domingo, 9 de dezembro de 2012

Néctar

Eu cheguei meio zonza, sem saber como agir e pensando como a gente age depois, mas pensei mais um pouco e me joguei na cama.
Ah, Luiza, você e seus devaneios... Disse para mim mesma enquanto os detalhes tão sutis poetizavam algumas atitudes que poderiam passar despercebidas, mas não para mim.
Fiquei ainda procurando palavras pra descrever esse gesto, que eu não sei se é de propósito ou força do hábito, mas se for hábito, que sutil pensamento tem ele quando faz isso...
Sai a procura de um bar e de Giulia pra conversar. Talvez ela pudesse me entender. Mas ela não podia, estava num encontro com um tal Rico, que ela riu quando pronunciou o nome dele. Disse que era a sorte grande do Natal.
Eu fui para o bar de sempre sozinha, com um livro sobre Caravaggio, cheio de ilustrações pra povoar a minha mente. Era o que eu precisava. E um café descafeinado, pra dormir bem depois.
Mas a minha mente não deixava e enquanto eu via a fumaça do café bailar e desaparecer naquela atmosfera lânguida que me encontrava, me questionava: por que alguns poucos homens seguram em nossos faces quando nos beijam?
Não sei, esse lance de um homem segurar o rosto de uma mulher quando a beija, ou mesmo, tocar na sua face, como se naquele toque ele pudesse ler tudo sobre ela.
E pensei que os poucos homens que seguraram meu rosto dessa forma foram homens especiais que cruzaram meu caminho. E segurar o rosto dessa maneira me fazia pensar em algum mito grego, que talvez nem existisse, mas onde o rapaz bebia o néctar de uma flor aquática, mística, que ele segurava com as duas mãos num gesto de delicadeza e veneração, fechando os olhos.
Suspirei. E me perguntei porque esse gesto mexia tanto comigo.
"Luiza..."
Alguém quebrou meu silêncio e eu fingir estar lendo o Caravaggio.
" Oi, Luiza..."
Eu sorri. Ele se sentou. O rapaz do mito grego que segurava a flor com as duas mãos e sorvia o néctar dela.
Enquanto ele se aproximava, eu esperei e me perguntei, "será que ele vai fazer isso de novo?".
Então ele se aproximou, ficou olhando pra mim enquanto eu sorria. Tirou a franja dos meus olhos e levou suas mãos de dedos longos e unhas quadradas em direção ao meu rosto. Trouxe-me para perto de si, juntou seus lábios no meu e sorveu de mim o néctar.
Foi então que eu acordei...

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