sexta-feira, 18 de março de 2011

Sábado, 5h38

Ela tinha bebido demais e já estava andando sem saber pra onde ia. Mal podia se equilibrar no próprio salto. Na verdade não podia se equilibrar na corda bamba da própria vida.
Ela saiu daquele lugar sozinha, sem ao menos se importar se sua roupa chamaria atenção demais áquela hora na rua. Andava contra o vento, com a última garrafa de cerveja na mão. Não sabia onde estava indo, mas o destino sabia para onde levá-la.
Ele, em contrapartida, tinha saído de casa pra comprar alguma coisa pra comer. Tinha acabado de chegar do trabalho, estava exausto e não tinha nada na geladeira.
Quando seus olhos a viram ele imediatamente parou o carro.
- Lola!
Ela parou e com o olhar baixo, tentou identificar quem era.
- Lola, vem aqui.
Ela aproximou-se do carro.
- O que você tá fazendo a essa hora sozinha na rua?
- Não sei...
- Entra aí, eu te levo pra casa.
- Não quero ir pra casa. - e saiu andando.
- Lola! Vem cá!
Ela parou e olhou de novo.
- Vamos dar uma volta então.
Ela continuava olhando pra ele. Ele desceu do carro. Pegou uma blusa no porta-malas , chegou perto dela, cobriu suas costas e seus ombros, e levou-a até o carro. Ela apenas seguiu os movimentos dele.
Ele deu partida no carro sem questionar muito. O cheiro de cerveja já explicava muita coisa.
- Tá com fome?
- Acho que sim.
- Vamos comer alguma coisa?
- Mas eu não quero descer em lugar nenhum.
- Tudo bem.
Ele passou numa padaria, pediu pra ela esperar no carro. Quando ele voltou, ela dormia. Ele sorriu sem perceber. Ela era mesmo muito linda.
Levou-a para seu apartamento.
Acordou-a chegando lá.
- Vem, Lola.
- Onde eu tô?
- Na minha casa, vem.
- Tá.
Ela desceu abraçada nele. Apesar do cheiro de cerveja o perfume dela era estonteante.
Subiram e ele sorriu.
- Vem comer.
- Tá bom.
Sentaram. Estavam comendo quando ela disse.
- Tá passando...
- O que?
- Minha bebedeira.
- Ah é? - ele riu.
- É...
Pausa.
- Que bom que você me achou, nem sabia pra onde eu estava indo.
- Você é doida de sair sozinha na rua desse jeito.
- Você é lindo.
Ele corou.
- Não, não estou dizendo isso porque estou bêbada. Você é lindo mesmo.
- Você é linda. Até com essa cara de ressaca.
- Daqui a pouco vai amanhecer, preciso ir embora.
- Você disse que não queria ir pra casa.
Ele ficou quieta. Terminou de comer, levantou-se e encolheu-se no sofá dele. Ele foi atrás e sentou-se ao lado dela.
- Que foi?
Ela não disse, só se aconchegou do lado dele e chorou baixinho.
Ele não falou, apenas abraçou-a, aconchegando-a ainda mais, enquanto passava a mão pelos cabelos dela.
- Independente do que esteja acontecendo com você, vai ficar tudo bem, tá? Se você quiser conversar, pode se abrir comigo.
- Eu não sabia pra onde eu estava indo, mas agora, com você perto de mim desse jeito, eu tô começando a achar que foi um anjo que me guiou até você e você até mim.
Ele abraçou-a, beijou os cabelos dela.
- Acho que foi Deus mesmo. - ele disse.
Ela dormiu no colo dele. Mas ele não conseguia dormir. Uma estranha força não o deixava tirar os olhos dela. E mesmo com a maquiagem borrada e o cheiro de cerveja, a cada minuto ela parecia ficar mais bonita, e as cores nela pareciam estar mais vivas. Ela era mesmo muito linda.
Algo crescia dentro dele e foi tomado de uma profunda paz. Fechou os olhos e adormeceu. O sono mais tranquilo de sua vida. Nada poderia romper aquele instante. O instante onde o amor nascia. no sábado, às 5h38.

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