sexta-feira, 29 de abril de 2011

Seus olhos e seus olhares...

Tive a impressão de estar sendo observada. Nada de síndrome de perseguição, mas tinha um par de olhos me fitando.
Olhei pra direita mas eu sabia que não era dali que vinha aquela sensação. Então olhei pra direita e pronto. Você me olhava e logo que eu te vi, fugiste de mim com teus olhos. Fugi de ti também.
Essa coisa de encarar as pessoas nos olhos pode ser mesmo muito difícil, especialmente quando a pessoa tem aqueles olhos que trazem mistério.
E nessa, pelo rabo dos olhos você me olhava, eu te olhava, num jogo eterno de olhos, pálpebras e cílios.
No dia seguinte meus olhos procuraram os teus e nada de você aparecer.
Mas de repente você surge e me olha de novo, sem nenhum pudor, discrição ou sutileza. Me olha assim, me deixe sem graça com esse seu olhar intenso e profundo. Mas quais serão as cores dos teus olhos vistas de perto?
E depois eu passei e te olhei e nos olhamos de novo.
E hoje quando você apareceu de novo me olhando desse seu jeito eu me perguntei quem será o dono desse olhar indiscreto e intrigante? Desse rosto tão lindo e sem nome?
Quando me levantei, você virou pra me ver, e depois passou me olhando e eu virei o rosto pra te ver também. E enquanto eu andava os nossos olhares se cruzavam e nós ficamos mais distantes. Eu não sei seu nome, não sei nada sobre você.
Mas no fim das contas eu só queria saber se o dono desses olhos e desses olhares tem nome, telefone ou qualquer outra coisa...
Ai, esse jeito que você me olha...

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Dias frios

Naqueles dias onde o sol se esconde tímido atrás de algumas nuvens o vento gélido traz de voltas aquela sensação. Uma sensação que existiu somente naquele tempo, junto de uma felicidade que também só foi real enquanto eles amavam e nada podia impedir aquele amor.
Hoje ela se levantou e foi até a janela, quando a abriu o vento veio e lhe trouxe uma lágrima.
A vida levou o amor e a felicidade embora. Levou os sorrisos e toda a intensidade.
Como pode um amor acabar assim? É um pecado capital.
Muito embora tenham havido muitos pecados neste amor, naqueles corações que batiam mais forte do que todos os corações do mundo juntos, havia a certeza de que haviam encontrado um ao outro para sempre.
A certeza era quase uma tatuagem sob a pele. Mas num dia de dor, ela saiu na água e todas as dúvidas assolaram aqueles corações.
E então veio a tristeza, as mentiras, as lágrimas e a mágoa.
Mas depois, quando o tempo curou aquelas feridas, os dias frios trouxeram de volta a sensação daquele encontro.
Como ela poderia ter sua inocência de volta e ser feliz daquela mesma maneira novamente? Será que ela poderia ser feliz daquele jeito de novo?
Parecia mesmo que ela estava condenada a nunca mais ser feliz como fora. Mesmo com todos os erros que cometera, com os coração mais doces que ela ferira, enquanto ela sentia aquele amor, era a pessoa mais feliz do mundo.
E depois que o mundo se desencontrou em palavras, ela buscou aquela mesma felicidade em vão.
Tudo aquilo soava como uma sina. Estava destinada a buscar por uma velha sensação feliz que jamais voltaria.
Mas a vida é maluca, o tempo é doido e somos insanos. E assim, nos dias frios como este, como naquele dia que ela pensou e sentiu ter encontrado o maior amor que poderia amar, ela sente aquela sensação de novo. E por alguns instantes fecha os olhos e respira aquele ar gélido.
Então o coração se aquece....

