quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Aquele olhar

Não era apenas o jeito de falar, mas como ele falava.
Não era o beijo, mas como ele beijava.
Ela sabia que bastava ele chegar e armar-se era inútil. Perdia o domínio de si, lançava-se como uma louca desvairada nos braços dele.
E ele fazia valer as loucuras dela. Sabia exatamente como deixá-la mansinha e ao mesmo tempo sabia como enlouquecê-la ainda mais.
Com aquele jeito de menino que só ele tinha ele sabia os lugares certos, o olhar certo de fazer querer a coisa errada.
Os ataques de ciúmes, as brigas, os murros que ela dava na parede, tudo aquilo ficava esquecido num canto do quarto junto com as roupas. E o tempo não existia.
Mas ela não era a única a perder as estribeiras. Ele sabia, não existia outra como ela. Com aquele jeito esbaforido de querer saber tudo, de perguntar o tempo todo, de garimpar a vida dele, ele sabia que o silêncio dela vinha com sabor de vinho tinto e meia luz.
Não precisavam de títulos, enfeites, de nada. Envolviam-se por vontade própria, sem obrigação de nada. Só pelo simples fato de quererem, ardente e intensamente, um ao outro.
Eram testemunhas de si mesmos, e a maior prova disso tudo se dava num olhar. Quando o silêncio era a magnânimo, dava pra ouvir as batidas aceleradas dos corações e eles entravam um no mundo do outro por meio daquele olhar. Aquele que passeava o lado mais intimista de cada um, sem dizer nada, sem perguntar, questionar, ou afirmar.
Não era um olhar qualquer, não é o olhar de quem se olha quando se gosta, apenas.
É o olhar profundo, que quebra todas as barreiras, que é mal educado com as convenções e ao mesmo tempo gentil e sutil. Que entra devagar, mas ao mesmo tempo tira tudo do lugar, transforma.
O olhar de quem se gosta é pouco diante deste. Porque este é o olhar de quem se entende, de quem se quer, de quem sente. O olhar de quem se reconhece dentro do outro, e ao mesmo tempo aceita e adora as diferenças e os defeitos.
Um olhar mais íntimo e calmo. Tranquilo como uma tempestade, envolvente como o canto de uma sereia.
Um olhar....
Aquele olhar....

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