domingo, 3 de fevereiro de 2013

Carta para Madá - Sobre sereias, barcos e o (a)mar

" Madá, eu queria estar mais perto pra ver nos seus olhos tudo aquilo que você me escreveu. Eu poderia dar uma resposta mais objetiva e sincera se eu visse a confusão nos seus olhos, se suas pupilam se dilatam e se contraem, como uma menina tímida, enquanto você fala dele, se você, enquanto se perde quando fala dele, faz aquela cara e diz " eeee...". Se você vai alcançar o horizonte com seus olhos em busca de respostas que você nem sabe as perguntas.
Sabe, Madá, fazia tempo que eu não via você apaixonada. Aliás, achei mesmo que você estivesse apaixonada e abri um largo e dentado sorriso quando li suas cartas. Talvez seja o amor grato Madá, "com sabor de fruta mordida" como ele disse um dia.
Mas depois parece que a fruta ficou marrenta, você ficou amuada e senti falta de não ser seu colo amigo, levar você pra tomar um gigantesco sorvete, depois comer churros, caminhar e dizer " Oh, Madalena", enquanto você me diz "Di, na próxima vida vamos vir melhores maridos, não melhores amigos?!"
Imaginei que você tivesse chorado enquanto olhava para as estrelas, pra um céu a noite, ou num crepúsculo qualquer, perguntando aos astros da noite se eles foram testemunha do seu amor, do porque de tudo isso, enquanto seu suspiro me alcançaria e eu pediria a minha Iemanjá pra cuidar docê, nega.
Ah, minha molecona levada, minha mulherona com sorriso de menina, como você deve ter chorado com a aparente indiferença desse cidadão. E como eu quis grudar ele pelo colarinho e dizer "irmão, você vai perder a mulher mais sensacional da sua vida". Mas eu me acalmei, né Madá, no frio de Zurique não posso fazer muita coisa por você.
Depois da sua última carta, confesso que fiquei numa louca expectativa pra saber o que tinha acontecido, como um lunático pela sua série de TV preferida, eu estava me divertindo e sofrendo com as suas histórias. E elas dariam um livro, né? Sei que você vai torcer o nariz quando ler isso porque você me disse uma vez "que culpa eu tenho se eu me arrisco a nadar no mar, enquanto eles ficam esperando o amor no porto?"
É, Madá, você é a sereia mais corajosa que já conheci.
Confesso que nessa última carta, eu queria mesmo ver você, olhar no fundo desses seus olhos imensos e devoradores de alma, como sempre digo, e ver o que há atrás dessa história.
Sabe, Madá, a vida não é tão fácil. Sereias enfrentam grandes ondas todos os dias e por vezes, o tédio das marolas e da calmaria.
Talvez, Madá, ele tenha pisado naquela plantinha que você regou. E talvez ela não cresça mais. Talvez ele não seja mais tão bonito, e enquanto você olhava pra ele, as cores vibrantes que antes eram todas só dele se misturaram as cores da multidão.
Sabe, Madá, tem gente que faz a diferença, mas tem gente que não quer fazer.
E talvez pela indiferença, a sereia percebeu que talvez seja melhor abandonar o navio, antes que ele afunde.
Sinceramente, não me preocupe se o navio afundar, Madá, porque você sabe nadar como ninguém. Já sobreviveu a naufrágios e hoje é a capitã do seu coração.
Talvez, ele seja um marujo atrevido, mas que quer descer no próximo porto da ilusão...
Mas talvez seja a hora de ser paciente, dar tempo ao tempo, e quem sabe, o marujo atrevido seja aquele que vai lhe ajudar a conduzir o leme do coração para os caminhos seguros do amor?
Sabe, Madá, sinto sua falta, minha sereia, minha amiga, minha irmã do coração.
E então, Madá, você quer uma resposta eu presumo. Já imagino seus grandes olhos devoradores de alma, procurando uma resposta enquanto as linhas acabam, suas mãos bonitinhas com seu dedinho torto, quase amassando esse papel de raiva de mim, porque você quer uma resposta.
Mas, Madá, eu não sei.
Ah, Madá, o mar é um imprevisto.
Amar não é previsto.
Cuide-se, Pequena Sereia..."

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