segunda-feira, 2 de maio de 2011

A menina dos óculos vermelhos

Decidiu que iria sozinha. Queria muito ver aquele filme, mas queria ainda mais sentir aquela sensação que só aquele lugar lhe dava.
Avenida Paulista era seu destino. Então ela foi.
Quando chegou sentiu o sorriso invadir seu rosto. Parecia uma criança num parque de diversões. Sorria e quem passava não sabia porque aquela menina de roupas longas e escuras sorria sozinha.
Respirou. Suspirou. Aquele lugar tinha cheiro de liberdade.
Olhava para as pessoas, veja como as pessoas são diferentes. Queria viver ali, passar dias e horas ali. Queria levar seus filhos passear ali. Amava aquele lugar.
A saia cinza se fundia com o asfalto e a atmosfera. Atravessou a rua quase que correndo e teve vontade de correr pelas ruas pulando, como faria uma criança num parque de diversões.
Foi ao shopping, logo comprou o bilhete do cinema. Estudante paga meia. Ufa. Menos um gasto.
Ficou andando pensando no que iria comer. Temaki! Hot roll! Hummm. A moça do caixa era uma graça, muito simpática. Então pensou que existem muitas pessoas boas e gentis no mundo.
Andou, faltavam alguns minutos para começar o filme.
O coração se lembrou. Era evidente que ela não podia esquecer alguns de seus dias mais felizes naquele lugar. Não podia fazer de conta que seus pés não conheciam aqueles pisos com outros pés ao lado dos seus. Por algum tempo caminhavam juntos na mesma direção.
Era fato que se lembraria dele naquele lugar. Mas também não poderia esquecer dela mesma. Respirou. A vida vem e a vida vai assim como as pessoas. E se lembrou que fora ali que pisara sozinha pela primeira vez desde que saiu de casa buscando uma sensação de liberdade. Aquele lugar lembrava a ele, mas lembrava a ela, principalmente. O sonho concretizado. Estava ali mais uma vez embaixo de seus pés. Solo sagrado do coração dos paulistas. E ela, a menina de longe podia pisar ali.
Tão logo o filme ia começar. Foi até a sala pensando que não fosse ver ninguém, afinal, segunda-feria 15:15 ( que belo horário), quem estaria no cinema?
Para sua surpresa, tinham mais umas seis ou sete pessoas na sala. Sentou-se na fileira do meio, três ou cinco cadeiras longe de um moço que ouvia música. Havia comprado um chocolate para lhe fazer companhia. Afinal, nunca havia ido no cinema sozinha, então a insegurança pedia algo doce.
O filme começou e logo terminou. Passou rápido e foi lindo. Ela amou.
Saindo de lá foi na sua adorada Livraria Cultura. Andou, andou, subiu e desceu. Folheou páginas, quis comprar livros mas precisava voltar. Mas antes foi ao Starbucks.
Era a primeira vez que ela ia ao Starbucks sozinha. Muitos limites superados para alguém que sempre viveu apoiada na companhia de alguém.
Pediu seu café e levou uma leve cantada do mocinho do caixa, que por sinal era bom bonitinho. Pegou o café e sentou-se. Comeu seu pão de queijo. Bebeu o café e levou o resto dele para passear consigo. Que amor que ela sentia dentro de si.
Amor por quem seria? Pensou e entendeu. Era amor pela Vida, por ela e pelas coisas boas que Deus na sua inifinita bondade proporcionava a ela.
Estava aprendendo a andar sozinha, a conviver consigo mesma, a enfrentar o medo da solidão e os fantasmas do silêncio. E num suspiro ela olhou para o sol que se escondia atrás dos prédios, num céu alaranjado e frio. Num fim de tarde na Avenida Paulista havia uma menina de óculos vermelhos, casaco preto e saia cinza que olhava para o horizonte de pedra e raios de sol e sorria enternecida com o seu dia tão seu.
A vida era sua, o momento era seu e ela se faria ser feliz.


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