abraço dele enquanto murmurava a última prece que conhecia.
Miguel era um anjo. Que culpa tinha ela?
Não tinha como não amá-lo. Não tinha como não querê-lo. Era doce, amoroso, digno daquele amor que Mariam lhe confiara.
Podia condená-lo pelo descaso dos últimos dias, podia condená-lo por não amá-la, mas que culpa tem os corações?
Fechou os olhos, como quem busca desaparecer.
Abriu e viu um denso nevoeiro de lágrimas.
A mesma ladainha, depois de tantos anos, a mesma ladainha...


domingo, 23 de setembro de 2012

Insônia

Deitada, buscando o sono que não vinha, lembrou-se do diálogo sonolento que tiveram, há tanto tempo atrás, que quase não se recordava das falas.
"Acho que eu dormi", disse enquanto tentava disfarçar o sono aconchegante que o embalara sob o perfume dela.
" Não precisa ir embora agora..."
" Mas já tá tarde..."
Lembrou-se de terem adormecido no sofá, aquele sono pacífico e amoroso que nos invade quando o mundo de dentro parece estar na mais perfeita harmonia.
Nunca mais dormiram juntos. Nem no sofá, sem querer, nem na cama, por desejar, nem em nenhum outro lugar.
Ficou pensando se agora, mesmo com todos os fusos, mares e distância, se ele dormia em paz.
Como seria sua expressão, se dormia virado para direita, ou para esquerda. Se um dos braços tampava-lhe os olhos, se se esparramava na cama ou se dormia feito um bebê, encolhido em si mesmo.
Talvez ele estivesse sozinho, talvez algum abraço o enlaçasse. Ao pensar nisso sentiu o estômago contrair-se, o coração disparar, os olhos marejarem.
E se nunca mais pudesse vê-lo respirar na paz do sono? Se durante o sono dele, outra ocupava-lhe os sonhos? E se ele voltasse num dia qualquer e não mais lhe sorrisse o sorriso amoroso que ele tinha? E se lhe impusesse uma amizade, fugindo de toda aquela saudade que embargava os pensamentos dela mesmo depois de tantos anos?
E se pensar nele fosse uma grande mentira? Mais uma ilusão entre as tantas que ele já havia sido? Talvez estivesse confundindo as coisas.
Mas, Deus, ele havia sido absolutamente sincero...
Será que o coração dele sentia falta do dela?
Será que foram necessários todos esses anos para que finalmente o vulcão da vida entrasse em erupção e incendiasse os corações de ambos?
Em todas as suas perguntas sem respostas, Julia encolheu-se na cama como uma criança assustada, com medo daquele amor, com medo dele, de si, da vida.
Apertaram-lhe as lágrimas na garganta. Não pode mais sufocá-las por muito tempo.
Chorou baixinho sua insônia daquela noite, suas saudades, sua confusão, seu coração, ele, o sorriso, a dor e finalmente, adormeceu.

sábado, 22 de setembro de 2012

Minha Clave de Sol

Lembra-se do dia em que você me ensinou a desenhar uma clave de sol? Pois é, nunca pude me esquecer desse dia.
Na verdade, nunca pude me esquecer de você. Mesmo quando eu quis. Mesmo quando achei que seu rosto era parte do meu passado enterrado. Não era, nunca foi. Você é meu presente. Presente de Deus pra iluminar meus dias, meu coração.
Tudo que vem de você é luz, tem Sol, calor. Lembra-se do meu aniversário de dezessete anos? Lembra-se dos girassóis? Lindos, amarelos, sorridentes. Que grata surpresa abrir aquele cartão e ler você. Que calor na alma, que paz no coração.
Acho intrigante esse mistério da vida que sempre nos reúne. Parece que é um sopro divino me pedindo pra nunca me esquecer de você. É um anjo que me diz para colocar novas flores no altar do amor, porque você está chegando. Mesmo quando acho que meu coração está desocupado, que não penso mais em ninguém, que estou vazia e sem amor, você aparece. Como o Sol que clareia a noite. A luz na escuridão.
Meu bem, você é meu Sol.
É meu Sol porque me aquece, me renova, me nutre. Mas assim como o Sol, não posso ter você numa redoma, dentro duma lâmpada, num apego egoísta de ser. Você foi feito para brilhar para o mundo, eu sou apenas uma privilegiada em poder compartilhar dessa luz que você irradia.
Como é bom sentir isso... Esse calorzinho que vem de você, mesmo que você não saiba e não faça absolutamente nada, apenas exista para que isso seja real. Apenas surja das cinzas para que eu possa voar novamente...
Você me faz tão bem. Mas não se preocupe, não precisa corresponder.
Não precisa se sentir cobrado, não precisa achar que vou exigir sua mão em casamento e sua liberdade em troca do meu amor. Não.
Amor não é isso. Amor não espera nada em troca, ele simplesmente existe pela beleza de ser o amor.
Que bom que você veio de novo, mesmo que não tenha vindo de fato, de alguma forma, pro meu coração, você veio.
Parece que eu estive esperando por isso tanto tempo e você sempre esteve aqui, no meu coração. Procurei tão longe, caminhei tanto, me desenganei tantas vezes e veja só, que bela ironia...
Eu não posso nem vou me apegar em sentimentos pouco dignos como posse, ciúmes, exigências ou qualquer coisa do gênero. E não vou dizer que estou esperando você o resto da minha vida, trancada pra sempre numa torre, esperando seu violão me despertar do sono da saudade.
Mas tenha certeza de que enquanto meu coração continuar batendo assim, quentinho, em paz e iluminado, você vai ser sempre minha Clave de Sol.
A luz que contagia meu sorriso, que mesmo que haja  um "não, talvez ou depois", vou seguir acreditando de que os nossos corações foram feitos pra bater no mesmo ritmo, longe ou perto. E quem sabe um dia a gente possa ouvir o som deles, deitados a sombra de uma goiabeira, sorrindo o amor que ganhamos de presente.
Você nunca foi embora, você sempre esteve aqui...
Minha Clave de Sol...

