sábado, 15 de setembro de 2012

O corsário

Para um coração apaixonado, sempre há uma esperança. 
Mas dessa vez ela mesma sentia-se numa encruzilhada. Como confiar no que o destino lhe traria, na boa vontade do mar em trazê-lo de volta?
Já contava quatro anos desde a partida de Inácio e nunca mais pudera vê-lo sorrir novamente, a não ser todas as noites, quando deitava-se sozinha, com o coração triste, buscando no recôndito da memória a doce figura de seu amado corsário. E diziam-lhe os parentes aos brados quando recusava algum novo pedido de matrimônio: " Você não pode passar o resto de sua vida esperando esse maldito corsário, Thereza! Encare os fatos, ele lhe abandonou e nunca mais vai voltar!".
Chorava as escondidas quando pensava que Deus podia ao menos ter lhe dado um fruto desse amor. A essa altura, o meninote estaria com quatro anos. Mas até isso lhe fora negado. Das noites que viveram juntos, nada restara além de lembranças ternas e por vezes, desesperadoras. 
O amor sem resposta é como o desespero. Não há o que pensar, o que fazer e não se pode pensar, porque não se consegue tomar posse da razão. 
No torvelinho de suas emoções guardadas, escondidas, mentidas até para si mesma, Thereza, a menina nobre, de sentimentos puros, nascida em berço de ouro, sentira que seu coração havia morrido afogado no mar com seu amado Inácio.
Por certo, ele estaria morto ou havia esquecido sua doce "princesa Thereza", como ele mesmo costumava dizer, para sempre.
Thereza não sabia o que doía mais, se era a morte de seu corsário ou ser esquecida por ele.
Olhava para a linha que existia entre o mar e o céu. Sentia-se assim. Ela era o céu e Inácio, o mar. Por um instante poderiam parecer muito próximos. Mas era apenas uma ilusão de ótica.
O vento soprava forte e os poucos homens que se atreviam a passear na praia naquela tarde tinham seus chapéus roubados pelo vento.
Thereza desceu e foi caminhar na praia. Buscava no horizonte qualquer sinal de seu amado, um barco, uma vela ou ao menos uma má notícia. Nada. Apenas o silêncio a acompanhava. E como era dolorosa a voz do silêncio nesses momentos.
Cansada, exausta e com suas últimas esperanças ruindo, Thereza caminhou em direção ao mar. Tirou os sapatos e sentiu a água fria das ondas lamber-lhe os pés.
O corpo todo arrepiou-se. Abriu a boca como quem tenta dizer algo para si mesma, mas só sentia o gosto salgado da brisa e em seguida, o sabor de suas próprias lágrimas.
Chorou sua dor de quatro anos de espera. Chorou a falta de notícias, o desencontro, o tempo, o espaço, a distância, as condições, chorou tanto que caiu de joelhos na água, pois não tinha mais forças dentro de si para levantar-se. O vestido de veludo molhou todo, enquando ela afogava-se em sua tristeza.
E quando parecia que ia sucumbir, que a tristeza iria engoli-la por inteiro, escutou uma voz de longe.
- Thereza!
Olhou para o lado de onde vinha a voz e viu um homem que corria gritando.
- Thereza! Thereza!
Estava sonhando. Não podia ser. Era uma ilusão da solidão.
Mas a medida que ele chegava mais perto o coração de Thereza acelerava como nunca. Inácio, ele tinha voltado!
Recuperou suas forças o mais rápido que pode e saiu correndo ao encontro dele.
Depois de alguns passos, pararam, frente a frente, como duas estátuas.
- Thereza... - disse-lhe o corsário, com a voz entrecortada pela emoção, pela saudade e pelos quatro anos de espera, ansiedade, mas acima de tudo, de amor.
- Inácio...
E como uma onda que arrebenta na praia depois da calmaria, abraçaram-se, chocando-se em amor, espera e vida. O abraço do reencontro, da vitória, da confiança.
Depois de tudo que tinham vivido separados, ver-se nos olhos do outro fazia todo o sentido de tudo. O amor valia a pena. Era só saber esperar.

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