domingo, 22 de abril de 2012

Carta para Ulisses

"Ulisses,

Estou lhe escrevendo mais uma vez e sei que esta carta talvez não chegue até você, mas os propósitos que trazem minhas palavras são os mesmos propósitos de outrora. Prometi a mim mesma, não me recordo quantas vezes que lhe escrevi dessa forma. Talvez eu tenha escrito muitas vezes, mas apaguei pois havia esperanças.
Estou lhe deixando, Ulisses. Como já o deixei muitas vezes sem ao menos tê-lo tido para mim.
Um belo dia o coração já não sangra, já não chora, já não geme, porque acostumou-se com a dor. Eu, Ulisses, não posso me calcar no mesmo erro e nos mesmos enganos, meu coração não pode sobreviver assim.
É difícil e penoso deixá-lo, mas ao mesmo tempo eu penso que não será assim tão doloroso, porque afinal de contas você nunca foi meu.
Convivemos poucas vezes, mas foram o suficiente para que eu absorvesse certas manias suas, como a maneira com que você lava os talheres. Sim, Ulisses, uma única vez que o vi lavar os talheres, em seguida eu me vi lavando da mesma maneira que você, passando a esponja duas vezes, de cima para baixo no cabo das facas, garfos e colheres.
E por falar em facas, tenho meus sonhos destroçados.
São migalhas, Ulisses. Migalhas infames, destruídas e arrasadas. Eu sempre lhe fui devotada e fiel, preocupando-me com seu estado de saúde, psicológico e seu coração. Mas veja Ulisses, agora que atravesso um mar de dúvidas onde gostaria de lhe contar tudo, onde está você, Ulisses?
Você acha que só você sofre, mas veja bem, Ulisses, você é o maior causador dos seus problemas. Esqueceu-se dos planos de Deus e entregou-se ao rancor dos seus sonhos devastados.
Sou a última pessoa do mundo que lhe desejaria mal, sou incapaz disso muito embora já tenha me esforçado para tanto, mas vejo você errando Ulisses, mais uma vez.
Então, depois que você chorar e amargurar mais um insucesso na sua vida amorosa, eu estaria ali, esperando para lhe acolher em meus braços, qual mãezinha amorosa, que deseja seu bem acima de tudo. E talvez assim, Ulisses, você me veria daquele jeito que eu sempre sonhei, do jeito em que você me olhava naquela tarde na França, onde nos conhecemos e nos perdemos, mas nem sabemos quando.
Ah, Ulisses, eu vou deixá-lo a própria sorte, muito embora em minhas orações vejo seu rosto sorrindo e rogo a Deus para que lhe proteja e lhe faça enxergar a verdade.
Sei que ainda tornarei a vê-lo muitas vezes em meus sonhos que se repetem com você, mas Deus vai resguardar meu coração dessas lembranças turbulentas e felizes, as quais eu nunca mais poderei vivê-las. Ele me dará forças e fé. Eu resistirei as lágrimas ao acordar.
Seja feliz, Ulisses, pois o sorriso que nunca foi meu, hoje é de alguém. Mas que ele nunca se apague, muito embora eu saiba que você ainda irá chorar. 
Eu o estou deixando, sem nunca tê-lo tido.
Digo adeus as músicas que ouvi pensando em você, aos sonhos melancólicos de outrora, as esperanças vãs e frágeis que fertilizaram meus sonhos de mulher por todo esses tempo.
Não poderei mais alimentar meu coração de esperanças desventuradas, que se esvaem como areia ao vento.
Ulisses... Meu coração é um vale de lágrimas. 
Que um dia Deus se apiede da minha alma e mostre os sagrados motivos de termos cruzado nossos caminhos, onde meu coração foi crucificado por este amor.
Adeus, Ulisses.
Que Deus vele por nós...
Clarice."

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