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Fênix

Adormecido. Como aquela princesa dos contos que eu tanto adoro. Assim estava esse sentimento que eu sentia por você, até você reaparecer.
Fênix. Trouxe de volta meus sonhos, trouxe sorriso, lágrima e dor. Saudade moída em mil pedaços, só pra dizer que você não está por aqui.
Não pude bater na sua porta. Não sei nadar tão fundo. Não pude gritar quando percebi, você já estava tão longe.
Pensei que talvez seja isso. Sou uma fruta. Precisei amadurecer esses quatro anos para entender que nasci da tua árvore e que é a seiva desse amor puro que me nutre.
Não é ele, o outro, nem aquele. Tudo isso era uma grande ilusão, que você iluminou com seu sorriso e ela se desfez como névoa.
Amor casto, não precisa se consumar pra ser real. Basta você existir. E olha, ele floresce todos os dias...
Senti dor na alma. Daquelas que a gente olha pra dentro, pra fora, pra Deus e não entende o porque de tudo isso.
Por que, Deus?
Chorei. Sorri. Será que é você mesmo?
Sorri de novo, porque se for, será uma maravilha, pensei.
Inventei mil histórias pra você dormir. Apaguei todas elas.
Pedi pra Deus velar seu sono, pra um anjo me levar até você.
Fui, te vi, conversamos, sorri, abracei, e finalmente, acordei.
Por um instante faz todo sentido. Agora dei um rosto pra minha tristeza, aquela que eu sempre senti e nunca soube porque. Talvez fosse minha alma perdida de você, buscando sua luz sem te buscar.
Adormeci tantas noites e já não quis te ver nunca mais.
Mas você volta, sem eu pedir, sem eu rezar, volta porque Deus quer.
Falo Deus mesmo, porque não sei que nome se dá pra isso. Destino, Deus. É tudo uma coisa só.
E eu penso antes de dormir de novo, talvez não seja nada, seja só mais um voo seu, acima da minha cabeça e quando eu esticar minhas mãos para alcançá-lo, você vai estar alto demais...
Não tem problema. Eu rezei muito, conservei meu coração no vinho e agora vou chorar um pouco menos se tudo for apenas passageiro, como das outras vezes.
No fim que não tem fim, eu sei que você vai renascer...
Fênix...
Você reapareceu pra reacender nesse coração o que pra sempre já era meu...

