quarta-feira, 4 de abril de 2012

O Estranho Conhecido

O dia havia sido muito cansativo, porém ela aproveitara muito. O passeio pela Liberdade, os cursos e o sushi na hora do almoço haviam valido cada centavo. Exausta, mas com um volume de "O vermelho e o negro" nas mãos, tomou o metrô em direção a estação Ana Rosa.
O metrô estava vazio. Sentou-se e abriu. Logo não havia mais metrô e sim a envolvente história de Julien e da Sra de Rênal.
Muito entretida com a sua leitura não percebeu que alguém se sentara ao seu lado, mas certamente ela não podia ficar indiferente aquele perfume. Despreendeu-se da leitura e olhou para o lado.
Teve as mãos frias e o coração batendo forte. Conhecia-o de algum lugar, mas de onde?
Ele também lia e percebendo que alguém o encarava, olhou para ela. Segundos que pareceram uma vida trouxeram-no de volta e ele sorriu.
- Não é todo dia que a gente encontra alguém no metrô lendo o mesmo livro que a gente...
Ela olhou nas mãos dele e estava escrito "Le Rouge et Le Noir", sim, "O Vermelho e o Negro", mas em francês.
Ela sorriu de volta.
- Se eu tenho dificuldades em pronunciar os nomes dos personagens lendo a obra traduzida, fico pensando na obra em francês.
Ele sorriu contente.
- É, não é o livro mais fácil que eu já li, mas estou me esforçando, andava com o francês meio enferrujado. - olhou a sua volta, como se não quisesse ser mal interpretado e tornou - Você pega sempre esse trem a essa hora? Acho que já a encontrei por aqui antes.
- Algumas vezes. Acho que é por isso que tenho essa mesma sensação.
Mas ambos sabiam que não era dali que vinha essa nítida sensação.
- Você está com pressa?
Adivinhando-lhe os pensamentos ela olhou com singeleza.
- Não...
- Se você aceitasse o pedido de um estranho conhecido para tomar um café e discutir nossas impressões sobre o rude e enigmático Julien Sorel...
- Estranho conhecido, café, Julien Sorel... É parece uma boa ideia.
- Vamos descer na estação Brigadeiro, ali perto tem um café modesto e pequeno, mas é clássico e eu gosto bastante.
- Quem sabe Deus não enviou você para que eu pudesse aprender a falar francês...- brincou ela.
- Quem sabe Deus não enviou você para que eu pudesse aprender a sorrir mais, como hoje...
Ela corou, mas sentiu um calorzinho gostoso no peito. Uma pequena fagulha, uma chama pequenina.
E dali instantes estavam conversando como se já se conhecessem há muito tempo. Ela e o estranho conhecido.

2 comentários:

  1. que lindo Gabi, como sempre!
    um estranho conhecido, culto e que fala francês... todas precisamos! hahaha

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  2. Acho que precisamos de horas de papo, que tal???? Tenho muitas novidades e a senhorita também, né? Amoo!!!

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