quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Nunca mais

Eu vi nos olhos dela a verdade. Ela não queria me deixar, mas sabia que eu não faria nada pra fazê-la ficar. E eu realmente não fiz. Tinha uma venda sob meus olhos que me fazia acreditar que eu não a amava.
Então ela me deu as costas e nem doeu tanto assim na hora, nem nos primeiros e segundos dias. Eu não queria me prender a ninguém naquela época mesmo, foi indolor nos primeiros dias.
Mas no dormir e acordar, expecionalmente no dormir sem ouvir a voz dela tão carinhosa me chamando de "Amor" e me desejando todas as coisas boas do mundo, um vazio começou a tomar conta de mim.
E quando o álcool me subia a cabeça nas sextas e sábados meu corpo dormente sentia falta do corpo dela e meu coração sozinho começou a sangrar. A falta dela começou a me consumir dia após dia. O meu medo de ficar sozinho, que antes de conhecê-la já era bastante grande, duplicou. Porque o medo não era tão somente de ficar sozinho, mas não tê-la nunca mais.
E quando todos esses pensamentos me acometiam o estômago, os rins e a garganta, eu pensava que eu a tive de todo o coração e eu a deixei ir.
Eu passei a ver nossas fotos todos os dias, mas eu não tinha coragem nem palavras pra fazê-la voltar. Eu sabia que eu não a merecia e sabia, desde que ela se foi, que eu iria me arrepender um dia de não tê-la amado como ela merecia.
O ciúme de pensar que outro poderia estar ouvindo a risada dela e admirando aqueles olhos tão grandes e vibrantes me envenenavam. Pensar que ela já poderia ter me esquecido, que o "eu te amo" que antes era só meu poderia pertencer a outra pessoa me deixava perturbado.
Não existe nada pior que se ver na iminência de perder alguém, não fazer nada para impedir isso e ter a certeza que essa falta de iniciativa e de amor vai lhe custar todo seu organismo e sua paz no futuro.
O fato de não encontrá-la nos lugares onde eu ia doía ainda mais. E consumido por esse amor vagabundo e arrependido, eu fui umas duas ou três vezes até a rodoviária pra ver ela chegar. Não tive coragem de descer do carro. Quando eu a vi, um filme passou diante dos meus olhos. O sorriso, a sinceridade ao dizer que me amava, o choro doído de quem não é amada, de quem se esforçou o tempo todo pra que não tivessemos um fim, a cor dos cabelos, as unhas bem feitas e que eu cismava em irritá-la porque ela não sabia fazê-las sozinha, o jeito que ela me olhava depois do amor, a pele macia, as coisas engraçadas que ela falava quando estava meio dormindo, meio acordada. Todos aqueles momentos que eu joguei no lixo como se fosse algo descartável e agora, eu daria minha vida toda pra ter esses momentos de volta. Eu morreria e nasceria de novo pra viver com ela.
O que me partia o coração ainda mais era pensar que fui rude com ela, que fui grosso, desatencioso, que fui indiferente e que certas vezes ela sentiu-se desprezada por mim. Doía muito pensar no quanto eu a magoei, que fui insensível e que não prestava atenção todas as vezes que ela ficava acordada até tarde só pra falar comigo depois.
Mas eu sabia que não podia voltar atrás. E no dia que eu decidi tomar coragem e fui atrás dela soube que ela estava de viagem marcada e ficaria dois anos na Espanha. Desde então eu nunca mais a vi, a não ser por foto. E a medida que a minha saudade dela aumenta, o meu arrependimento, dia após dia, consome cada pedaço que ainda falta do meu ser. A dor do remorso é a pior dor que se pode ter. É como uma doença terminal, que vai comendo cada pedacinho de alegria que ainda existe em mim. Muitas mulheres podem passar pelo meu caminho, mas eu tenho certeza que não saberei amar de novo como eu a amo. Eu jamais tinha amado de verdade até perdê-la. Triste foi a minha conclusão. Demorei demais pra perceber a candura daquela pessoa que tanto me amou. E agora, de tudo o que passou apenas me resta toda essa dor infinita e a dor maior das palavras que me dizem: nunca mais.

Um comentário:

  1. Ga,

    Quantos sintomas, hein? Reconhecimento é sentimento raro. O valor é parte do processo do fim...

    Uma pena, né? Conversamos...

    Um beijo!

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