sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Essa menina não é uma boneca...

Achou que eu era um bibelô, um agrado da vida, como aqueles trouféuzinhos sem graça que você ganhava nos torneios de futebol do colégio, mesmo sem ter feito merda nenhuma pelo seu time.
E depois de ver que minha estética ornava bem com a sua coleção, me deixou ali, pra juntar poeira, achando que eu não fosse perceber. Me deixou ali para me olhar de vez em quando, sorrir satisfeito e pensar "é minha."
Como uma criança mimada, me colocou na sua estante, achando que eu era sua boneca de porcelana. Até o dia que eu saí andando.
Eu não sou uma boneca, nem de porcelana nem de nenhuma outra espécie.
Eu sou uma pessoa. Uma humana. E atrás do meu decote tem um coração. Você sabe o que é um coração? É o que te mantém vivo. Mas se penso um pouco, não sei mesmo como algumas continuam vivas, porque parecem que não tem coração.
Eu tenho olhos grandes e bonitos, é verdade, sem falsa modéstia. Mas eles não são de vidro, resina, cristal. São olhos que veem a indiferença de longe, que observam mais do que as retinas podem captar. Olhos que se intimidam, fixos num ponto, quando uma lágrima vem a tona e as pálpebras se comprimem, beijando-se molhadas, pra me fazer enxergar um nevoeiro depois. 
Eu tenho cabelos, brilhantes e macios porque eu cuido deles. E quando eu entrelaço meus dedos neles e levo-os até o nariz, é um sinal. Mas talvez você não tenha sensibilidade para interpretar sinais.
Tenho uma boca, que fala mais do que deveria. Mas que se fecha em silêncio, porque você não merece minha palavra.
E os meus pés, que você achou que fossem se manter fixos num ponto, esperando por você, eles me conduzem pelas belas estradas floridas, por onde eu caminho, com esse coração que bate forte no meu peito, alçando com o olhar um horizonte de esplendor, da liberdade de amar sem prender, de libertar pra viver.
Eu não fiz nada. Só me retirei, porque a gente sempre sabe quando é a hora de sair. Eu saí, com cuidado, você não notou a minha ausência. 
Mas quando meu coração bateu forte, você ouviu de longe, e quando o brilho do meu sorriso irradiou pela estrada, você quis saber porque.
Olhou na sua estante, eu não estava mais ali. Dos amontoados de corações que você coleciona, não havia lugar pra mim.
Eu não nasci pra ser coberta por um véu de poeira. O único véu que vai cobrir minha cabeça um dia, será um branco de renda francesa, o dia que eu entregar meu coração pra alguém que não vai aprisioná-lo nem fazer dele um troféu barato.
Você achou que eu tinha cara de palhaça. Mas quando eu fui embora, foi você quem ficou com o nariz vermelho.
É...Essa menina não é uma boneca. Essa menina é uma mulher.





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