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Me faz sorrir

Que saudades de você.
Como queria poder ver você sorrir, conversar com você sobre todas as coisas do mundo e saber da sua vida aí. Como vai a sua correria em outra língua, como vai seu coração, quem você pode abraçar pra espantar as tuas saudades...
Mas hoje eu senti que aquele elo não se rompeu. Incrível como as palavras podem unir pessoas tão distantes como nós, em Universos e cidades tão diferentes.
Estou aí com você. Você não me deixou junto com seus livros na no quarto que você nem dorme mais e isso enterneceu ainda mais as boas impressões que você deixou em mim.
Eu me lembro da sua pele muito branca, do cheiro da sua jaqueta de couro e felizmente, o sentimento bonito que eu tenho por você permanece intocado. Está acima dessas coisas medíocres que chamamos de paixões.
Que você se cuide, que você me leia quando precisar e sinta que alguém do lado de cá lhe quer bem. Muito bem, meu amigo.
Volte logo, sinto saudades. Você me faz sorrir.

Sexta Feira da Paixão

No primeiro branco da majestosa igreja ela chorava copiosamente.
Todos que estavam ali achavam muito belo aquela menina jovem tão devota, cujas lágrimas desciam fervorosamente e molhavam o terço de pérolas nas mãos dela.
Muitos diziam que era muito devota da Virgem Maria e toda Sexta Feira da Paixão ela se submetia a longas preces e devoções, sempre muito emocionada, para sentir na pele a dor da mãe que perdeu seu filho numa cruz.
Desde muito pequena ela jamais gostara dessa data tão triste. Fechava-se no quarto, ainda com cinco anos e dizia a sua ama que iria orar o dia todo. Quase não comia e tinha os olhos cheios de lágrimas o tempo todo. A mãe preocupava-se com a atitude da filha e um dia perguntou ao padre que sorriu e disse que a pequenina já era uma grande cristã, e que suas privações no Dia Santo eram sacrifícios agradáveis a Deus. Que Ele a conservasse assim.
Não era preciso que ninguém lhe pedisse que conservasse aquela tristeza. Toda Sexta Feira da Paixão ela acordava sentindo o coração pesado e triste, como se não pudesse mais carregá-lo. E um vazio imenso, uma dor profunda, uma saudade indescritível que a fazia orar o tempo todo. Quando fechava os olhos, via Jesus. E chorava mais. Depois via Maria, em seus farrapos de mãe inconsolável, buscando forças onde não tinha, quando via que o seu pequenino menino, que aquela criança amável, aquele jovem de bem, aquele homem filho da Verdade havia sido morto de uma das maneiras mais cruéis, e julgado pelos homens, filhos do mesmo Deus. Ali estava ele, sozinho, Senhor, culpado por nada, renegado ao seu próprio destino. Mas como pedir a ele que tivesse força quando seus irmãos lhe colocaram ali? Por Deus, e ele ainda pedia que o Pai Santíssimo perdoasse a todos aqueles que o feriram, porque eles não sabiam o que faziam.
Se ele soubesse que até hoje eles ainda não sabem o que fazem.
Ela doía-se toda. E sentia-se triste, porque as ofertas feitas naqueles dias, aqueles sacrifícios tão pequeninos feitos pelas pessoas eram míseros, diante do sacrifício que ele fez por nós.
Não, não queria que as pessoas tivessem que andar pela Via-Crucis e carregassem uma coroa de espinhos naquele dia em que o Mestre havia partido. Ela só queria que entendessem, e ela também queria entender, o tamanho do Amor de Jesus e que devemos buscar, constantemente, por ele. Que deveríamos olhar para os outros como nossos irmãos, e que deveríamos sorrir para as crianças assim como ele o fazia. Que deveríamos ser caridosos e amáveis.
Mas é tão curta a nossa existência, ela pensava.
E mais uma vez, mesmo naquele dia de sol, o seu coração estava triste. E ela pedia perdão por todas as suas faltas, pedia também que ele desse coragem para continuar.
E mesmo com o coração de luto, ela sentia, que de alguma forma, ele mandava para todas as pessoas daquele Planeta tão pequenino, todo o seu Amor Divino.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Tilintar de dedos

