sexta-feira, 13 de maio de 2011

Telefonema

Foi então que Esther chegou em casa e viu que mesmo tendo Vênus alinhado à cabeça dele, não dariam certo. Muito embora esse não fosse o objetivo, havia ali na sua frente uma resposta bem clara.
Ela havia deixado ele tirar os sapatos e por os pés em sua cama. Havia deixado ele beber e até fumar se quisesse, porque na verdade ela só queria alguém pra dividir o cigarro depois, pra passar suas noites vazias e não ter que se preocupar no dia seguinte. Um amigo que a ouvisse mas que soubesse perceber com um pouco de sensibilidade os momentos em que ela pedia silêncio com os olhos. Mas Lauro era o tipo de pessoa que costuma jogar o que ela dizia contra ela mesma, em suas brincadeiras sem graça.
"Não lhe digo mais nada."
E depois que fumaram uns dois cigarros ali na varanda do pequeno apartamento dela na Mooca ele sorriu e disse:
- As vezes eu sinto saudades de você.
Mas naquele dia que ela quis ele ali perto, muito perto, como não se pode ficar mais perto do que daquele jeito, ele pouco fez e foi buscar qualquer outra coisa.
Ela não se importava das outras mulheres dele. Não se importava, mas ele andava esquisito e Esther já havia percebido que tinha outra coisa atrás do olhar dele. Ela também tinha amigos e nem por isso era como aquela relação.
Então acendeu outro cigarro enquanto o telefone tocava.
Não atendeu.
Tocou mais umas três vezes e parou.
Deitou-se em sua cama e olhou pro lado. Lembrou-se de como ele poderia ser estupidamente encantador em um dia, e das vontades que ela tinha em jogá-lo pela janela as vezes.
Como numa incógnita, ela não sabia o que sentia por ele e naquela noite dormiu sem tentar descobrir.
O telefone tocou mais duas vezes e ela não atendeu.


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