terça-feira, 2 de abril de 2013

É, menina...

Ela babou no meu braço e me acordou no meio da noite com um cutucão, resmungou que eu tava roncando, me abraçou e dormiu de novo.
Meteu os pés gelados no meio dos meus. "Me esquenta?". E como é que eu vou negar um pedido vindo dos teus olhos, menina?
Assim como eu fiquei pensativo quando você me olhou com aqueles olhos tristes, que seguram as lágrimas mordendo a ponta da língua e me disse " você entende?".
Não sei se eu entendo, não sei se eu entendo você e toda essa coisa mágica que veio junto com o balançar dos teus cabelos claros.
Não sei se eu entendo esse seu jeito místico de ver as coisas, mas de repente eu me pego flutuando na sua fala macia, me vejo batalhando na sua guerrilha, não sei nem que horas eu decidi que queria pegar em armas.
Mas depois eu hesito um pouco, tenho medo de que um dia tudo dê errado e eu me afogue no pólen das flores do seu jardim, morra de rinite, ou que corte meu pé nas conchas do teu mar, antes meu porto seguro.
A verdade é que tenho medo do que já acontece. Revogo e prorrogo os prazos do meu coração que já foi entregue pra você numa bandeja o dia que te conheci.
"Não deixa ela escapar". Essa frase ecoa todos os momentos em que penso que por um segundo, dei uma brecha pra você fugir de mim. Seja com meu jeito metódico de ser, com minhas expressões duras, com minhas cobranças que vem fora de hora e eu sei, te ferem um bocado.
Mas contrariando tudo que eu imaginava, você fica.
Você resiste as intempéries do meu comportamento austero, das minhas rogativas incessantes, porque no fundo eu só queria me certificar que é você mesmo.
E você surge de novo, no meio das chamas das minhas dúvidas, vencendo a fumaça do meu medo, resistindo heroica e lindamente todas essas coisas que afastaram tantos sorrisos de mim. Então eu paro e penso se talvez não foi pra encontrar você que vivi a vida toda. Se num instante do seu olhar, não fazem valer a pena os meses em que me arrastei sem entender direito o que eu procurava numa mulher.
Me sinto envergonhado quando vejo você me enfrentar por alguma babaquice que cometi. Porque a última coisa que eu queria ser era babaca com você. E o dia que você apontou o dedo na minha cara e disse com todas as letras que não era as filhinhas de papai com as quais eu estava acostumado, aquilo foi um golpe duro demais pra mim. E por mais que eu soubesse desde o início que não, você não era uma menininha mimada, eu fui rude em não ver os mergulhos silenciosos e profundos da sua própria história na calada da noite, sem agitação ou testemunha. Enquanto você chorava baixinho naquele dia, eu senti o medo maior tomar conta de mim.
Não quero perder você, minha menina.
Nem tua doçura, antídoto pros meus males diários que me cura aos finais de semana, com seu jeito macio de ver a vida, leve como uma borboleta, num campo de rosas. Vivendo pra ser feliz.
Fica, fica mesmo. Fica porque eu preciso do seus olhos mansos, das tuas mãos calmas, dos teus dedos firmes passeando no meu pescoço dizendo que vai tirar toda tensão num passe de mágica.
Mágica? Não tem nada de mágico nisso.
Porque quando eu olhei pra você eu pensei em amor. E foi isso que você me respondeu quando me olhou.
É, menina. É amor...

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