sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Uma cômoda para o coração - quando os sentimentos não cabem em gavetas

Ganhei uma cômoda nova. Porque a minha já tinha quase 15 anos, RG, CPF e estava pedindo aposentadoria. Gavetas que caem nos pés machucam, irritam e fazem você pensar que passar um pedaço do sábado nas lojas X talvez não seja tão ruim.
Minha mãe vivia reclamando da bagunça do meu armário. Já chamou ele de Nárnia e tantos outros apelidos que ela dava pro amontoado de roupas, bolsas, pijamas e cacarecos que eu guardava nele.
A cômoda veio organizar, aliviar. Passei uma noite de sexta tirando coisas do lugar, jogando papéis fora, me desfazendo de coisas e roupas que não serviam mais. Mais do que organização material, foi a organização emocional.
As roupas, agora, separadas devidamente em roupas de sair, roupas de trabalhar e ir pra faculdade, roupas para aulas de dança e duas gavetas escolhidas a dedo para abrigar meus figurinos de dança do ventre, entre véus, saias e strass.
A bagunça do armário cessou um pouco. Não sou exemplo de organização.
Mas eu queria mesmo uma cômoda pro meu coração. Pra organizar a bagunça que você fez quando chegou.
Felizmente, eu já me desfiz das coisas velhas, dos porta-retratos antigos, cartas lidas por dez vezes e sentimentos que já mofaram.
O problema não são as coisas velhas, nem nada disso.
O problema são as minhas coisas, tão minhas e tão bagunçadas agora.
Porque eu achei que tinha organizado tudo, que sabia separar as coisas, os fatos, as expectativas, os sentimentos, que esses dois anos um tanto mais reclusa em mim mesma, apesar dos pouco envolvimentos, que eu saberia lidar melhor se alguém bagunçasse meu coração.
Mas parece que não adianta você ficar um mês, um ano, uma vida se escondendo. Ele vai te achar, de alguma maneira, não adianta. E você vai perceber que parecia melhor mesmo ficar com tudo organizado e quietinha na sua, mas no fundo, quando ele chega, quando você vê a bagunça toda no chão, nas paredes, no coração, percebe que era isso mesmo que estava faltando.
Mesmo assim, eu me sinto confusa, porque estava tão acostumada a organizar todos esses sentimentos, e de repente, eles não cabem em gavetas.
E o medo de ter que arrumar isso sozinha existe...
Mas existe também a outra metade, que sabe que se você não tivesse feito essa bagunça toda, talvez eu não teria me achado de novo.
Porque as vezes é preciso jogar tudo no chão, pro ar, pra poder achar aquilo que tava ali, amarrotado entre as roupas, perdido nas gavetas, esquecido com os sabonetes que a gente põe no fundo das gavetas pra dar cheirinho as roupas.
Eu pensei que quisesse uma cômoda pro meu coração. Eu pensei que quisesse organizar a bagunça que você fez.
Pensei tanto e no fim eu percebi que com cômoda ou sem cômoda, com bagunça ou sem bagunça, no fundo, eu só queria mesmo você.




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