Os raios do sol faziam-na andar com os olhos apertadinhos. Quase não enxergava direito. Mas quando o viu, quis fechar os olhos por completo. Não queria vê-lo e assim o fez por alguns segundos. Mas existia um magnetismo a mais nessa história e ela virou a cabeça para vê-lo e ele a viu.
Aquele tilintar de dedos num "olá" que se despede foi tão frio e distante. Os lábios dele apertados, numa expressão de pesar de quem tem o coração apertado também. Saiba que aquilo doeu nela também.
E assim seriam os dias deles. Com tilintar de dedos, sem nada mais que pudesse lhes aquecer as mãos frias nesse inverno.
Ele congelara todas as ideias bonitas de ter os dedos entrelaçados com o dela, nem que fosse por pouco instantes. Não quis ver o que ia além daquela explosividade que as vezes era até meio cômica e da impulsividade dela em dizer coisas assim.
Tinha decidido que da maneira que fosse ficaria sozinho.
E ela antes mesmo de vê-lo novamente, depois daquele tempo distante, tinha decidido a mesma coisa. Mas mesmo assim ela sabia que não tinha o controle da batidas de seu coração, sabia que a vida era muito maior do que nossa vontade de ter tudo debaixo do nosso nariz. As coisas que não vemos fogem a nossa compreensão.
E mesmo que ela não quisesse nada com ninguém, ela não se fecharia assim num muro sólido e mentiroso como o dele. Porque sabia que era apenas um pecinha num tabuleiro imenso, onde vidas, histórias e caminhos se cruzam e se separam enquanto a gente pisca.
Mas ele não sabia, e como um bom controlador, queria ter tudo sob suas mãos. E foi nessa que ela fugiu.
Já que ele queria limitar espaços e definir as coisas, prendê-la numa caixa e amordaçar qualquer sentimento que viesse a falar antes mesmo de acontecer, ela fugiu dele. E novamente eles se perderam um do outro.
E enquanto ele continuasse assim, achando que poderia fazer tudo, pré-julgando as coisas antes dela acontecerem e não dando o mínimo espaço para que a vida agisse com suas maravilhas, haveria apenas tilintar de dedos distantes e lábios apertados com expressões de pesar.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

"Aquela esperança de tudo se ajeitar, pode esquecer"

Eu vou lhe deixar, você e seu ceticismo. Você e sua mania de se doer por causa da minha opinião, sua cara amarrada quando é contrariado.
Fique aí com as suas mentiras bem forjadas na sua ótica, com seu semblante endurecido e seu coração cheio de espinhos. E pode se fechar mesmo, já decidi, não quero mais me abrir pra você.
Você pré-julgou algo que poderia ser muito mais do que a nossa vã imaginação, mas não existe nada ainda e você já veio limitar qualquer coisa. Então, nem venha.
Já que é pra limitar, colocar mordaças, vendas e cercas, nem venha.Você nem quis saber como seria, nem quis me ver como eu era, já disse que seria amargo e vago. Então, nem venha.
Não vou também. Estamos longe e assim que permaneceremos.
Existem tantas outras pessoas por aí que estão a fim de se jogar no que a vida vier a lhes oferecer, pessoas que não estão nem um pouco afim de segurar suas próprias asas. Se você vai fazer isso, aí o rumo da nossa conversa muda.
Você nem sabe de nada do futuro, amanhã podemos morrer, sabia?
Se você acha mesmo que pode controlar sua vida, eu só lamento por você. Você, assim como eu, vai aprender pela dor que é apenas um grãozinho insignificante diante de uma roda imensa de destinos traçados, histórias escritas e um Universo de possibilidades que se enrolam e de desenrolam enquanto você apenas pisca.
Então, se você vai mesmo acreditar que pode segurar suas paixões, seus amores, e tudo o que você sente na palma das mãos, tome cuidado. Mesmo com toda essa sua armadura, as dores que sentimos quando vemos que a vida, que a nossa vida não está totalmente sob o nosso controle são agudas e a gente sente o mundo girar sem a gente pedir. E eu não quero que você caia e rale os joelhos dessa forma.
Mas olhe, eu já me fui. Não venha bater mais nessa porta.
Se desgastou a você, a mim foi demais que não tive nem a oportunidade de pensar em sonhar. Você azedou tudo hoje.
Hoje você matou as poucas ideias bonitas que eu tive de nós durante esses dias. Matou, e eu as enterrei agora.
Então nem volte mais aqui, não queira ressucitá-las. .
Mas lá na frente você vai pensar no quão bonitas elas teriam sido se você as tivesse deixado vigorar, assim como aquelas sementes de rosas que nós nunca plantamos.
Mas não adianta mais...
Já me fui... Ainda bem que nada aconteceu.
E já cantou Chico:
"Eu bato o portão sem fazer alarde
Eu levo a carteira de identidade
Uma saideira, muita saudade
E a leve impressão de que já vou tarde."