domingo, 16 de setembro de 2012

O vestido de verão

A primavera estava chegando. Pensou que talvez devesse dar uma repaginada no seu guarda-roupa. Juntou um pouco de coragem e foi.
Ia tirando blusas, camisas, saias, vestidos até que se deparou com um. Sabe aquele vestido que foi tão especial um dia que a gente esconde ele no fundo do guarda roupa pra não ter que ficar olhando pra ele, todo dia depois que acorda? Pois é, Lívia havia achado esse vestido.
Tirou-o com cuidado, como de fosse um modelito raro e exclusivo de algum estilista famoso, quando na verdade era apenas um daqueles seus famosos vestidos de verão. Levinho, soltinho e de cor clara.
Sentou-se na cama, segurando-o com todo amor que sentia quando usava aquele vestido. 
Era março e ele fazia aniversário.
Presenteá-lo parecia muito difícil, pois quando se ama, o mundo não basta. Lívia amava-o, um amor-presente, desses que a gente não pede, não escolhe, ele simplesmente vem como um presente da vida, de Deus, de alguma coisa boa que você fez para merecê-lo. 
Pensou em mil coisas, ideias, mas ele, ele era tão diferente de tudo que já havia visto...
Lembrou-se das noites de março, quando apenas observava-o, atenta a uma composição e outra. Não ousava romper o silêncio. Aquelas partituras todas pareciam muito complicadas por si só.
Apenas uma vez, enquanto ele escrevia, ela lhe disse:
- Não é Libertango?
- É.
- Mas você escreveu Libertago. Faltou o N.
- Nossa, eu nem vi.
Ele sorriu atentamente, rasurou a partitura e explicou a ela o que era um Libertango.
Interrompeu seus próprios pensamentos, como alguém que vive sonhando e precisa despertar para a razão.
Tanto tempo, Meu Deus...
Os olhos de Lívia marejaram de imediato, como se aquele vestido, aquela simples peça de roupa fosse capaz de lhe trazer a tona um sentimento guardado, ocultado por ela, assim como ficou o pobre vestido de verão, escondido dela mesma, no fundo do armário.
Engoliu a emoção, como quem busca digerir o que se passa no coração. Levantou-se antes que a segunda lágrima caísse. Não se deu nem o trabalho de enxugá-las. Já já elas secariam.
Guardou todas as roupas e guardou o vestido, no fundo do armário, mais uma vez.
Questão de estratégia, preservação emocional, disse a si mesma. O vestido uma vez guardado, os sentimentos também ficariam no armário.
Fechou a porta com mais força do que costumava, na tentativa de esvanecer seus pensamentos, trancafiar qualquer lembrança dele que pudesse lhe abalar.
Mas, ah, Lívia... Que bom seria se pudéssemos guardar nossos sentimentos no fundo de um armário, que bom, que maravilhoso seria se bater a porta dele desse algum resultado dentro do coração confuso da gente não é mesmo?
Mas não é bem assim, Lívia...
Não é bem assim...

sábado, 15 de setembro de 2012

O corsário

Para um coração apaixonado, sempre há uma esperança. 
Mas dessa vez ela mesma sentia-se numa encruzilhada. Como confiar no que o destino lhe traria, na boa vontade do mar em trazê-lo de volta?
Já contava quatro anos desde a partida de Inácio e nunca mais pudera vê-lo sorrir novamente, a não ser todas as noites, quando deitava-se sozinha, com o coração triste, buscando no recôndito da memória a doce figura de seu amado corsário. E diziam-lhe os parentes aos brados quando recusava algum novo pedido de matrimônio: " Você não pode passar o resto de sua vida esperando esse maldito corsário, Thereza! Encare os fatos, ele lhe abandonou e nunca mais vai voltar!".
Chorava as escondidas quando pensava que Deus podia ao menos ter lhe dado um fruto desse amor. A essa altura, o meninote estaria com quatro anos. Mas até isso lhe fora negado. Das noites que viveram juntos, nada restara além de lembranças ternas e por vezes, desesperadoras. 
O amor sem resposta é como o desespero. Não há o que pensar, o que fazer e não se pode pensar, porque não se consegue tomar posse da razão. 
No torvelinho de suas emoções guardadas, escondidas, mentidas até para si mesma, Thereza, a menina nobre, de sentimentos puros, nascida em berço de ouro, sentira que seu coração havia morrido afogado no mar com seu amado Inácio.
Por certo, ele estaria morto ou havia esquecido sua doce "princesa Thereza", como ele mesmo costumava dizer, para sempre.
Thereza não sabia o que doía mais, se era a morte de seu corsário ou ser esquecida por ele.
Olhava para a linha que existia entre o mar e o céu. Sentia-se assim. Ela era o céu e Inácio, o mar. Por um instante poderiam parecer muito próximos. Mas era apenas uma ilusão de ótica.
O vento soprava forte e os poucos homens que se atreviam a passear na praia naquela tarde tinham seus chapéus roubados pelo vento.
Thereza desceu e foi caminhar na praia. Buscava no horizonte qualquer sinal de seu amado, um barco, uma vela ou ao menos uma má notícia. Nada. Apenas o silêncio a acompanhava. E como era dolorosa a voz do silêncio nesses momentos.
Cansada, exausta e com suas últimas esperanças ruindo, Thereza caminhou em direção ao mar. Tirou os sapatos e sentiu a água fria das ondas lamber-lhe os pés.
O corpo todo arrepiou-se. Abriu a boca como quem tenta dizer algo para si mesma, mas só sentia o gosto salgado da brisa e em seguida, o sabor de suas próprias lágrimas.
Chorou sua dor de quatro anos de espera. Chorou a falta de notícias, o desencontro, o tempo, o espaço, a distância, as condições, chorou tanto que caiu de joelhos na água, pois não tinha mais forças dentro de si para levantar-se. O vestido de veludo molhou todo, enquando ela afogava-se em sua tristeza.
E quando parecia que ia sucumbir, que a tristeza iria engoli-la por inteiro, escutou uma voz de longe.
- Thereza!
Olhou para o lado de onde vinha a voz e viu um homem que corria gritando.
- Thereza! Thereza!
Estava sonhando. Não podia ser. Era uma ilusão da solidão.
Mas a medida que ele chegava mais perto o coração de Thereza acelerava como nunca. Inácio, ele tinha voltado!
Recuperou suas forças o mais rápido que pode e saiu correndo ao encontro dele.
Depois de alguns passos, pararam, frente a frente, como duas estátuas.
- Thereza... - disse-lhe o corsário, com a voz entrecortada pela emoção, pela saudade e pelos quatro anos de espera, ansiedade, mas acima de tudo, de amor.
- Inácio...
E como uma onda que arrebenta na praia depois da calmaria, abraçaram-se, chocando-se em amor, espera e vida. O abraço do reencontro, da vitória, da confiança.
Depois de tudo que tinham vivido separados, ver-se nos olhos do outro fazia todo o sentido de tudo. O amor valia a pena. Era só saber esperar.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Do fundo do mar e do coração

