sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Do fundo do mar e do coração

Levantou-se da cadeira com raiva. Como ele podia ser tão falso?
Olívia mordeu os lábios quando lembrou que ele lhe dissera muitas vezes que não queria mais nada com aquele "problema", porque elas eram sinônimo de problema. A última era o maior deles e ele havia jogado-a para escanteio.
Teve vontade de usar as redes sociais para machucá-lo. Teve vontade de escrever-lhe dizendo que se ele tinha qualquer esperança de que ela voltasse, podia jogá-las no esgoto porque todas as atitudes dele nesse tempo pós-fim só davam mais certeza a ela de que tinha feito a coisa certa. Lauro não era homem pra ela.
Mas acalmou-se. Felizmente, depois de muito ferir-se e ferir os outros, Olívia havia aprendido a acalmar-se antes de sair por aí dizendo cobras e lagartos.
Pensou que talvez fosse uma defesa, talvez até mesmo uma defesa masculina: depois de se sentir jogado pra escanteio, correu atrás daquelas que ele havia jogado pra escanteio. Um clássico.
Estava sendo hipócrita por pensar isso dele, ela também tinha teto de vidro.E não fazia sentido algum cobrá-lo por sua aparente "falsidade". Por que ela deveria cobrá-lo? Amava-o? Certamente não. Era apenas um instinto barato de posse que como bem previu Maysa uma vez: "eu não quero, mas não quero que ninguém queira".
Olívia não podia falar de Lauro, porque muito embora negasse pra si mesma o tsunami de emoções que estava vivendo, o mar, em toda sua agitação, trazia de volta uma pedra rara de seu coração. Pedra esta que se encontrava há mares de distância, quilômetros, dias, horas, mas que, enigmaticamente havia brilhado lá do fundo do oceano de seu coração, sabe lá Deus porque. 
Pedro. Ele havia voltado como o som das ondas, música do destino, pensava ela, enquanto organizava-se mentalmente na própria desordem.
Não podia crucificar Lauro. Decidiu deixá-lo de vez. Ela não poderia cobrá-lo de duas atitudes, porque não tinha nada a oferecer. Apenas o ego ferido de ter sido esquecida depressa. Mas tudo bem, ele também não sobreviveria as grandes ondas que estavam por vir, a não ser como amigo distante que era um bocado interessante, mas não se encaixava aos sonhos dela.
Respirou fundo por conseguir compreender a si mesma.
Suspirou um alívio pela metade.
A imagem de Pedro não permitia que ela se sentisse totalmente aliviada.
Por que ele? De novo? Por que as ondas? Por que o mar?
"Onde já se viu o mar apaixonado por uma menina? Quem já conseguiu dominar o amor? Por que que o mar não se apaixona por uma lagoa? Por que a gente nunca sabe de quem vai gostar?".
Cantarolou Teatro Mágico enquanto andava de um lado para o outro, sem perceber que movimentava-se com ansiedade.
Parou. Era melhor acalmar-se.
Acalmou-se, suspirando em tempos de três segundos, enquanto uma ou duas lágrimas desciam pela face, cantarolando uma música que o trouxesse de volta, como uma menina que anda na praia a procura da mais bela conchinha. Onde estaria Pedro agora?



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