domingo, 10 de abril de 2011

Raul, o tempo não para.

O elevador abriu a porta no sétimo andar. Ela entrou. O susto.
- Clari?
- Raul?
Um abraço forte e cheio de saudade.
- Meu, quanto tempo! O que você está fazendo aqui?
- Eu trabalho aqui. Sou editora.
- Que incrível. Você tá indo embora?
- Sim, e você?
- Também, vamos tomar um café?
- Claro!
Foram conversando muito próximos até uma charmosa cafeteria ali perto.
Entraram, sentaram.
Ela tinha as mãos em cima de mesa, ele esticou a mão e encostou na mão dela. De repente, sentiu algo gelado. Olhou. Não podia ser. Por Deus, aquilo só podia ser mentira. O dourado ofuscou-lhe os olhos.
- O que é isso na sua mão direita?
- Ué, o que mais pode ser, uma aliança. - ela disse sorrindo.
Ele ficou quieto. Olhou para os lados buscando qualquer coisa pra dizer.
Não conseguiu. Um mar de incertezas e certezas arrebatadoras lhe invadiram a garganta. Quis chorar.
- Que foi, Raul? Que cara de enterro.
- Mas é quase isso. Eu morri um pouco agora.
- Do que você tá falando?
- Você vai casar?
- Vou Raul, pensei que você soubesse. Te mandei um e-mail uma vez, te convidando pra uma festa que eu ia dar e tudo mais, mas o e-mail voltou...
- É, aquele e-mail.. Mas não pode ser, Clarice!
- Como não pode Raul? As pessoas normais casam.
- Tá, mas você não é uma pessoal qualquer. Você é a Clarice, minha Clari, a menina dos meus olhos, minha paixão reprimida, minha esperança de amor, não pode ser!
Clarice ficou estática por alguns segundos e em seguida ficou vermelha. Fuzilou-o com o olhar.
- Reprimida porque você reprimiu. Você achou mesmo que eu fosse esperar você sair da sua vida enrolada a vida toda? Eu sempre tive a minha vida Raul, jamais iria pará-la pra te esperar. Eu conheci uma pessoa, me apaixonei, semana que vem a gente se muda pro mesmo apartamento e ano que vem a gente se casa.
- Você vai morar junto com esse cara?
- Você nem sabe quem ele é! Raul, você tá pirando. Desculpe, eu vou embora.
- Não, Clarice, por favor.
Ela levantou, deixou vinte reais na mesa e saiu andando. Ele fez o mesmo e foi atrás dela.
- Espera Clarice!
Ela não virou. Ele correu e parou na frente dela.
- Me ouve.
- Você já falou merda demais por hoje.
- Merda? Eu disse que te amo!
- Pra mim agora isso é merda. Sabe quando as coisas passam do prazo de validade e apodrecem? É quase como merda e foi isso que aconteceu com o que a gente sentia Raul, você deixou apodrecer. Achou que me deixando de molho, me temperando vez ou outra com aquelas conversas nossas eu fosse durar pra sempre naquela situação. Mas não é bem assim que as coisas funcionam. Num belo dia que eu fui passar a tarde na Paulista sozinha, o Conrado apareceu e adivinha? Ele é o homem da minha vida. Ele é livre, me ama, me quer, fez de tudo pra mostrar isso e você?
- Eu te amei o tempo todo!
- E eu soube disso?Por acaso você veio me procurar, me dizer que me queria, foi procurar saber por onde eu andava, onde eu estava morando? Eu estava na sua fuça, mas você não fez questão de ver. Agora é tarde demais, se você quiser ser meu amigo, ótimo. Senão, por favor, esqueça do dia de hoje.
Ele começou a chorar. Não dizia nada, não resmungava, não fazia nada. Estava estático a frente dela e as lágrimas rompiam qualquer barulho que quisesse sair da boca dele.
- Raul... para!
- Eu te perdi pra sempre.
O coração dela doeu junto.
- Perdeu, Raul.
- Por que?
Ela se aproximou dele e segurou-lhe as mãos.
- Porque o tempo não para pra que a gente escolha, ele vai indo, fluindo assim...E as coisas na nossa vida não voltam, o nosso tempo passou Raul .Nosso tempo que nunca existiu, mas ele poderia ter existido. Mas agora é tarde demais.
Ela abraçou-o e quando olharam-se novamente ela chorava também.
- Tá vendo, você também me ama!
- Não Raul, eu não amo você. Eu só me senti triste por alguns segundos porque você deixou o tempo fugir demais das suas mãos, você fugiu do tempo e nós que fomos atingidos. Eu sempre achei que dentro de uma aliança minha estaria escrito o seu nome, mas a vida surpreende. E hoje eu não te amo mais Raul, mas eu quero que você seja feliz e entenda, que não, o tempo não para! Fica bem...
Ela se foi, deixando pra trás o seu cheiro e a dor no coração dele. E daquele dia em diante apenas uma frase ecoava no seu coração: Raul, o tempo não para.



