domingo, 23 de setembro de 2012

Insônia

Deitada, buscando o sono que não vinha, lembrou-se do diálogo sonolento que tiveram, há tanto tempo atrás, que quase não se recordava das falas.
"Acho que eu dormi", disse enquanto tentava disfarçar o sono aconchegante que o embalara sob o perfume dela.
" Não precisa ir embora agora..."
" Mas já tá tarde..."
Lembrou-se de terem adormecido no sofá, aquele sono pacífico e amoroso que nos invade quando o mundo de dentro parece estar na mais perfeita harmonia.
Nunca mais dormiram juntos. Nem no sofá, sem querer, nem na cama, por desejar, nem em nenhum outro lugar.
Ficou pensando se agora, mesmo com todos os fusos, mares e distância, se ele dormia em paz.
Como seria sua expressão, se dormia virado para direita, ou para esquerda. Se um dos braços tampava-lhe os olhos, se se esparramava na cama ou se dormia feito um bebê, encolhido em si mesmo.
Talvez ele estivesse sozinho, talvez algum abraço o enlaçasse. Ao pensar nisso sentiu o estômago contrair-se, o coração disparar, os olhos marejarem.
E se nunca mais pudesse vê-lo respirar na paz do sono? Se durante o sono dele, outra ocupava-lhe os sonhos? E se ele voltasse num dia qualquer e não mais lhe sorrisse o sorriso amoroso que ele tinha? E se lhe impusesse uma amizade, fugindo de toda aquela saudade que embargava os pensamentos dela mesmo depois de tantos anos?
E se pensar nele fosse uma grande mentira? Mais uma ilusão entre as tantas que ele já havia sido? Talvez estivesse confundindo as coisas.
Mas, Deus, ele havia sido absolutamente sincero...
Será que o coração dele sentia falta do dela?
Será que foram necessários todos esses anos para que finalmente o vulcão da vida entrasse em erupção e incendiasse os corações de ambos?
Em todas as suas perguntas sem respostas, Julia encolheu-se na cama como uma criança assustada, com medo daquele amor, com medo dele, de si, da vida.
Apertaram-lhe as lágrimas na garganta. Não pode mais sufocá-las por muito tempo.
Chorou baixinho sua insônia daquela noite, suas saudades, sua confusão, seu coração, ele, o sorriso, a dor e finalmente, adormeceu.

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