sábado, 9 de fevereiro de 2013

Primadonna

Tô sorrindo aquele sorriso falso, o mesmo que eu sorri pra você naquele dia que te vi da última vez.
Eu sou uma mera expectadora da sua vida enquanto você se esquiva da minha.  E eu assisto você curtir as fotos no facebook de todas aquelas meninas de cabelo mais falso que o meu sorriso, que eu poderia chamar de vagabundas, mas na verdade, quem eu deveria pensar em xingar aqui é você.
Mas eu não vou xingar, mesmo que o meu coração insiste em vaiar a sua atuação. É tudo muito simples pra quem não se envolve, pra quem não se entrega, pra quem não se dá o direito de viver assim, de cabeça, mergulhar, como eu quis fazer com você. Como eu fiz por você...
Pra mim tava sendo muito difícil me abrir de novo pra alguém, mas pro seu sorriso, o seu maldito sorriso, parecia extremamente fácil querer amar de novo. Me apaixonar e enfim, me libertar.
Mas a sua indiferença me aprisionava dia a dia num mar de dúvidas e aquele beijo no rosto...Por que você me beija no rosto? Eu não quero ser sua amiga. Nunca quis. Amigos não entrelaçam os dedos nos cabelos das amigas, trazendo-as mais perto, enquanto respiram o mesmo ar, roubando oxigênio um do outro, roubando a vergonha, o medo, o pudor.
Eu não viajei até lá, não me sentei ali, não me vesti daquele jeito porque eu queria ser sua amiga. Não é esse papel que eu quis pra mim quando sorri pra você.
Eu sou péssima atriz. Eu não consigo fingir ou simular, atuar num papel que não condiz com a verdade que eu quero pra mim, pra nós.
Eu era a Primadonna. Eu queria ser a Primadonna. Pra sempre, sua musa soberana, enquanto a gente aplaudia o esplendor da vida por ter feito essa maracutaia toda pra gente contracenar nos palcos do amor, juntos.
Mas, na minha ópera, você gaguejou. No meu recital você desafinou, tirou seu corpo, entrou pra coxia, não soube enfrentar a multidão nervosa que veria você me dar um beijo na boca e então, me beijou no rosto. De novo.
Então o teatro ficava vazio, dia após dia, enquanto eu fazia a mãe, a filha, a irmã, a amiga. Contracenava sozinha, gesticulava pro nada procurando Deus, porque talvez só Ele me entendesse.
Sabe, talvez eu tivesse encenado todos os papéis se você estivesse comigo no palco. Eu sei dançar, eu canto bem. Eu seria a Primadonna. Era pra eu ser a Primadonna.
Na minha peça eu te dei o papel principal.
Mas você não quis ser meu galã. Você negou James Dean. Você não quis ser meu amor.
Quero só ver quem vai comprar os ingressos desse romance sem final feliz.
Eu me levantei da cadeira, com os olhos cheios de lágrimas, um coração espremido no peito. As cortinas se fecham enquanto eu saio. Eu não vou mais aplaudir você.
C'est fini.

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