segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Histórias do amor

Cora chegou em casa cansada. Jogou as coisas em cima da mesa e deitou no sofá. Os últimos dias haviam sido mais cansativos do que ela imaginava e o fator Lívia era uma das causas do cansaço de Cora.
Todos os dias que Cora saia do trabalho, lá estava Lívia, sentada no café, como quem diz " Oi, eu estou aqui, sabia?".
E Cora sabia. Sabia que ela estava lá e o fato dela estar presente todos os dias, no mesmo lugar, na mesma hora era uma tentativa de intimidá-la. Mas diga-se de passagem, uma tentativa frustrada.
Cora até entendia o lado de Lívia. Entendia porque Henrique era um tipo raro, um exemplar da espécie em extinção, talvez um dos últimos exemplares de homem que presta existente na face da Terra.
Henrique era diferente, preocupado, paciente, amável, amante, carinhoso, cuidadoso e tantos outros predicados que faziam Cora entender a ira de Lívia.
Mas não foi Cora quem tirou Henrique da vida de Lívia. Foi a própria Lívia que o mandou para longe, que não deu valor para ele nem para o que ele fazia. Que não soube ver o partidão que ela tinha nas mãos.
Se havia alguma vilã na história de Lívia era ela mesma.
Cora era carta fora do baralho quando se tratava da história que envolvia Lívia e Henrique.
Ela era uma nova história. Um começo. Um princípio na vida de Henrique. Uma história distinta daquela cheia de nós, tropeços e quedas.
Cora entendia Lívia. Não que ela simpatizasse com a mesma. Isso não! Ainda mais depois da investidas violentas e sem noção de Lívia, tentando resgatar o tempo perdido, mesmo sabendo que Cora existia.
Mas Lívia na sua prepotência achava mesmo que Henrique tornaria a ser seu.
O que Lívia não entendia é que não era Cora a culpada. Poderia ser qualquer outra.
O que fez Henrique virar as costas e ir embora foi o fato do amor ter se esgotado entre tantas idas e vindas. Entre tantos encontros e desencontros, entre tanto desinteresse e despreocupação dela em ver Henrique feliz. Henrique cansou de vê-la pensar só em si, na sua vontade, no seu prazer, na sua felicidade e isolá-lo como se o que ele sentisse não tivesse valor.
Henrique não havia esquecido Lívia de uma hora pra outra. Mas com a situação proposta por ambos, em cima do muro como estavam, o desgaste emocional daquela situação fazia com que a cada dia o rosto dela perdesse um pouco de brilho. Com que os olhos dela perdessem a luz. E dia após dia a imagem dela ia ficando mais difícil de recordar na cabeça dele, ao passo que outras mulheres pareciam interessantes, outras histórias pareciam ter mais vida do que aquela que já encontrava-se moribunda.
Não foi do dia pra noite. Lívia foi matando em Henrique o amor que ele sentia por ela, com todo o desinteresse dela nos sentimentos dele.
E quando, numa obra do destino Cora apareceu na vida dele e ele na dela, interessaram-se um pelo outro, e ali era hora de viver uma nova história.
Não haviam culpados, nem vilões, nem vítimas. Apenas histórias. Enquanto uma se findava, a outra começava.

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