Reticências

Desculpe mas eu não terei paciência. Não esperei por ninguém, não será por você que eu vou parar. E sei que numa dessa a gente vai se desencontrar de novo. Desculpe, mas eu não vou parar de andar enquanto você hesita entre um caminho e o outro.
Eu acho que quem não vai já fez a sua escolha, quem fica já sabe o que quer, porque a gente quando quer realmente resolver alguma coisa dá seus pulos e você é imóvel pra mim.
Não é uma cobrança, é apenas uma constatação.
E muito embora pareça que o Caio Fernando Abreu tenha escrito algumas coisas pra nós, como se ele soubesse o que iríamos passar, isso tudo é muito bonitinho até o ponto que chegamos mais uma vez: e aí?
Pois é. Não tem "e" e não tem "aí".
Não tem "nós". Tem apenas eu de um lado e você do outro, e eu poderia estar escrevendo isso meio chateada porque as vezes parece tanto que nós teríamos tudo pra dar certo, mas nessa minha lucidez de agora, eu digo de agora porque amanhã posso mudar de ideia, eu decidi que seremos só uma idealização banal de que nada vai acontecer. Entende? Não, nem eu, mas hoje eu não quero pensar em você e nas complicações pré parto de um relacionamento que nem existe que você pode me trazer.
Nós não vamos fugir, hoje eu não quero isso. Talvez amanhã eu mude de ideia, mas hoje eu definitivamente vou deixar isso guardado na parede das coisas não resolvidas e que não serão pontuadas tão cedo pela minha pessoa.
Lá está você, sua foto e seu número de telefone e um "deixe pra mais tarde" anexado.
Porque as vezes eu simplesmente não quero. Não porque isso me cansa. Tem dias que eu realmente estou cansada disso, mas hoje eu diria que eu liguei um botão e estava escrito "foda-se" nele.
E vamos levando assim. Pelo menos hoje eu vou deixar você pra mais tarde.
Mas quem sabe amanhã eu não coloco um ponto final nessa história ou deixo ela cheia de pontos de exclamação? Por hoje você será apenas reticências de uma página pela metade. Quem sabe um dia eu te rasgo ou termino de escrever até o fim.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Pele morta

