sexta-feira, 22 de abril de 2011

Sexta Feira da Paixão

No primeiro branco da majestosa igreja ela chorava copiosamente.
Todos que estavam ali achavam muito belo aquela menina jovem tão devota, cujas lágrimas desciam fervorosamente e molhavam o terço de pérolas nas mãos dela.
Muitos diziam que era muito devota da Virgem Maria e toda Sexta Feira da Paixão ela se submetia a longas preces e devoções, sempre muito emocionada, para sentir na pele a dor da mãe que perdeu seu filho numa cruz.
Desde muito pequena ela jamais gostara dessa data tão triste. Fechava-se no quarto, ainda com cinco anos e dizia a sua ama que iria orar o dia todo. Quase não comia e tinha os olhos cheios de lágrimas o tempo todo. A mãe preocupava-se com a atitude da filha e um dia perguntou ao padre que sorriu e disse que a pequenina já era uma grande cristã, e que suas privações no Dia Santo eram sacrifícios agradáveis a Deus. Que Ele a conservasse assim.
Não era preciso que ninguém lhe pedisse que conservasse aquela tristeza. Toda Sexta Feira da Paixão ela acordava sentindo o coração pesado e triste, como se não pudesse mais carregá-lo. E um vazio imenso, uma dor profunda, uma saudade indescritível que a fazia orar o tempo todo. Quando fechava os olhos, via Jesus. E chorava mais. Depois via Maria, em seus farrapos de mãe inconsolável, buscando forças onde não tinha, quando via que o seu pequenino menino, que aquela criança amável, aquele jovem de bem, aquele homem filho da Verdade havia sido morto de uma das maneiras mais cruéis, e julgado pelos homens, filhos do mesmo Deus. Ali estava ele, sozinho, Senhor, culpado por nada, renegado ao seu próprio destino. Mas como pedir a ele que tivesse força quando seus irmãos lhe colocaram ali? Por Deus, e ele ainda pedia que o Pai Santíssimo perdoasse a todos aqueles que o feriram, porque eles não sabiam o que faziam.
Se ele soubesse que até hoje eles ainda não sabem o que fazem.
Ela doía-se toda. E sentia-se triste, porque as ofertas feitas naqueles dias, aqueles sacrifícios tão pequeninos feitos pelas pessoas eram míseros, diante do sacrifício que ele fez por nós.
Não, não queria que as pessoas tivessem que andar pela Via-Crucis e carregassem uma coroa de espinhos naquele dia em que o Mestre havia partido. Ela só queria que entendessem, e ela também queria entender, o tamanho do Amor de Jesus e que devemos buscar, constantemente, por ele. Que deveríamos olhar para os outros como nossos irmãos, e que deveríamos sorrir para as crianças assim como ele o fazia. Que deveríamos ser caridosos e amáveis.
Mas é tão curta a nossa existência, ela pensava.
E mais uma vez, mesmo naquele dia de sol, o seu coração estava triste. E ela pedia perdão por todas as suas faltas, pedia também que ele desse coragem para continuar.
E mesmo com o coração de luto, ela sentia, que de alguma forma, ele mandava para todas as pessoas daquele Planeta tão pequenino, todo o seu Amor Divino.

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