segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Sobre seis bilhões de pessoas no mundo, sapatos e pés descalços

Lembro-me bem do dia em que, sentada na mesa do distante apartamento em São Bernardo, frente a um prato com míseros restos de um yakissoba a la China Inbox que havia sido devorado com a ferocidade alimentícia que me era familiar naqueles tempos, ela me dizia a frase que eu tatuaria na minha testa, escreveria no meu espelho e estamparia no coração:
" Gabi, seis BILHÕES de pessoas no mundo! Sabe, seis BILHÕES, não é possível que precisa ser aquela!Não é possível que a gente vá passar o resto da vida sofrendo por aquela!".
Ela estava certa. Na hora que ela disse, senti um choque, um baque. E é claro que não fiz disso a resolução da minha vida em apenas dois dias.
Mas essa frase, dita entre lombinho com alho, biscoitinhos da sorte e confissões de duas amigas que muito se parecem, mudou minha maneira de encarar o mundo.
Eu repetia sempre "ninguém é insubstituível". Mas eu não acreditava muito no que eu falava. Falava porque queria me convencer daquilo, por mais impossível que parecesse no âmbito amoroso o qual eu me encontrava.
Confesso que passei 2012 digerindo essa famigerada ideia que eu insistia em compartilhar, mas não acreditava num todo. Lá no fundo eu tinha uma sensação meio amarga de que certas feridas nunca virariam cicatrizes. Mas nada como o tempo, a compreensão e os novos hábitos.
Passar 2012 digerindo isso implicou numa certa reclusão amorosa. Distante, eu queria entender esse conceito de Seis Bilhões de pessoas que me rodeavam.
Você, caro leitor, que é sedento por uma bela bunda no calçadão da praia e que só vê peitos em vez de cérebro, vai se deliciar pensando nisso. E por um certo lado, você está coberto de razão. Existe uma infinidade de bundas, peitos mas sobretudo, corações, sorrisos, gargalhadas, toques, cheiros para serem descobertos além daquilo que já conhecemos. Eureka!
Hora de guardar os velhos cadernos. Hora de comprar um novo, com aquele cheiro gostoso que só coisa nova tem. Não menosprezemos os antigos, só sentimos necessidade do novo. Porque virar a página de um mesmo caderno não adianta. Tem que se reinventar!
Sabe, não precisa ser aquele. Numa comparação esdrúxula, você não precisa ser tão teimosa como quando vai comprar um sapato e se não tem o seu número, você faz bico, manha, birra e roda a cidade atrás do maldito sapato. E diz pra si mesma " Se não for aquele, não quero nenhum!"
Você olhou na vitrine para ver quantos modelos tem além daquele maldito sapato? Pare de se concentrar num sapato que não serve em você. E não queira servir em alguém a qualquer custo. Eu sei que comparar as pessoas com sapatos pode não ser muito emocionante nem agradável da minha parte, mas tenho certeza que deu pra entender.
Acho que mais do que isso, não adianta insistir em sapatos quando a gente não sabe andar descalça.
É uma questão de auto-conhecimento, que vem antes de qualquer Felizes Para Sempre que possamos supor.
Eu escrevi esse texto, pensando em tudo isso, nessa minha mudança e pensando em você, que tá aí, brigando com Deus, com o mundo porque um sapato não te serve. Hey, colega, eu já fui assim sabe...
É claro que a gente acha que vai morrer quando termina uma longa/intensa relação, é claro que a gente acha que ninguém mais vai nos fazer sorrir nessa vida como aquele malfadado Loubotin vestido num corpo de homem que você quer esquecer.
Mas deixa eu contar uma coisa pra você: passa. Vai passar, pode ter certeza.
E quando você perceber, aceitar e sentir no seu coração que passou, quando você se conhecer melhor, sentir segurança em andar descalça, vai sair por aí, pensando nas seis bilhões de Hawaianas, Congas, Crocs e o que mais for que vivem por aí, cheia de coisa interessante pra te contar, te mostrar ou até, quem sabe, encontrar um belo par de pés descalços que vai  caminhar ao teu lado na praia, fazendo pegadas na areia, sentindo a água gelada do mar numa manhã feliz, enquanto o Sol renasce todos os dias pra nos dizer com mais simplicidade e pureza de que todo dia é dia de renascer.





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