Nunca me olhou bem de perto. Nunca pegou na minha mão com carinho.
Nunca sentiu meu cheiro por mais de cinco segundos.
Nunca encostou a cabeça no meu ombro.
Nunca me deu um abraço além da formalidade.
No entanto conseguimos brigar como um casal, conseguimos ter dores que pessoas que se gostam e estão juntas tem.
Conseguimos sonhar juntos, querer juntos e olhamos juntos pro mesmo lugar.
Mas nos reprimimos no seu labirinto e na minha confusão. Nos perdemos de nós mesmos nas palavras, afundamos naquele monte de histórias que nunca aconteceram e nem vão acontecer.
Naufragamos em lágrimas que jamais rolaram e sufocamos o que tentou existir e nascer do acaso. Mas não acredito em acaso.
Nunca disse na sua cara tudo que eu digo de outra maneira. Nunca tive raiva olhando pra você fixamente, porque nunca te olhei fixamente só por olhar.
Nunca apontei o dedo na sua cara. Nunca me disse todas essas coisas olhando nos meus olhos.
Volte para seu congelador. Volte para suas incertezas tão certas e me deixe aqui.
Volte pro sue lugar mais incerto que eu. Volte pro seu sorriso duvidoso e me deixa aqui antes que o meu olhar seja de pesar.
Volte e me deixe aqui, eu e minha pele morta.
Fria e intocada, sem impulsos, nem choques, sem calor.
Deixe minha pele morta gelar mais. Deixe seu coração se agoniar.
Deixe que os olhos se desviem, que nosso olhar não se encontre e que a gente se perca.
Volte pro seu lugar e não queira encostar na minha pele morta.
Deixe-me. A mim e minha pele morta. Cálida por mãos sinceras, gélida por erros e enganos.
Volte para seu banho longo e demorado. Volte para seus pensamentos de um ano atrás.
Esqueça a mim e a minha pele morta, coberta de vestidos de laços. Escondida por saias altas e rendas.
Não fique. Hesite. Continue. Se engane. Sofra por opção.
Eu e minha pele morta. Tatuada de esperanças, desejosa de sonhos concretos e fugida das mentalizações abstratas. De olhar petrificado, santíssima.
Volte para sua pele viva e deixe-me.
A mim e a minha pele morta.
Morta e tão viva.


terça-feira, 5 de abril de 2011

" Falando de um jeito maneira
Da lua, da estrela e de um certo mal
Que agora acompanha teu dia
E pra minha poesia é o ponto final..." ( A Bailarina e o Soldado de Chumbo - O Teatro Mágico)

