domingo, 30 de setembro de 2012

Refúgio Seguro

Fechou o livro. Despertou. A viagem havia sido intensa, muito embora não tivesse saído do lugar para viajar. O passaporte para tal viagem estava nos livros. Eram muitos passaportes em sua estante improvisada.
Cairo, Cafarnaum, Paris, até Pompeia se quisesse. Era bom viajar. Sobretudo sem sair do lugar. Viagem da alma, passeio do espírito, lugares da mente, descanso do coração.
Porque quando lia, desligava-se. Não se lembrava de si. Não se lembrava que estava no quarto, na sala ou deitada a sombra da goiabeira. Estava nas tendas de Jacó, numa vivenda cercada de lilases na Rússia, numa varanda enluarada em Pompeia, num canto qualquer lendo uma revista esperantista. E não era ela quem estava, eram as mulheres, heroínas ou vilãs, amadas ou amantes. Ela apenas se transportava e vivia na pele daquelas mulheres todas. Nascia e renascia em cada página.
Sentia o cheiro do almíscar, o gosto da romã, do carneiro, sentia o vento quente ou gélido. Ouvia os lobos, ou as crianças a cantarolando pela roda.
Tinha raiva, sentia ciúmes, sentia paixão mas sobretudo amor. Entristecia-se, chorava lágrimas tristes, caladas, por vezes choro de criança, outras, um choro de mulher que ela já conhecia: o da partida.
Mas não se importava consigo. Não era a história dela em questão que importava. Na verdade, não queria pensar em sua própria história.
Era um refúgio. Refúgio seguro da alma. Escondia-se do mundo, achava-se no universo. E por um instante, estava em paz. Desligava-se, conectava-se a outros mundos, outras esferas, pessoas e lugares.
Podia pisar no solo quente da Judeia, podia encontrar anjos que lhe davam sábios conselhos pelo caminho. Podia voar e caminhar em paz.
Os livros. A leitura. O refúgio seguro de si mesma.

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