domingo, 10 de abril de 2011

Raul, o tempo não para.

O elevador abriu a porta no sétimo andar. Ela entrou. O susto.
- Clari?
- Raul?
Um abraço forte e cheio de saudade.
- Meu, quanto tempo! O que você está fazendo aqui?
- Eu trabalho aqui. Sou editora.
- Que incrível. Você tá indo embora?
- Sim, e você?
- Também, vamos tomar um café?
- Claro!
Foram conversando muito próximos até uma charmosa cafeteria ali perto.
Entraram, sentaram.
Ela tinha as mãos em cima de mesa, ele esticou a mão e encostou na mão dela. De repente, sentiu algo gelado. Olhou. Não podia ser. Por Deus, aquilo só podia ser mentira. O dourado ofuscou-lhe os olhos.
- O que é isso na sua mão direita?
- Ué, o que mais pode ser, uma aliança. - ela disse sorrindo.
Ele ficou quieto. Olhou para os lados buscando qualquer coisa pra dizer.
Não conseguiu. Um mar de incertezas e certezas arrebatadoras lhe invadiram a garganta. Quis chorar.
- Que foi, Raul? Que cara de enterro.
- Mas é quase isso. Eu morri um pouco agora.
- Do que você tá falando?
- Você vai casar?
- Vou Raul, pensei que você soubesse. Te mandei um e-mail uma vez, te convidando pra uma festa que eu ia dar e tudo mais, mas o e-mail voltou...
- É, aquele e-mail.. Mas não pode ser, Clarice!
- Como não pode Raul? As pessoas normais casam.
- Tá, mas você não é uma pessoal qualquer. Você é a Clarice, minha Clari, a menina dos meus olhos, minha paixão reprimida, minha esperança de amor, não pode ser!
Clarice ficou estática por alguns segundos e em seguida ficou vermelha. Fuzilou-o com o olhar.
- Reprimida porque você reprimiu. Você achou mesmo que eu fosse esperar você sair da sua vida enrolada a vida toda? Eu sempre tive a minha vida Raul, jamais iria pará-la pra te esperar. Eu conheci uma pessoa, me apaixonei, semana que vem a gente se muda pro mesmo apartamento e ano que vem a gente se casa.
- Você vai morar junto com esse cara?
- Você nem sabe quem ele é! Raul, você tá pirando. Desculpe, eu vou embora.
- Não, Clarice, por favor.
Ela levantou, deixou vinte reais na mesa e saiu andando. Ele fez o mesmo e foi atrás dela.
- Espera Clarice!
Ela não virou. Ele correu e parou na frente dela.
- Me ouve.
- Você já falou merda demais por hoje.
- Merda? Eu disse que te amo!
- Pra mim agora isso é merda. Sabe quando as coisas passam do prazo de validade e apodrecem? É quase como merda e foi isso que aconteceu com o que a gente sentia Raul, você deixou apodrecer. Achou que me deixando de molho, me temperando vez ou outra com aquelas conversas nossas eu fosse durar pra sempre naquela situação. Mas não é bem assim que as coisas funcionam. Num belo dia que eu fui passar a tarde na Paulista sozinha, o Conrado apareceu e adivinha? Ele é o homem da minha vida. Ele é livre, me ama, me quer, fez de tudo pra mostrar isso e você?
- Eu te amei o tempo todo!
- E eu soube disso?Por acaso você veio me procurar, me dizer que me queria, foi procurar saber por onde eu andava, onde eu estava morando? Eu estava na sua fuça, mas você não fez questão de ver. Agora é tarde demais, se você quiser ser meu amigo, ótimo. Senão, por favor, esqueça do dia de hoje.
Ele começou a chorar. Não dizia nada, não resmungava, não fazia nada. Estava estático a frente dela e as lágrimas rompiam qualquer barulho que quisesse sair da boca dele.
- Raul... para!
- Eu te perdi pra sempre.
O coração dela doeu junto.
- Perdeu, Raul.
- Por que?
Ela se aproximou dele e segurou-lhe as mãos.
- Porque o tempo não para pra que a gente escolha, ele vai indo, fluindo assim...E as coisas na nossa vida não voltam, o nosso tempo passou Raul .Nosso tempo que nunca existiu, mas ele poderia ter existido. Mas agora é tarde demais.
Ela abraçou-o e quando olharam-se novamente ela chorava também.
- Tá vendo, você também me ama!
- Não Raul, eu não amo você. Eu só me senti triste por alguns segundos porque você deixou o tempo fugir demais das suas mãos, você fugiu do tempo e nós que fomos atingidos. Eu sempre achei que dentro de uma aliança minha estaria escrito o seu nome, mas a vida surpreende. E hoje eu não te amo mais Raul, mas eu quero que você seja feliz e entenda, que não, o tempo não para! Fica bem...
Ela se foi, deixando pra trás o seu cheiro e a dor no coração dele. E daquele dia em diante apenas uma frase ecoava no seu coração: Raul, o tempo não para.



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