É melhor você ir dormir

É melhor você ir dormir. É melhor você ir dormir mesmo. Por favor, vá dormir.
Porque lá é tudo tão mais fácil pra gente. Não que aqui não possa ser fácil, até poderia, mas não é e nem será, porque não estamos dispostos a tentar nada. Você não vai sair da sua zona de conforto, eu não vou me prender a você. Você não vai engolir seu orgulho e eu não vou jogar o meu fora.
É mais seguro ficar nesse chove-não-molha de idealizações, histórias mal contadas e sonhos.
É melhor você ir dormir. Porque a noite já chegou trazendo o frio do lado de cá e eu deveria saber que estaria a mercê disso quando disse 'sim' a essa brincadeira.
As coisas já estão fugindo do meu controle e é melhor você ir dormir.
E se você sonhar comigo, não me conte. E se você quiser falar comigo, ou me quiser, não fale comigo. Exatamente. Parece confuso, mas pelo menos nessas duas primeiras semanas de abril eu não vou conseguir levar isso assim.
A culpa bate em mim, como ela não bate em você?
Eu não posso me deixar conduzir por alguém que tem as mãos atadas.
É melhor você ir dormir. Porque quando você dorme as coisas são mais doces pra mim e pra você. Porque ninguém precisa saber que a gente se vê com tanta frequência enquanto dorme, ninguém precisa saber de nada. Enquanto você dorme não existe mentira e tudo pode acontecer.
O cascalho fino e frágil já cortou meus pés e eu não quis ver. Mas quando eu quis andar no tapete branco e quente, lá tinha gotas de sangue e eu tive vontade de chorar.
Mas eu não vou chorar. Eu me fechei num casulo de pedra para todas as encrencas amorosas do mundo e isso inclui você.
Era tudo muito divertido, mas eu nunca mais entro numa história pra não ser a protagonista.
Eu não tenho vocação pra ser coadjuvante. Os meus olhos são muito grandes e vibrantes pra eu fechá-los para a verdade.
Eu, em primeiro lugar sempre. Eu e meu pedestal. E se você trouxer flores e oferendas, eu serei a Rainha do Mar. Caso contrário, vou nadar longe de você.
No começo era apenas uma brincadeira, mas quando o talvez e a dúvida permanecem, quando vejo que existe um perfume no ar que não o meu, que você freia bruscamente e me faz bater a testa no vidro, então é a hora de parar.
É melhor você ir dormir. Porque não tem espaço pra nós dois no meu sofá.
É melhor você ir dormir... É melhor você ir dormir...
E se um dia você não quiser ir dormir, bata aqui na porta e se eu estiver aqui, você vai saber se pode entrar.


domingo, 3 de abril de 2011

Idas e vindas de um Liberta(n)go

Hoje sou eu quem vai, mas amanhã ou depois será você. E é sempre assim.
Nas nossas idas e vindas, no meio do caminho a gente sempre se encontra, seja pra falar de qualquer coisa boba, ou filosofar sobre a vida e tudo o que rege as coisas que acreditamos.
Enquanto estivemos juntos nós nunca brigamos, muito embora eu seja uma pessoa bem difícil de lidar.
Nós nunca fizemos nada pra dar tudo errado. E na verdade não deu errado, só não deu certo.
A vida não quis que ficassemos juntos. Eu estava olhando pra um lado e você pro outro, e apesar da nossa boa vontade e do amor que existia, as tempestades foram maiores, e como bons amigos, preferimos seguir cada um o seu caminho.
Não fizemos grandes planos, não tivemos tempo pra isso.
Só me lembro de quando você me disse, e foi uma das coisas mais bonitas que ouvi na vida, aquela frase que marcou tanto: " Eu gostaria que você fosse mãe de um filho meu. Se eu tivesse um filho, gostaria que ele fosse seu".
E nos desencontramos tantas vezes que eu perdi a conta. Mas felizmente a vida promove esses encontros tão sublimes e inesperados, e eu posso sorrir toda vez que eu me vou
O tempo passou e você tem a mesma aura de sempre. E pensando assim eu vejo que teve muitos momentos da minha vida em que você se fez tão presente nos meus pensamentos e eu tive uma vontade súbita de te contar sobre aquelas coisas e aquele cara que é um gênio na arte de compor e sei lá mais o que.
Você é realmente especial e é sempre bom ver você.
Mas esse ar de lamentação de "que pena que não demos certo, mas tudo bem", parece meio vivo ainda.
Eu acho que Renato Russo sabia do que aconteceria com nós quando escreveu "Vento no Litoral", especialmente quando ele diz: "Agimos certo sem querer, foi só o tempo que errou".
Pois é meu amigo, agora eu vou...
Mas tudo bem, no meio do caminho a gente se encontra pra dizer que estava com saudade um do outro.




"Olha só o que eu achei... Cavalos Marinhos...."