sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Jasmim...


Num instante, repousou os olhos nela. E leu. Leu como se fosse um romance. E que belo romance ela seria.
De olhos muito verdes, porém escuros na fumaça do sereno, lábios avermelhados naturalmente, cabelos contrastantes de um claro renascentista, uma poesia barroca, quem sabe um romance burlesco?
E queria romancear mais. Mas deteve-se e voltou para a realidade.
Mulheres como ela eram perigosas, concluiu, enquanto piscava duro, tentando sair daquele universo convidativo que tinha aquele olhar.
Essas mulheres assim, que você olha e num instante parece que ela já mudou de rosto, de jeito, de sorriso. E você vai achando que não é nada, que ela só é bonita, mas não percebe que as ramas que saem dela já estão se enroscando nos seus sapatos, subindo pelas suas pernas e quando você perceber, está enforcado até o pescoço, pensando como ela dorme, o que ela gosta de comer, se suspira fundo enquanto pensa no nada, se o cílios longos fazem cócegas nas bochechas quando ela beija e se pergunta como uma pessoa poderia tornar as coisas tão mais sensíveis, perceptíveis e alucinantes.
Mas você se contém de novo, porque sabe que se mergulhar, nunca mais vai voltar.
É o canto da sereia que lhe arrasta até o fundo do oceano, numa morte lenta e suave, enquanto a água salgada do mar se funde com uma eventual lágrima de raiva que você derrama, porque não entende o fascínio que aqueles olhos de esmeralda tem sob você.
E pensa que absurdo é criar fantasias com essa imagem de mulher. Você está quase se convencendo de que ela era apenas bonita e gentil, até que ela fala, macio e alto. Ri e joga os cabelos para trás. Um riso farto, quente, gostoso, molhado.
Você se permite, se transporta novamente. Conforme ela anda, todas as saias giram, é uma cigana andaluz, de pés descalços, mãos finas. E como seriam essas mãos, você se questiona...
Mas você se detém novamente. Ela é perigosa, ardilosa, você afirma para si mesmo. Nem disse nada e você já estava aí, devaneando com aquele cabelo perfumado, cheirando a jasmim, com a pele de brilho âmbar e o hálito de hortelã. Era um jardim paradisíaco, afrodisíaco.
E você caminha descalço por entre a grama e ela está sentada numa liteira, sem olhar pra você.
Mas num choque, ela te olha de verdade e você sente o soco violento e a luz amorosa que emana daquele olhar.
E ela aperta os dedos nas pálpebras, como se quisesse acordar, sorri pra você, um sorriso sensível, sereno e você tem a sensação de que por um instante, ela estava no mesmo lugar que você. Ela se vira, tal qual cortesã indiana, dama francesa, senhora do romance e se vai, pairando o cheiro de lilás que emana dela.
Mas você se detém, para, se controla, se puxa de volta para a realidade e pensa que é melhor se afastar do jasmim e do âmbar, ela pode ser muito perigosa. O amor pode ser muito perigoso.

Nenhum comentário:

Postar um comentário