sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Arrastados

Sentimento de posse é algo perigoso. Ele mexe no mais profundo de nosso ego, nos tornando egocentricos e egoístas.
É muito difícil entender e aceitar que as pessoas não são propriedades nossas. Passamos uma vida sem compreender isso.
É que quando aquilo que nos era certeza deixa de ser tão certo como imaginávamos, nos transtornamos e queremos achar algozes para nossa fúria e decepção. E quando chegamos a essa altura do caminho, qualquer pessoa que aparece, serve.
Algumas pessoas são suficientemente egoístas para deixar outras pessoas amarradas a si, e tem o pensamento de que elas podem não estar felizes assim, mas elas tem que ficar!
De certa forma poderia soar como inocência, mas de pensamento inocente não tem nada.
Em seus relacionamentos amorosos essas pessoas, que possuem sentimento de posse profundo, não se importam tanto com aqueles que elas decidiram amarrar a si. Principalmente se aquele que foi amarrado demonstra amor e paixão. E por serem profundamente egoístas pensando assim, o amor do outro lhes é certo. Uma certeza infindável e tão absoluta, que a criatura acha que mesmo colocando o dito amarrado numa situação de desconforto, ele vai continuar amando-a e se apaixonando por ela todos os dias, seguindo-a cegamente. O ego é soberano e lhe dá ainda mais certeza disso.
Sendo assim, a criatura vai arrastando seu companheiro "amado" num mar de desconforto e angústia, porque, afinal das contas, sendo dela, ele tem que ficar com ela de qualquer jeito, não importa se está sendo arrastado ou se está indo de livre e espontânea vontade.
O pior dessas situações é que na maioria das vezes o amarrado se deixa amarrar porque também possui sentimento de posse e assim se deixa arrastar por entre as pedras do caminho.
E assim os relacionamentos se arrastam, infelizes, incompletos, difíceis de lidar, descontentes de tudo e de todos. Só ferindo a ambos.
Nessa hora surge a comodidade. As feridas já machucaram tanto que agora não doem mais, então ambos fingem não ver o sangue e o pus que lhes infecta e vão levando. Se arrastando com seu relaciomento infeccioso.
Mas sempre tem um que acorda antes que o outro. Que percebe que suas feridas ainda doem e que não quer mais viver assim. E na maioria dos casos, é o amarrado que percebe.
Olhando pra trás ele percebe a trilha por onde passou e se arrastou. Olha pra si e vê toda a infelicidade que há em seu coração. E não porque aquele relacionamento tinha tudo pra dar errado, mas porque os dois, agindo dessa forma, arrastaram o que lhes restou pra um lugar errado.
E quando acorda, o amor se foi. Já tinha ido na metade da estrada arrastada, mas nenhum dos dois teve coragem de ver. Sendo assim, o amarrado solta as cordas que o prendem, limpa suas feridas e vai caminhar sozinho.
Mas o egocentrismo da criatura que o arrastava não compreende isso e busca culpados para o desfecho de sua história infeliz. Não entende que aquele que a amava, que era tão certo em sua vida, pode lhe deixar. Mas a verdade é que os dois se deixaram quando arrastaram suas próprias vidas, sem ter cuidado nenhum com seus corações.
Porque quando aquilo que era certo e nos era cômodo foge de nossas mãos, nos transtornamos e mostramos uma face que as pessoas não conheciam antes.
Caros leitores, não sou terapeuta, muito menos psicanalista ou guru do amor. O que escrevo aqui são retratos e relatos das minhas experiências e vivências, muitas vezes, transformados em contos, outras vezes trazidos desta forma. E aqueles que se sentirem ofendidos, leram porque quiseram, acharam-se porque se procuraram nas linhas e entrelinhas. Para demais reclamações, procurem meu advogado!
E aqueles que quiserem compartilhar suas histórias, sou toda ouvidos.
Sejam felizes e não arrastem, nem sejam arrastados!

Um comentário:

  1. Ops, já vi um caso igual... hihihi Dá impressão de que tudo começa com um ato inocente, de um amor inexperiente que acha mesmo que amar é ter posse. Uma vez que houve liberdade pra essa "amarração" e até mesmo reciprocidade... ferrou! Parece que vira uma bola de neve!

    O bom mesmo é aprender com os erros pra nunca mais repetí-los (principalmente quando foi você o último a perceber que o relacionamento estava sendo arrastado...)

    Continue escrevendo, terapeuta! Estou acompanhando. =)

    Bjs, Nanda.

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