Levantou-se da cadeira com raiva. Como ele podia ser tão falso?
Olívia mordeu os lábios quando lembrou que ele lhe dissera muitas vezes que não queria mais nada com aquele "problema", porque elas eram sinônimo de problema. A última era o maior deles e ele havia jogado-a para escanteio.
Teve vontade de usar as redes sociais para machucá-lo. Teve vontade de escrever-lhe dizendo que se ele tinha qualquer esperança de que ela voltasse, podia jogá-las no esgoto porque todas as atitudes dele nesse tempo pós-fim só davam mais certeza a ela de que tinha feito a coisa certa. Lauro não era homem pra ela.
Mas acalmou-se. Felizmente, depois de muito ferir-se e ferir os outros, Olívia havia aprendido a acalmar-se antes de sair por aí dizendo cobras e lagartos.
Pensou que talvez fosse uma defesa, talvez até mesmo uma defesa masculina: depois de se sentir jogado pra escanteio, correu atrás daquelas que ele havia jogado pra escanteio. Um clássico.
Estava sendo hipócrita por pensar isso dele, ela também tinha teto de vidro.E não fazia sentido algum cobrá-lo por sua aparente "falsidade". Por que ela deveria cobrá-lo? Amava-o? Certamente não. Era apenas um instinto barato de posse que como bem previu Maysa uma vez: "eu não quero, mas não quero que ninguém queira".
Olívia não podia falar de Lauro, porque muito embora negasse pra si mesma o tsunami de emoções que estava vivendo, o mar, em toda sua agitação, trazia de volta uma pedra rara de seu coração. Pedra esta que se encontrava há mares de distância, quilômetros, dias, horas, mas que, enigmaticamente havia brilhado lá do fundo do oceano de seu coração, sabe lá Deus porque. 
Pedro. Ele havia voltado como o som das ondas, música do destino, pensava ela, enquanto organizava-se mentalmente na própria desordem.
Não podia crucificar Lauro. Decidiu deixá-lo de vez. Ela não poderia cobrá-lo de duas atitudes, porque não tinha nada a oferecer. Apenas o ego ferido de ter sido esquecida depressa. Mas tudo bem, ele também não sobreviveria as grandes ondas que estavam por vir, a não ser como amigo distante que era um bocado interessante, mas não se encaixava aos sonhos dela.
Respirou fundo por conseguir compreender a si mesma.
Suspirou um alívio pela metade.
A imagem de Pedro não permitia que ela se sentisse totalmente aliviada.
Por que ele? De novo? Por que as ondas? Por que o mar?
"Onde já se viu o mar apaixonado por uma menina? Quem já conseguiu dominar o amor? Por que que o mar não se apaixona por uma lagoa? Por que a gente nunca sabe de quem vai gostar?".
Cantarolou Teatro Mágico enquanto andava de um lado para o outro, sem perceber que movimentava-se com ansiedade.
Parou. Era melhor acalmar-se.
Acalmou-se, suspirando em tempos de três segundos, enquanto uma ou duas lágrimas desciam pela face, cantarolando uma música que o trouxesse de volta, como uma menina que anda na praia a procura da mais bela conchinha. Onde estaria Pedro agora?