terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Offline

Eu não quero um amor que me mande um email grande, de letras miúdas dizendo da minha importância na vida dele.
Eu não quero um amor que me marque numa foto pra todo mundo ver que estive com ele, ou um aplicativo que mostre que estivemos juntos em qualquer lugar do Brasil e do mundo.
Eu não quero um amor que faça meu celular piscar freneticamente me perguntando se almocei, se dormi, se morri.
Eu não quero um amor que me mande mensagem dizendo que sou linda, cinco minutos depois de termos deixado o mesmo ambiente se ele não teve coragem de me dizer isso quando estava ali, bem na minha frente.
Eu não quero um amor que tenha os dedos agitados no celular, que converse comigo todos os dias sem ao menos ouvir o tom da minha voz, sem perceber que depois daquelas palavras eu poderia estar com voz de choro, triste ou acuada. Sem ao menos perceber a decepção nos meus olhos, sem perceber que minhas mãos agitadas e que o movimento constante que me faz cheirar meu cabelo quer dizer alguma coisa.
Eu não quero um amor que exista apenas nas telas do celular, do computador.
Porque eu não sou um android. Eu não sou um aplicativo da Apple pra um Iqualquercoisa. Eu não sou uma máquina, eu não sou um contato do celular, uma foto bonita no facebook, no Instagram, em qualquer lugar digital.
Eu sou uma pessoa. Pessoas dessas de verdade. Que tem um celular e um computador, mas que existe antes deles e vai continuar existindo sem eles.
Pessoa de carne, osso, gordura, estria, celulite, cabelos, que ora parecem revoltados, mas serão os mais macios que você poderia encostar na sua vida.
Eu não tenho botão de desliga. Nem de mute. Falo muito mesmo e talvez não saiba a hora de ficar quieta.
Eu não tenho conserto. Tô tentando me aprimorar de outras formas, mas eu não conheço nenhum especialista que se atreveu a apertar meus parafusos.
Não dá pra você me reiniciar. Tudo que a gente faz pros outros fica, de alguma forma, guardado. Mas não é num cartão de memória que você pode fazer uma limpeza nele e já era.
A máquina humana, e eu detesto essa definição, é muito mais complexa do que o último IOS que a Apple lançou.
E eu não vou me render a vida digital e muito menos a um amor virtual. Eu preciso de amor, de amor de verdade, de gente que tenha poros abertos, coração batendo, pele quente ou fria, talvez seca, olhos que pisquem a todo instante e um corpo que se movimente mesmo parado.
Eu preciso sentir a circulação do sangue, eu preciso ver a movimentação dos músculos no sorriso. As suas articulações, juntas, juntos.
Preciso ver defeitos e ressaltar a beleza nas coisas simples. Eu preciso de um colo quente nos dias frios. De uma palavra suave nos momentos de explosão.
Eu preciso do timbre da voz, da expressão do rosto, dos olhos, do retorcer da boca se lhe desagrada algo ou dos dentes que surgem quando algo lhe agrada.
Eu não quero só mensagens fofas, eu quero ouvir da boca de uma pessoa que fala, anda, se agita e tem hálito de chiclete, de comida, de qualquer coisa, me dizendo, olhando nos meus olhos, o quanto eu significo pra ela, ou do quanto essa roupa fica melhor em mim, ou simplesmente ver no rosto dela o quanto ela gosta de mim quando eu simplesmente sorrio.
Eu não posso, não quero e não vou seguir gostando de uma figura imaginária que existe atrás de um contato do meu celular. Porque quando as pupilas se contraem e dilatam, frente a frente, daí a gente vê quem é quem.
E sms, whatsapp, email, inbox, não existe nada que vá mudar esse contato olho no olho, pessoa a pessoa que existe quando a gente encontra alguém. E não vai adiantar se esconder numa foto bonita ou numa postagem legal, num comentário romântico ou numa mensagem de "to com sdds", porque o que a gente é de verdade não é só aquilo que a gente faz atrás das telas, mas somos muito mais aquilo que fazemos na vida, olho no olho, cara a cara.
A vida virtual é importante, não sejamos hipócritas. Quem é que não gosta de mensagens fofinhas? Mas o que eu quero dizer é que só isso não basta! Amor não é um arquivo que a gente faz download e deleta quando quiser!
E eu não quero um amor virtual!  Eu quero um amor de verdade! Mas só pra constar, pra você, eu tô offline.



Um comentário:

  1. Gabi que esse amor chegue, sem pressa e sem demora, apenas pouse aí dentro de ti e que seja correspondido e cheios de todos os erros e acertos que só no amor a gente entende e sente. Adorei cada palavra. Bj

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